O elegante movimento imobiliário de origem tecnológica WeWork – que proporciona serviços, eventos gratuitos e a adesão a uma crescente tribo internacional – é o Starbucks dos espaços de coworking (trabalho partilhado). Com mais de 130 espaços em quase 50 cidades, tem 100 mil membros a trabalhar em 7 milhões de metros quadrados.
Jonathan Littman
Esqueça a tecnologia por um momento. Uma das start-ups mais financiadas do planeta está a travar um assalto à forma como e onde os seres humanos se juntam para ter a dominação digital total. Bem-vindos à americana WeWork, um elegante movimento imobiliário de origem tecnológica que está a lucrar com a tendência mundial em expansão de trabalhar de forma móvel em qualquer lugar e a qualquer hora.
Os fundadores da WeWork, Adam Neumann e Miguel McKelvey, atraíram capital de quase 5 biliões de dólares (cerca de 4,57 mil milhões de euros) para valorizar a empresa em cerca de 20 biliões (18 mil milhões de euros), superando o investimento obtido pela Airbnb. Os números são espantosos: mais de 130 espaços em quase 50 cidades, com 100 mil membros a trabalhar em 7 milhões de metros quadrados. Este é o Starbucks dos espaços de coworking (co-trabalho ou trabalho partilhado). Só em Nova Iorque a WeWork ostenta 38 localizações surpreendentes, de Soho a Midtown, de Brooklyn a Harlem, além de um WeLive em Wall Street – uma experiência de luxo na vida em comunidade.
São Francisco – cidade pioneira no co-trabalho e na revolução das incubadoras de tecnologia – acolhe nada menos que sete WeWorks com 9 mil membros (e vai abrir um oitavo espaço este verão). Cada um deles hospeda equipas das companhias Fortune 500, pequenas empresas e empreendedores (com cerca de 50% dos membros classificados como start-ups, bem acima da média nacional de 20% da WeWork). Os inquilinos são atraídos pela ideia do escritório pronto a mudar para, face à alternativa do desafio que é ter de montar um espaço do zero.
Corrida internacional ao coworking
A WeWork tem tanto dinheiro que parece não conseguir oferecê-lo rápido o suficiente. A empresa acaba de anunciar o programa “Creator Awards”, de 20 milhões de dólares, tendo distribuído os primeiros 1,5 milhões a 25 empreendedores em Washington (e tem eventos programados em Detroit, Austin e Londres para agora, para o verão, e mais no outono). A corrida para abrir espaços de co-trabalho e incubadoras de tecnologia – com todo o tipo de pacotes de incentivos, como os de sem nenhum compromisso, aluguer mês a mês, aulas gratuitas e workshops, acesso a mentores do setor, espaços para bicicletas, cabines telefónicas privadas, serviços de negócios, happy hours e muito mais – é uma corrida internacional ao topo deste segmento, e que tive a oportunidade de ver em primeira mão. Recentemente recebi, em São Francisco, Mao Daqing, cofundador da chinesa UrWork (por vezes referida como a WeWork da Ásia). Visitámos a Galvanize (campus de tecnologia, incubadora e laboratório de inovação corporativa), e o igualmente impressionante hub de tecnologia Swissnex. Mao esteve em São Francisco para fazer pesquisa de mercado no sentido de potenciar a sua bem financiada empresa (avaliada em 1 bilião de dólares), que está a expandir-se rapidamente e a explorar novos modelos na China. Para se ter uma noção da rápida evolução, estima-se que, só em Xangai e em Pequim, existam mais de 500 incubadoras e espaços de co-trabalho, um aumento exponencial face à mão-cheia que existia em 2015.
A WeWork fez uma primeira abordagem ao mercado tanto nos EUA como internacionalmente. A estratégia consiste em combinar uma incubadora moderna estilo-Millennials em espaços de escritórios renovados com o objetivo de atrair uma clientela mais ampla das empresas tradicionais e os trabalhadores cada vez mais móveis. Os escritórios da WeWork são uma boa amostra, com um visual de marca, limpo e polido – o chão em madeira, iluminação pendente, design industrial moderno, bem como vantagens tipo-start-up como mesas de pingue-pongue e matraquilhos, sofás e lounges confortáveis, cerveja e chá Kombucha à discrição. Estes detalhes são importantes. A qualidade e as operações nas incubadoras ou espaços de co-trabalho independentes podem ser intermitentes/irregulares. O bom aspeto da WeWork apela não só aos já estabelecidos-de-fato-e-gravata como às novas tecnológicas de maior dimensão à procura de hubs alternativos de trabalho para incentivar a colaboração e parcerias. Em São Francisco há empresas que estão a arrendar pisos inteiros da WeWork, e as companhias Fortune 500 utilizam os espaços para escritórios satélite (muitas vezes apelidados de micro-escritórios); a Amazon, por exemplo, ocupou um andar inteiro no novo edifício WeWork Embarcadero. O crescimento agressivo e o domínio da WeWork levantam uma questão interessante: será que vai continuar a ser “à frente” trabalhar nesta nova vaga?
As vantagens são muitas. Indivíduos, start-ups, pequenas empresas ou funcionários de grandes companhias podem aderir e começar a trabalhar de forma quase instantânea nos espaços da WeWork. Ser membro dá acesso a salas de conferência em todo o mundo, ideais para os executivos e comerciais em viagem. A empresa reúne os benefícios da standardização, a familiaridade e o conforto de saber como é e como funciona uma sala de conferência (móveis, AV, acessórios, etc.). Também estão incluídos recursos básicos de negócio – de WiFi, Ethernet, impressão, armazenamento de dados e até mesmo descontos de saúde, folhas de pagamento e Amazon Web Services, bem como eventos e aulas.
Porque é a WeWork tão valorizada pelos investidores? Os confortáveis gabinetes, muitas vezes com paredes de vidro – por cerca de 1.800 dólares por mês (cerca de 1650 euros) no caso de um escritório para duas pessoas na localização privilegiada de Transbay, em São Francisco, e os 450 dólares (à volta de 413 euros) por uma secretária em estilo comunitário – representam uma margem lucrativa. Os arrendatários pagam um pouco mais pelo que é comercializado como uma experiência superior e algum buzz. O modelo de concentração da WeWork – mais pessoas por metro quadrado – é compensado pela qualidade do design, o ambiente, os serviços, os eventos gratuitos e a adesão a uma crescente tribo internacional.
Mina de ouro de dados sobre como trabalhamos e vivemos
Entretanto, é expectável que a WeWork se expanda para negócios relacionados, o que já inclui o WeLive, o conceito de trabalhadores móveis em versão sénior. Localizado em Nova Iorque, apresenta estúdios a partir de pouco mais de 3.000 dólares por mês (cerca de 2750 euros), e quartos em espaços partilhados abaixo de 2.000 dólares (1830 euros). A empresa anuncia um “novo estilo de vida” construído com base na comunidade e flexibilidade: das “lavandarias que funcionam também como bares e espaços para eventos às cozinhas comunitárias, passando pelos decks no topo do edifício e banheiras de hidromassagem... a WeLive alimenta relacionamentos significativos”.
Ao cofundador Adam Neumann não falta ambição, tendo comentado uma vez em tom de brincadeira que a sua visão final é a WeWork Marte. Embora os céticos possam argumentar que a empresa está sobrevalorizada, e que um dia destes os gigantes do imobiliário podem “dar um apertão” à recém-chegada, o modelo WeWork parece uma máquina bem oleada, similar ao negócio do Starbucks. E embora nem todos adorem o Starbucks (ou o seu café) e a WeWork possa não ser o ideal para algumas start-ups e empreendedores (nem todos são fans da concentração), a standardização tem potencial para escalar, sobretudo numa altura em que o mundo corporativo se depara com os seus mais talentosos trabalhadores desejosos de sair dos desatualizados espaços.
A WeWork destaca cada vez mais o poder de conjunto e o momento de grande impulso pelo qual está a passar, sugerindo que os seus 100 mil membros podem lucrar ao aderirem a uma rede internacional de empreendedores, start-ups, pequenas empresas e companhias Fortune 500. E, claro, este movimento imobiliário também inclui a aplicação WeWork para que os membros possam “explorar toda a comunidade de criadores e empreendedores. Discutir ideias, encontrar ou listar oportunidades”. Adam Neumann apelida a WeWork de “plataforma” movida pela tecnologia: “os nossos membros estão a passar pela experiência com a WeWork através da app”.
A plataforma pode ter benefícios mútuos. Ao ser a primeira no mercado, escalando de forma rápida e aproveitando os biliões de capital necessários para uma rápida expansão, a WeWork está a reunir resmas de dados e a ficar com a noção de como se trabalha, colabora, cria – e, cada vez mais, vive. E, de uma forma habilmente concebida, pode ser por isso que esta experiência está avaliada em 20 biliões de dólares (18 mil milhões de euros) e mais.
02-05-2017
Nota: Tradução do artigo de Jonathan Littman originalmente publicado no hub de inovação SmartUp.life, que reúne textos sobre empreendedorismo e inovação.
Jonathan Littman, professor de inovação e empreendedorismo na Universidade de São Francisco, é autor bestseller (contando, entre as suas obras, com “As 10 Faces da Inovação”, escrita em coautoria com Tom Kelly, CEO da IDEO). O também fundador do hub de inovação SmartUp.life e da Snowball Narratives promove sessões e workshops interativos sobre, entre outros conceitos, inovação, empreendedorismo e design thinking.