Como a “visão” e a “execução” determinam o sucesso – Camilo Lourenço

Como a “visão” e a “execução” determinam o sucesso – Camilo Lourenço

A “visão” costuma ser apresentada como a questão central para o sucesso de uma empresa. Sem ela a empresa não sabe para onde vai. 

A História está cheia de exemplos de empresas com excelente “visão”. Mas curiosamente algumas dessas empresas, ou produtos que lançaram, jazem tranquilamente nos cemitérios. Porquê? Porque falhou a “execução”. Veja o exemplo da Microsoft e da Apple. Esta semana o “The Wall Street Journal” dizia que a Apple, confrontada com uma queda na venda de iPads começou a cortejar as empresas para fazerem deste tablet um instrumento de trabalho. A ideia é excelente: há empresas cuja atividade ganharia muito pelo facto de os seus funcionários poderem potenciar a mobilidade. O problema é que outras empresas já tentaram isto no passado… 

Rewind: Ano – 2002. Bill Gates, rodeado dos CEO de cinco dos mais importantes fabricantes de PC (laptops) apresente, no Millennium Broadway Theatre, em Times Squarece, o “tablet computer” (que usava o sistema operativo Windows XP). Sentado na plateia o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi: Como é que este tipo consegue reunir num palco os responsáveis dos cinco maiores fabricantes de laptops? Provavelmente porque eles acreditam que este vai ser mais um sucesso da Microsoft… 

O futuro mostrou que a aposta da Microsoft foi um “flop”: o “tablet computer” nunca vingou. E a empresa até apostara na utilização empresarial do aparelho. Ou seja, ele não era vendido como um mero “gadget”, mas como um instrumento de trabalho para equipas para quem a mobilidade era uma questão fundamental. O que falhou? Na altura avançaram-se muitas explicações, desde o preço até à autonomia da bateria, passando pelo peso… Estou convencido que nenhuma delas explicava totalmente o fiasco. 

O próprio Bill Gates, mais tarde (em 2012), deu a sua explicação: "(Steve Jobs) did some things better than I did. His timing in terms of when it came out, the engineering work, just the package that was put together. The tablets we had done before, weren't as thin, they weren't as attractive." Ou seja, falou o “timing” de lançamento de um produto mas, sobretudo, falhou o marketing (o “package”). 

Por outras palavras, alguém na Apple percebeu aquilo que a Microsoft não entendera: a forma como se vende um novo produto pode fazer toda a diferença. Este “track record” de sucesso da Apple é suficiente para garantir que a aposta do iPad no segmento empresarial vai correr bem? Não. Aliás, a empresa começa a mostrar alguma dificuldade em manter esta trajetória de sucesso. Como as vendas do iWatch têm vindo a mostrar…

Seja como for, a história do “tablet computer” é um belo exemplo de como uma boa ideia, resultante de uma “visão” apurada, pode não se revelar um sucesso comercial. E é um bom exemplo de como quem chega depois pode pegar num fracasso e transformá-lo num estrondoso êxito. A “execução” pode, de facto, fazer toda a diferença.

 


Camilo-Lourenço-FotoNovaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.