É tentador cercarmo-nos de pessoas de quem gostamos e é divertido ser-se amigo dos colaboradores – todos se dão bem e é uma festa. Mas o líder precisa de ter desmancha-prazeres por perto: quem desafie o grupo e coloque questões.
Kim Tracy Prince
Quem não tem aquele colega que faz com que uma reunião demore mais tempo que o previsto com as suas perguntas ou com “potenciais entraves” no plano que se está a discutir? Ou aquele que, estando o seu projeto a avançar a todo vapor, surge com uma “solução melhor” para um hipotético estrangulamento no fluxo de trabalho? Pode ser extremamente irritante, mas às vezes é melhor ter este género de pessoas por perto. Passamos a explicar porquê.
Mesmo que pense ter examinado todos os aspetos de uma ideia, e tenha a certeza de que esta será 100% bem-sucedida, o líder é apenas uma pessoa. Se todos na sua equipa assumem que está certo, ninguém vai dar por nenhuma falha no plano. Também ninguém quer participar em reuniões-maratona para analisar o progresso de certos projetos, mas é melhor descobrir no início que um trabalho está no caminho errado do que conduzir o processo para a desgraça.
…Outras vezes está ocupado
Os bons yes-men (e yes-women) fazem exatamente o que lhes é dito, o que é ótimo até ao ponto em que não conseguem pensar por si próprios, porque têm medo de colorir fora das linhas ou tentar algo novo ou melhor. As pessoas assim exigem uma liderança mais atenta e próxima, dado que hesitam na altura de tomar decisões sozinhas. Sim, o líder acaba por ter logo todas as respostas, mas, enquanto responsável, tem outras coisas para fazer e outros funcionários para gerir, pelo que não tem tempo para fazer o trabalho deles por eles.
Os yes-men colocam-no em perigo
Quando um gestor é um yes-man, ele ou ela terá todo o prazer em seguir as diretrizes que vêm de cima e passar o projeto à equipa sem questionar nada. Se tiverem sucesso, fica com os louros. Se falharem, bem, sabemos quem não será o culpado. Concordar de forma cega com as exigências da gestão de topo pode até resultar em atividades menos lícitas. Eis um exemplo (real) dos perigos associados aos yes-men: numa empresa, à saída de uma reunião com o chief experience officer (CXO), o yes-man declara:
- “O chefe quer XYZ e precisamos de o fazer”.
Resposta do subordinado: “Não podemos fazer XYZ”.
Yes-man: “Claro que podem. Vocês são os melhores da empresa”.
Resposta: “Obrigado pelo elogio, mas ninguém aqui vai fazer XYZ. Nós não queremos ir para a cadeia”.
Acontece que se tratava de um teste. O CXO sabia que o que pedia era ilegal e que o yes-man também deveria saber que era ilegal. Na semana a seguir o yes-man estava fora da companhia.
Enquanto líder quer que o trabalho da equipa seja bom
Os funcionários que só dizem “sim” não estão a ser honestos consigo. Enquanto aquele colaborador que está sempre a queixar-se de que está muito ocupado pode estar a fazer-lhe um favor ao dizer-lhe a verdade. Os funcionários sobrecarregados e extremamente empenhados não podem fazer tudo a tempo, com qualidade superior e abaixo do orçamento. O líder tem de escolher. Enquanto responsável, distribui trabalho pela sua equipa e, em seguida, exige apenas as atualizações do que está a avançar, mas, com os yes-man, o que não sabe é que os projetos dos funcionários estão a começar a derrapar – não estão dentro dos prazos, estão quase feitos em vez de na totalidade, ou que algo ficou para trás e foi completamente esquecido.
Não é pessoal – são negócios
É divertido ser amigo dos colegas de trabalho e funcionários, sobretudo porque estão tanto tempo juntos. É tentador cercar-se de pessoas de quem gosta, e com as quais é divertido sair após o trabalho. As festas são o máximo e todos se dão bem.
Tirando o caso daquela senhora...
Aquela senhora está sempre no contra, a protestar ou a desafiar o grupo. Se, enquanto líder, fosse menos profissional, era capaz de dizer que ela é um pouco desmancha-prazeres... Mas sem a senhora por perto a colocar o trabalho dos outros em causa, não teria atrasado o seu mais recente projeto de sucesso para corrigir alguns problemas graves… que ela encontrou. A senhora é boa para o seu negócio, mesmo que a personalidade dela não seja das que mais gosta.
Às vezes é melhor dizer “não”
Se alguém diz “sim” a tudo, seja para assumir mais trabalho, executar uma má ideia ou ignorar um problema, a sua “desonestidade” pode ferir o negócio e prejudicar a lealdade. Em tempos trabalhei numa empresa de grande dimensão em que o horário era o típico das 9h00 às 18h00. Um dia o responsável pelo meu departamento chegou ao pé de nós e disse que “o CEO detesta percorrer o nosso andar e ver os cubículos vazios após as 18h00. O meu chefe quer que a nossa área fique até mais tarde para parecer que estamos a apoiar a missão da companhia”. Éramos jovens, mal pagos, pelo que acabámos por rodar a tarefa entre nós – a cada dia alguns ficavam até mais tarde só para constar. Esta medida questionável, entre outras, criou ressentimento para com o meu chefe, para com o chefe dele, e, finalmente, para com o CEO – cujo contrato não foi renovado. Se o responsável do departamento tivesse lidado com tais pedidos de forma mais equilibrada – questionando por vezes as exigências do topo – talvez tivéssemos realizado aquela tarefa menos contrariados. Os funcionários trabalham melhor e com mais motivação quando sabem que o líder está a fazer o que é melhor para todos e não apenas a dizer “sim” o tempo todo para parecer bem.
Tenha um “no-man” sempre por perto
A verdade é que o líder precisa de um “no-man” por perto para o manter com os pés assentes na terra. São precisos planos grandiosos e um pensamento visionário para que o seu negócio avance e continue a crescer, mas o líder tem de ter alguém que o chame à realidade – aquela pessoa que diz: “não, não pode ser feito”, quando todos os outros em seu redor lacrimejam e batem palmas ao seu discurso motivacional. Por isso, não descarte por completo a negatividade daquela colaboradora. O cuidado dela pode guiá-lo para longe do desastre e em direção ao sucesso.
21-09-2016
Fonte: Business.com
Kim Tracy Prince, sediada em Los Angeles, EUA, escreve sobre capital, negócios, viagens, entre outros temas.