Ser empreendedor não é ter um negócio. É um mito que importa rapidamente destruir. Para se ser empreendedor é preciso ter atitude, tomar iniciativa e correr riscos.
André Leonardo
Quando tinha seis anos tive o meu primeiro negócio, numa história que a minha mãe adora contar a todas as pessoas que vão lá a casa – vendi flores para comprar “gamas” (como apelidamos as pastilhas elásticas). Nos Açores grande parte das casas tem um quintal, geralmente com flores. O meu não fugia à regra. Então, e numa ânsia de comprar pastilhas elásticas com recheio que iam ser lançadas nos dias seguintes, arranquei as flores do quintal, fiz vários ramos e fui vender porta a porta. Ao fim de uma tarde tinha dinheiro para comprar uma caixa inteira de pastilhas. Hoje a minha mãe conta esta história no meio de gargalhadas mas, naquele tempo, o pior foi mesmo quando chegou a casa e viu o estado do quintal… acabou-me com o negócio e levei um raspanete daqueles! Mas hoje ri. Menos mau.
Desde esses dias que o bichinho por fazer acontecer nunca mais me largou. Vendi queijos porta a porta, CD gravados aos amigos, organizei eventos internacionais… dei até uma volta ao mundo a falar com empreendedores!
Ao longo destes anos tenho-me apercebido de que há uma imensa confusão sobre o que é “ser empreendedor”. Assim, tento agora explicar a minha visão “da coisa”:
Ser empreendedor não é ter um negócio. Sim, eu sei que foi esta a ideia que vos passaram, mas é uma ideia errada. É um mito que importa rapidamente destruir. Nem todos aqueles que iniciam um negócio são empreendedores, nem todos aqueles que são empreendedores “têm negócios”. Para se ser empreendedor é preciso ter atitude, tomar iniciativa e correr riscos... Não é preciso ter um negócio!
Ser empreendedor implica:
1) Ser proativo/ter atitude. Ser alguém que, naquela discussão do copo meio cheio ou meio vazio, não perde absolutamente tempo nenhum. Antes se preocupa em encher o copo!
2) Inovar. Tem de, no seu projeto, no seu negócio, na sua vida, introduzir algo “novo”. Não precisa de inventar a roda, mas tem de ser alguém que faça coisas novas, que abra novos caminhos, novos processos, seja a nível mundial, seja a nível local.
3) Correr riscos. Os empreendedores têm de ter a capacidade de assumir riscos. Ser empreendedor implica, entre outras coisas, correr riscos e ter a capacidade de os gerir. E no fundo o risco que o empreendedor corre é o de a sua iniciativa, seja ela qual for, não ser aceite pelo mercado/comunidade, e o de, portanto, não ser bem-sucedido.
Dito isto, podemos ser empreendedores criando um negócio. Podemos ser empreendedores inseridos numa organização (o nome técnico da coisa é “intraempreendedor”, aquele que toma a iniciativa de criar, inovar, agir e procurar novas oportunidades para a organização na qual trabalha – cada vez mais precisos e necessários nas empresas e procurados no mercado de trabalho).
Por fim, podemos ser empreendedores e fazer acontecer na nossa vida, nos nossos projetos pessoais. Vejam o meu caso: realizei a expedição à volta do mundo, não criei um negócio, não trabalhava para ninguém… foi claramente um projeto pessoal, mas para lá chegar e para o conseguir tive de ser empreendedor.
Gosto sobretudo de pensar que ser empreendedor é tão simples como ser alguém que “faz acontecer”. Um indivíduo pró-ativo, que corre riscos, que inova a cada passo e que concretiza, seja onde e em que situação for. Ser empreendedor é, para mim, um estilo de vida e uma forma de estar.
Esta é pelo menos a minha visão.
23-02-2016
André Leonardo nasceu em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, Açores. Mestre em Gestão pelo ISCTE-IUL, é especializado em empreendedorismo e criação de empresas. Palestrante e consultor, dedicou-se a desenvolver projetos para promover o espírito empreendedor em Portugal e no mundo. Autor de “Faz Acontecer” – livro onde apresenta histórias inspiradoras com as quais se foi deparando numa viagem em que percorreu 126 mil quilómetros distribuídos por 23 países – o açoriano de 24 anos deu os primeiros passos no empreendedorismo aos seis, idade com que montou o seu primeiro negócio: a venda de flores porta a porta. Em 2011 e 2012 organizou eventos internacionais para centenas de pessoas na Ilha Terceira. Criou também o movimento motivacional Be Bold, gerou milhares de euros para diversos propósitos sociais, ajudou empreendedores a iniciarem os seus negócios e falou com mais de duas centenas de empreendedores e CEO de topo nas suas expedições. Hoje, além de ser promotor de vários negócios, não dispensa “começar projetos do zero, inovar, aprender com os erros, inspirar”, deixar-se “inspirar e, acima de tudo, fazer acontecer”.