Portugal – sociedade favorável ou não ao empreendedorismo?

Portugal – sociedade favorável ou não ao empreendedorismo?
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Há ainda muita estrada por percorrer no país para promover e facilitar o empreendedorismo, mas temos de reconhecer que estamos no caminho certo.

Monica Milone

Sabemos que Portugal é um país de pequenas e médias empresas (PME) e, inevitavelmente, de empreendedores. Em 2015 as PME representavam 67% do valor acrescentado total, o que se traduz em quase 79% da empregabilidade total – um dado muito animador. É inegável que o empreendedorismo reflete a vitalidade da economia de um país: os empreendedores aumentam a competitividade, favorecem o crescimento económico, criam emprego e a modernização de diversos setores. E Portugal é um exemplo desta realidade. 

O Estudo Global de Empreendedorismo levado a cabo pela Amway em 2015 revela que apenas 16% dos portugueses consideram que a sociedade é favorável ao empreendedorismo. Não podemos dizer que é uma surpresa, visto que os estudos de 2014 e de 2013 já nos apresentavam esta conclusão. Apesar disso, há outros dados que nos mostram o lado bom da persistência dos portugueses: 57% dos inquiridos continuam a apresentar uma atitude positiva relativamente ao empreendedorismo, e há mesmo 39% que se imaginam a iniciar o seu próprio negócio. Quanto às motivações, são diversas, sendo a mais comum a possibilidade de “ser o próprio patrão”.

Outra conclusão muito positiva a reter deste estudo é a atitude da geração millennial face ao empreendedorismo. De entre estes jovens adultos com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, 61% veem com bons olhos a criação do próprio emprego e 45% imaginam-se mesmo a fazê-lo. Acredito que este indicador positivo pode dever-se à aposta no debate alargado da temática e na formação cada vez mais ampla em empreendedorismo que teve lugar nos últimos anos, nomeadamente em idades mais precoces. Outro fator que poderá ter contribuído fortemente é a alta taxa de desemprego em Portugal nesta faixa etária, sendo o empreendedorismo visto como uma oportunidade por muitos jovens. 

Apesar disto, não podemos ignorar o mau sinal transmitido pela sociedade, em que 84% dos inquiridos consideram que Portugal é um país hostil quando se quer empreender. No estudo global deste ano Portugal é o penúltimo deste indicador numa lista de 44 países, e este é um dado negativo que se repete desde 2013. É urgente mudar o panorama no que a isto diz respeito, pois a sociedade em que estamos inseridos condiciona largamente as nossas escolhas, e o empreendedorismo não é exceção.

Há ainda muita estrada por percorrer em Portugal para promover e facilitar o empreendedorismo, mas temos de reconhecer que estamos no caminho certo. O Governo e as instituições devem continuar a potenciar uma cultura empreendedora e a apoiar o empreendedorismo – não apenas por necessidade, mas também para favorecer a aparição e criação de novas oportunidades que os futuros empreendedores possam explorar. São necessários programas de empreendedorismo que promovam a atividade empreendedora através da educação, boas políticas de financiamento e segundas oportunidades, que ajudem o empreendedor que não teve sucesso na sua primeira atividade empresarial a aliviar a sua situação financeira, deixando de estigmatizar os negócios que não tiveram sucesso.

11-04-2016

 

MonicaMiloneMonica Milone, general manager da Amway Iberia desde outubro de 2014, desempenhou anteriormente funções na empresa de venda direta como corporate affairs manager na Amway Portugal, Espanha, Itália, Áustria e Suíça.
Licenciada em Ciência Política Internacional pela Universidade de Milão, faz parte do Comité Mulheres na Liderança, na Câmara de Comércio Americana, em Espanha. 
A multinacional americana Amway (que tem produtos de beleza, saúde e bem-estar) investe na formação de jovens empreendedores, e desenvolve desde 2008 o Relatório Global de Empreendedorismo, procurando compreender as motivações e receios da população neste âmbito.