Lego, ou como criar Master Builders

Lego, ou como criar Master Builders
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Tal como os Lego, a vida traz peças com diferentes formas, assim como a habilidade e a criatividade para as combinar. Já a carreira pode ser vista como uma caixa, com peças e a possibilidade de as encaixar umas nas outras. Mas, tanto no plano pessoal como no profissional, há que acumular experiência, experiências e experimentação. 

Paulo Almeida 

A geração Millennial, apesar da sua “recente” existência, já deve ter sido responsável por mais textos com pensamentos e comentários que todas as outras gerações anteriores. E o aparecimento da geração Z traz ainda mais discussão para a mesa. Esta geração é, por vezes, caracterizada como sendo narcisista, desligada, egocêntrica, arrogante e com mais direitos que deveres. Contudo, são visões distorcidas e redutoras de quem pertence a uma geração anterior e procura uma forma de os compreender.  

Independentemente de opiniões e de estudos, uma coisa é certa: é enorme o impacto que os Millennials têm na forma de desenvolver talento nas organizações. Estes jovens movem-se pelo propósito e pelo significado por detrás daquilo que fazem: querem causar impacto e fazer a diferença. Preocupam-se com a forma como as empresas desenvolvem as pessoas e gostam de contribuir para a sociedade. Exigem feedback, oportunidade para crescer, reconhecimento e liderança. São inovadores e aprendem muito mais fora das salas de aulas que dentro delas. Defendem o seu espaço e o seu tempo, valorizam a flexibilidade de horários, de local de trabalho e o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, pois só assim podem dedicar tempo aos seus múltiplos lados B.  

Desde miúdo que gosto de brincar com Lego e uso-os várias vezes como analogia quando falo da vida pessoal e da vida profissional. Tal como neste jogo de construção, a vida traz as peças, com diferentes formas, assim como a habilidade e a criatividade para as combinar. Já a carreira pode ser vista como uma caixa, com peças e a possibilidade de as encaixar umas nas outras. Mas, tanto no plano pessoal como no profissional, há que acumular experiência, experiências e experimentação. 

A experiência é o conhecimento, são as hard e soft skills adquiridas através da formação e do trabalho. São as peças Lego e a habilidade para as combinar. As experiências são as situações vividas. São o como, o onde e o com quem. É aquilo que fica para trás, ou que nos preenche, ou nos move e alimenta a motivação. É o gozo de terminar um kit Lego com 5.000 peças ou visitar a Legolândia. A experimentação é a aplicação da experiência e das experiências nos nossos termos. É, muitas vezes, o ignorar das instruções que acompanham o kit e construir algo novo, à nossa imagem, pela nossa cabeça. 

A probabilidade de, ao fim de poucos anos, um Millennial querer procurar uma nova experiência é muito elevada. Esta busca pela novidade, crescimento e conhecimento caracteriza estes profissionais. Claro que nem todos irão querer sair ao fim de pouco tempo, mas o conceito de “serial employment” veio para ficar e é fundamental que as organizações aprendam a lidar com ele. Este é um dos grandes desafios que as organizações têm de enfrentar atualmente. 

Quem viu The Lego Movie (2014) já conhece o termo. Estes profissionais que querem construir o seu percurso são potenciais Master Builders das suas próprias carreiras de sucesso. As organizações que souberem criar um ecossistema capaz de potenciar e fazer crescer este novo tipo de profissionais – de lhes proporcionar experiência, experiências e experimentação – terão uma enorme vantagem competitiva, estando melhor posicionadas para atrair e reter o talento de que necessitam para desenvolver a sua atividade. E, quando um dia o colaborador crescer para além da empresa e partir para um novo rumo, será embaixador dessa realidade. 

06-04-2017


Portal da Liderança 

Paulo Almeida smallPaulo Almeida é senior manager e head da área de Tools & Innovation da Novabase Neotalent. 
Licenciado em Informática e Gestão de Empresas pelo ISCTE-IUL, iniciou o percurso profissional no suporte ao IT, web development, programação e R&D. Integrou a Novabase em 1999, onde começou por participar em projetos na área de business intelligence e analytics. No entanto as bases em tecnologia e gestão conduziram-no à área de negócio em que se encontra hoje – Novabase Neotalent – num trajeto que lhe permitiu descobrir que o seu propósito e motivação se encontram na ligação entre tecnologia, talento e negócio. Desde então aprende, desenvolve projetos e difunde conhecimento em áreas como talent acquisition, talent development, HR tech e business transformation. 
É ainda cofundador e dinamizador do site Pelo Rim, dedicado à doença renal. É fã de puzzles, Star Wars e, claro, de Lego.