O senhor eleito é autêntico. E, pelos vistos, o tradicional estilo de comunicação autêntica está, de novo, na moda. Os jornalistas portugueses gostam dele, e a grande maioria nomeou-o “Executivo Português Melhor Comunicador”. O distinguido é Alexandre Soares dos Santos, ex-presidente executivo do grupo Jerónimo Martins.
Sara Batalha
O nome pode ser curioso mas, mais importante que o nome será o porquê do nome. O que tem Soares dos Santos que os outros líderes não têm? Será que, para não sermos descontextualizados pelos media, os CEO de Portugal terão de seguir este perfil comunicacional? Revelará este uma tendência na formação de executivos para os Recursos Humanos?
Tive uma surpresa quando li os primeiros resultados das entrevistas que fizemos aos media portugueses (televisão, imprensa, rádio e online). Tudo começou por ser apenas uma curiosidade interna, e a informação seria exclusivamente para partilhar com os nossos clientes. Mas quando nos apercebemos da utilidade da mesma resolvemos partilhar alguns dos resultados consigo. Assim poderá aconselhar o seu CEO sobre o que gostam os jornalistas portugueses. Pelo menos, alguns deles. Boa ideia, não é?
Alguns pontos de partida (PP) e conclusões (C):
PP – Na perspetiva dos media portugueses, o que diferencia Soares dos Santos enquanto comunicador?
C – Tem um perfil de comunicação moderno: audience friendly e media friedly.
Primeiro descobrimos que, para ser considerado o “entrevistado ideal”, tem de ter as cinco características de comunicação mais referenciadas pelos media. Depois verificámos que, coincidência ou não, o empresário escolhido também as tem, e que até são bem visíveis em cada entrevista que dá. Por outro lado, não as encontramos com regularidade no perfil clássico do executivo português. Para dar conhecimento aos seus executivos, tome nota do top 5 das preferências:
- Conhecimento profundo dos temas abordados
- Fazer bons soundbites
- Ser congruente na sua comunicação verbal e não-verbal
- Ter uma boa voz
- Ter um bom controlo emocional durante a entrevista
PP – Se estas são as características que distinguem um entrevistado ideal, como se pode ser visto pelos media como um comunicador de excelência? E será este o perfil comunicacional a ter em conta?
C – Segundo os inquiridos, ser um comunicador excelente, só com treino. Os media admitem ser possível treinar características como a eficácia, a assertividade, a transparência e saber desconstruir o discurso.
Do nosso ponto de vista até se compreende: muitos dos executivos, oriundos de engenharia, gestão e economia, provavelmente não tiveram oportunidade de aprender e treinar estas características na universidade. E só nestes últimos cinco anos as soft skills começaram a estar mais “na moda” ou na lista de necessidades de desenvolvimentos dos RH.
PP – O perfil de liderança comunicativa revelará aos RH uma tendência na formação e desenvolvimento dos novos executivos portugueses?
C – Acredito que sim. Soares dos Santos soube adaptar-se e tem uma posição no mercado que lhe permite o estilo aparentemente natural.
Mas para o seu CEO ir ao encontro das expetativas dos jornalistas é importante conhecer e saber adaptar-se às tendências. E isso só se consegue com formação, treino e atualização regular. Felizmente, o diretor de RH já sabe disto há muito tempo. Só falta alguém dizer ao CEO que precisa de desenvolver a sua comunicação como desenvolveu as suas competências de gestão.
Depende de si. Quer que o seu CEO entre na corrida para o executivo melhor comunicador português?
12-04-2016
Sara Batalha, CEO da MTW Portugal (que integra a Media Training Worldwide Global, empresa de origem americana especializada em media training, public speaking e presentation training skills), recebeu formação em Nova Iorque pelo presidente da MTW Global, TJ Walker. Autora do método “desconstrução do discurso” (com o qual treina a comunicação de políticos, CEO, empresários e profissionais que querem influenciar através da sua comunicação), é certificada em coaching pela International Coaching Community, em DiSC 2.0 pela Inscape, e em micro expressões pelo Paul Ekman Group, aplicando esse conhecimento na especialização em communication behaviour profile analyst.
Acumula cerca de 20 anos de experiência em comunicação, tendo sido jornalista e coordenadora de redação por mais de uma década (“Expresso”, RTP1 e RTP2). Foi consultora de comunicação para agências e empresas, lecionou no CENJOR - Centro de Formação Avançada para Jornalistas, e é docente convidada em universidades do país. É ainda oradora frequente em conferências nacionais e internacionais, marcando presença nos media com análise política em linguagem não-verbal.