A liderança hands-off funciona? – Camilo Lourenço

A liderança hands-off funciona? – Camilo Lourenço

Utilizemos um exemplo do mundo do futebol: o Arsenal. O clube de Londres joga na Premiership e é dirigido pelo francês Arsène Wenger que, ao contrário dos seus pares, não diz aos jogadores o que quer que eles façam. 

Camilo Lourenço

Há muitos estilos de liderança. Provavelmente tantos quanto o número de gestores… Com isto quero dizer que as lideranças são muito marcadas pela personalidade de quem ocupa determinados lugares nas organizações. No entanto, é possível encontrar traços comuns que ajudam a definir tendências. Vamos recorrer a um exemplo do mundo do futebol, um setor pelo qual nutro especial interesse (como o leitor já deve ter percebido): a liderança do Arsenal. O clube, de Londres, joga na Premiership (1.ª divisão do futebol inglês) e é dirigido pelo francês Arsène Wenger.

Arsène está no clube desde 1996, aonde chegou vindo do Nagoya Grampus Eight, do Japão (passou também pelo AS Monaco). Nestes quase 20 anos à frente do clube ganhou o campeonato inglês por três vezes, a Taça da Liga por seis e a Supertaça por seis vezes também. Como julgar a sua gestão?

Num documentário recente, Patrick Vieira, um renomado centro campista que passou pelo clube (e pela seleção francesa) dizia o seguinte sobre a gestão de Wenger: “Ele confia nos seus jogadores. Tenta sempre que o jogador tome a decisão certa; não lhe diz o que espera que ele faça, ou o que quer que o jogador faça”. Ou seja, Wenger é totalmente diferente dos treinadores convencionais: interventivos e controladores, ao ponto de tentarem moldar os jogadores ao papel que pensaram para eles. Veja-se José Mourinho, por exemplo…

Pergunta: este estilo de liderança funciona? Não conheço outra forma de avaliar isso senão olhando para os resultados. Em 15 anos à frente do clube, Arsène nunca ganhou a Premiership. E nunca chegou, sequer, a uma meia-final da Champions League. Não é, digo eu, uma “performance” de arregalar o olho… 

Como explicar este “falhanço”? O Arsenal é um dos clubes ingleses com maior poderio financeiro. Não só por ter uma grande base de fãs e sócios, mas porque conta com um patrocinador de peso: a Emirates. O estádio do clube tem o nome “Emirates”, o logo da companhia aérea está nas suas camisolas… Isso tem permitido ao clube contratar estrelas de renome mundial, como o próprio Vieira e, mais recentemente, Robin Van Persie (que transitou do Manchester para Londres). Apesar disso, o registo de vitórias de Wenger é muito modesto. Para não dizer… pobre.

O seu estilo de liderança terá alguma coisa a ver com isso? Veja o que diz Vieira sobre Arsène (no tal documentário): “That (o não dizer aos jogadores o que têm de fazer em campo) can be a weakness as well”. Bingo!

23-10-2015

 


Camilo-Lourenço-FotoNovaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e a University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal.