Tempos de incerteza: 3 formas de ativar uma liderança responsável

Tempos de incerteza: 3 formas de ativar uma liderança responsável
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O panorama da liderança global mudou de forma radical nas últimas duas décadas, e os novos desafios levam a que os líderes tenham de adotar uma série de novas competências e abordagens para liderar de forma responsável. E já há quem as tenha adotado e esteja a implementar.

Há 20 anos os líderes enfrentavam desafios colocados pela globalização, pela incerteza económica e pela ascensão das tecnologias digitais. Hoje o mundo lida com uma nova série de desafios e oportunidades que exigem uma liderança responsável e decisiva; e os líderes defrontam uma rede complexa de crises interligadas, das alterações climáticas à disrupção tecnológica, da desigualdade social às tensões geopolíticas.

O Barómetro de Cooperação Global 2024 (Global Cooperation Barometer 2024) do Fórum Económico Mundial sublinha os desafios específicos na promoção da colaboração global, e argumenta que é necessário revitalizar a cooperação para promover a resiliência, o crescimento e a segurança. Como resultado, os líderes de todos os setores são chamados a demonstrar novas competências, maior resiliência e uma liderança visionária para navegar nas atuais complexidades.

O Forum of Young Global Leaders (YGL) de 2024, com mais de 80 Jovens Líderes Globais, reúne líderes que incorporam as qualidades necessárias para o futuro: adaptabilidade, resiliência e um compromisso firme em impulsionar mudanças positivas; capacidades essenciais para que possam navegar de modo eficaz nos desafios complexos do nosso tempo. Provenientes de diversos cantos do globo, estes líderes já estão a fazer progressos significativos na abordagem de questões prementes. Juntos, enfrentam um amplo espectro de desafios, desde a escassez de água à disparidade de género.

Com estes imperativos em mente, existem três abordagens principais que os líderes devem adotar para enfrentar as questões do séc. XXI:

1. Promover abordagens multi-stakeholders
Ao adotar abordagens multi-stakeholders, os líderes de hoje têm o potencial de gerar um impacto transformador e moldar um futuro mais inclusivo e sustentável. Os líderes devem reconhecer que enfrentar desafios complexos requer colaboração e alinhamento entre as diversas partes interessadas. Ao envolver ativamente todas as partes relevantes, os líderes podem explorar uma grande variedade de perspetivas e de recursos para impulsionar mudanças impactantes.
Na comunidade YGL há inúmeros exemplos de líderes de diversas origens que se unem para causar impacto real. Por exemplo, os americanos Jessica Jackson e Jared Genser uniram a sua experiência na reforma da justiça criminal e em defesa jurídica para acabar com o encarceramento em massa. Ao mobilizar o apoio internacional e defender os direitos humanos, exemplificam o poder da colaboração multilateral na concretização de mudanças sistémicas.

2. Aplicar pensamento sistémico
No nosso mundo interligado, os líderes devem adotar uma abordagem holística para a resolução de problemas. Ao compreender a inter-relação dos problemas e as possíveis consequências, os líderes podem priorizar soluções que beneficiem sistemas inteiros. Por exemplo, a empresária franco-britânica nascida no Senegal Lady Mariéme Jamme fundou o iamtheCODE, um movimento global que procura que 1 milhão de raparigas codifiquem até 2030, com o objetivo de abordar a falha sistémica da desigualdade de género na tecnologia.
Com o apoio de multinacionais e universidades, deu formação e orientou milhares de raparigas todos os anos em áreas desfavorecidas em África, na América do Sul e no Médio Oriente. Da mesma forma, a francesa Diane Binder, CEO da Regenopolis, uniu forças com o programa 1t.org do Fórum Económico Mundial para lançar a Aliança para a Great Green Wall (Grande Muralha Verde). Este ambicioso projeto está a ser implementado em 22 países africanos para restaurar 100 milhões de hectares de terras degradadas, sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono e criar 10 milhões de empregos verdes até 2030. Através de projetos transformadores como estes, os líderes demonstram o potencial do pensamento sistémico para impulsionar soluções sustentáveis e equitativas.

3. Construir pontes
Numa era marcada pela polarização e pela divisão, os líderes devem esforçar-se por construir pontes e promover a unidade. A comunidade YGL incorpora este espírito, com membros a trabalhar de forma ativa para promover a inclusão e o sentimento de pertença.
Por exemplo, desde que ingressou na comunidade, Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, tem vindo a organizar uma série de hackathons que reúnem os YGL e os Global Shapers para a partilha de perspetivas sobre questões cruciais, explorar as suas realidades, ferramentas e esforços contínuos para promover a equidade.
Da mesma forma, Lisa Witter, Robyn Scott e Daniel Sachs cofundaram a Apolitical Foundation para trazer a liderança política para o séc. XXI através de um movimento apartidário mundial. Até à data, ajudaram a acelerar 17 Incubadoras de Liderança Política em 36 países. Num mundo de crescente desconfiança por parte do público, os esforços da Apolitical Foundation para facilitar o diálogo, a partilha de conhecimento e o desenvolvimento de capacidades são cruciais.

22-05-2024


Portal da Liderança

Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para a Global Agenda por Ida Jeng Christensen, head do Forum of Young Global Leaders, do Fórum Económico Mundial.