A história que une as duas nações, a vertente linguística, as semelhanças culturais e a identidade dos respetivos sistemas jurídicos são, sem dúvida, fatores de inqualificável valor que aproximam Angola e Portugal, e que permitem aos agentes económicos portugueses (e vice-versa) abordar o mercado angolano com uma confiança que outros agentes não têm.
No entanto, é precisamente esta confiança que, várias vezes, precipita o insucesso dos investimentos pois, não obstante as referidas vantagens, a verdade é que o mercado angolano não deixa de ter as suas próprias características e obstáculos, com os quais não é fácil lidar.
Desde logo, a grande dificuldade de um investidor estrangeiro é a definição da sua estratégia e posicionamento do seu negócio. Na verdade, confiante da sua capacidade e experiência, são raros aqueles que, numa primeira análise, reconhecem a necessidade de estruturar a sua entrada no mercado angolano através de uma parceria local. Na mesma medida, raros são também aqueles que, depois de conhecerem o mercado, desvalorizam a existência dessas mesmas parcerias.
A experiência, o know-how e a capacidade para investir são fatores determinantes para o sucesso de qualquer operação, mas, neste mercado, dificilmente serão suficientes se não estiverem bem apoiados em alguém que conheça as necessidades e vicissitudes do País.
Outra evidente dificuldade será a falta de mão-de-obra especializada que, inevitavelmente, leva à contratação de expatriados.
Sucede que, para além das reconhecidas dificuldades na obtenção de vistos de trabalho para trabalhadores estrangeiros e do facto de a própria legislação angolana favorecer claramente a contratação de trabalhadores nacionais, dificilmente se conseguirá estruturar, de forma sustentável, qualquer investimento com recurso unicamente a mão-de-obra estrangeira.
Por este motivo, a formação intensa de quadros angolanos é uma solução incontornável e uma das premissas básicas para qualquer investidor.
A estas dificuldades juntam-se muitas outras, como os custos elevados de qualquer operação, a burocracia associada a qualquer processo de licenciamento e até o trânsito, totalmente imprevisível, que leva ao cancelamento diário de compromissos assumidos.
Mas, em última instância, muito mais do que ler sobre Angola ou falar sobre este País, só conhecendo in loco todos estes obstáculos é que um investidor conseguirá medir os seus riscos e estar minimamente apto a entrar no mercado, obviamente consciente de que, a par de todas estas dificuldades, encontra-se os inegáveis benefícios de se investir numa economia pujante que tão bem recebe o povo português.
Em todo o caso, não se poderá deixar de advertir todos aqueles que olham para Angola como a solução para os seus problemas financeiros: desenganem-se e pensem duas vezes antes de comprar um bilhete de avião pois, por mais necessidades que tenha, este mercado não está talhado para investimentos remediados.
João Robles, licenciado em Direito em 2002 pela Universidade Lusíada de Lisboa, entrou na FCB&A em 2002, sendo Associado desde 2004. Integra os Departamentos de Direito Societário e Comercial e Direito Reais, Imobiliário e Construção. Em 2006, frequentou também o Curso de Pós-Graduação em Arrendamento Urbano, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em 2008, frequentou também o Curso de Pós-Graduação em Direito Comercial, na Universidade Católica Portuguesa.