Christine Lagarde, Diretora do FMI, referiu em entrevista à Forbes que "é importante que os líderes do país reconheçam e encorajem as mulheres a acederem ao mercado de trabalho" e que acredita que "as mulheres são mais adversas ao risco que os homens", pelo que na liderança "a combinação de homens e mulheres é vantajosa".
Moira Forbes (MF): Tem sido uma defensora dos direitos das mulheres e das suas qualidades, não só em assuntos sociais, mas também ao potencial poder económico das mulheres no mundo. No entanto, diz que não estão a fazer as coisas o suficientemente rápido para que se consiga acelerar o progresso. Quem é que acha que nas nações desenvolvidas precisa mais de ser convencido e o que não estão eles a ouvir?
Christine Lagarde (CL): Penso que é um assunto que atinge todas as economias. É um assunto para as economias avançadas, especialmente para algumas delas. É também um grande problema para os mercados emergentes e os países em desenvolvimento. Em termos das economias desenvolvidas, diria que as mulheres têm tido grandes progressos: são melhor representadas e estão mais envolvidas na economia, na política e na vida social. Consideremos o caso de um país que eu conheço razoavelmente bem, porque estudámo-lo com cuidado – o Japão. O Japão tem mulheres muito bem-formadas e brilhantes. Ainda assim, estão atrás de outras mulheres em termos de mercado de trabalho. Para uma economia onde a população está a envelhecer, seria uma pena não reconhecer a contribuição que a mulher pode fazer para a economia, em todas as áreas. Acredito que possa ser acelerado com um pouco de avanço ao nível das infraestruturas porque, por exemplo, a questão das crianças precisa de ser resolvida com melhores creches. Também é um assunto cultural e é importante que os líderes do país reconheçam e encorajem as mulheres a acederem ao mercado de trabalho.
MF: Falou também das diferentes qualidades de liderança que uma mulher tem em comparação com o homem, e em particular nas organizações de risco, especialmente em instituições financeiras. Quais as qualidades de liderança que as mulheres de hoje têm que adotar dos homens?
CL: Já fui apanhada a dizer que não teria havido um Lehman Brothers se tivessem havido mais mulheres entre esses homens. Esse é parte do problema. A diversidade, a mistura de visões, os debates, são, geralmente, forças positivas e, geralmente, conduzem mais há estabilidade do que um mundo de apenas de um sexo. O pensamento coeso começa a tingir a imagem. Em geral, penso que as mulheres são mais adversas ao risco que os homens. Não estou a sugerir que devemos eliminar o risco. Penso que este deverá ser calibrado e que deverá ter um preço. O risco faz parte da vida. Ter um pouco de adversidade ao risco, juntamente com um pouco de atitude pró-risco é uma boa mistura, a qual acho que conduz a uma maior estabilidade. Quanto à liderança, é a diversidade resultante da combinação de homens e mulheres que é vantajosa. Não quero generalizar e assumir que os homens são do tipo A e que as mulheres são mais inclusivas e mais consensuais. Existe um pouco disso, podemos admiti-lo. Já estou neste mundo há algum tempo para concluir que há um pouco dos dois sexos, mas provavelmente existe um vertente humana mais forte com as mulheres. Por todo as razões históricas e biológicas.
MF: É alguém que ascendeu e que construiu uma carreira extraordinária numa área dominada pelos homens. Como é que o facto de ser mulher influenciou a sua carreira, tanto nos desafios que foram criados, como nas oportunidades?
CL: Ter vivido a minha infância. Eu vivi com mulheres extraordinárias, tanto a minha avó como a minha mãe. O meu pai faleceu quando eu tinha 16 anos e a minha mãe teve que enfrentar os problemas associados uma grande família, com um único ordenado e de educar-nos de forma a crescermos com muita cultura, civilização e amor à nossa volta. Fui testemunha de uma mulher que, sozinha, conseguiu educar uma família e conseguia fazer tudo o que era necessário. Montava a cavalo, era professora, mãe e piloto de carros. Foi uma modelo extraordinária para mim e acho que foi isso a base para eu construir e ter a confiança suficiente para fazer as coisas que pensava serem as corretas.
MF: Falou sobre o sucesso numa entrevista que deu, de uma forma muito interessante. Disse que “O sucesso nunca está completo. É uma luta constante. Todas as manhãs tem de testar as suas capacidades uma vez mais”. Como é que conseguimos a motivação e a energia para lutar todos os dias?
CL: É algo natural, porque a vida é assim mesmo. É uma aventura extraordinária e todos os dias são um enorme desafio. Isto foi algo que obtive do meu pai. Ele costumava dizer “Não consideres nada como garantido” e acho que ele tinha razão. Todos os dias temos que nos por à prova, que nos convencermos a andar para a frente, que nos desafiar e questionar.
MF: Que conselho daria às jovens mulheres de hoje?
CL: Cerrem os dentes e sorriam. E face à adversidade, vai-te embora. Eles não te merecem.
Fonte: Forbes
Christine Lagarde, advogada e política francesa filiada no partido UMP, é Diretora do FMI, o cargo mais elevado deste organismo multilateral, em que é a primeira mulher a exercer essas funções. Foi Ministra das Finanças, Indústria e Emprego no governo do primeiro-ministro François Fillon de 2007 até 2011. Anteriormente havia sido Ministra da Agricultura e Pescas durante um mês entre maio-junho de 2007 no governo de François Fillon, e Ministra do Comércio Exterior entre 2005-2007 no governo de Dominique de Villepin. Apesar de não ter formação académica em economia, Christine Lagarde apresentou em 2011 a sua candidatura à direção do FMI, na sequência do afastamento de Dominique Strauss-Kahn.