Os co-CEO da insurtech Lovys, rotativos, estão em funções durante seis meses enquanto mantêm as suas responsabilidades habituais. Como chegou a start-up a este modelo? Era inevitável, diz João Cardoso, cofundador e co-CEO da empresa.
Quase todos os setores de negócio passaram por mudanças drásticas nos últimos anos. Mas há algo que têm em comum: a evolução do papel do CEO e a forma como, de modo orgânico, o modelo de gestão abandonou estruturas verticais para introduzir modelos horizontais. O cargo de co-CEO na Lovys é disso exemplo. João Cardoso (à esquerda na imagem), co-CEO na insurtech com João Janes (à direita), refere num artigo no “Portugal Fintech Report 2022” (publicado pela Portugal Fintech) que esta transição começou por “acontecer informalmente devido ao nosso ambiente (interno e externo) e de repente compreendemos que era o caminho a seguir. Era inevitável!”.
A Lovys, com sede em Paris e escritórios em Leiria, Lisboa e no Porto, considera-se europeia e quer que os utilizadores se apaixonem (in love) pelos seguros, daí o nome. João Cardoso, cofundador da start-up, afirma no artigo no “Portugal Fintech Report 2022” que a sua experiência anterior no Brasil, onde criou a TaCerto (site comparador de preços de seguros), lhe ensinou a importância de construir uma equipa em que cada pessoa aporta perspetivas totalmente diferentes. Acrescenta que, na Lovys (lançada em 2017), “fui muito cuidadoso e rigoroso ao recrutar a equipa fundadora. Soube desde o primeiro dia que iriam assumir muitas responsabilidades e que precisávamos de criar uma cultura horizontal”. Ou seja: “tinha de me certificar de que as decisões não estavam a ser tomadas por mim, de forma tendenciosa e míope”. Para o empreendedor tornou-se claro que, de acordo com os desafios que enfrentavam enquanto equipa, teria uma pessoa para o apoiar de diferentes formas. E assim surgiu o cargo de co-CEO, em que João Cardoso procurava ter outra perspetiva sobre o mesmo assunto com base em expertise.
João Cardoso explica que a posição de co-CEO é decidida durante as reuniões estratégicas mensais com os membros da direção. “O que eu faço é propor alguns nomes e depois discutimos a decisão final. As reuniões do conselho são trimestrais, e todos os meses é enviado um relatório formal sobre o estado da empresa.”
Como surgem os nomes indicados nas reuniões de conselho? O co-CEO segue as seguintes diretrizes:
1. O timing na empresa, dado ser normal que certas áreas tenham um pouco mais de relevância em momentos específicos.
2. O perfil da pessoa e como se enquadra nos desafios que têm em mente para o cargo naquela altura.
3. O desempenho mais recente da pessoa sugerida.
O comité estratégico é consultado com base nesta lógica e, no final, a escolha vai a votos. João Cardoso adianta que, “uma vez que a seleção é minuciosa, e que acordámos os critérios desde o início, foi sempre uma decisão consensual e natural”. Na Lovys os co-CEO rotativos estão em funções durante seis meses enquanto mantêm as suas responsabilidades habituais. Durante o seu mandato como co-CEO, cada um deles cria e gere um projeto relacionado com uma das quatro principais áreas da empresa: pessoas, estratégia, execução, finanças.
Esta posição “é uma oportunidade para os membros mais seniores das nossas equipas terem mais poder e autonomia. Vejo-o como um estímulo muito positivo para a equipa sénior, e pressiona-nos a resolver apenas os problemas que requerem uma visão a muito longo prazo, que têm grande impacto na organização, ou que são muito complexos”, elucida João Cardoso, que vê o processo “também como um desafio em termos de legitimidade”. Isto porque a cultura da Lovys se baseia mais no mérito do que nos títulos. “Não é porque alguém é co-CEO que será mais ouvido. Um co-CEO deve entrar num campo que não seja inteiramente a sua zona de conforto, o que requer a capacidade de resolver problemas ou acrescentar valor de uma forma diferente”. Saber ouvir, “ligar os pontos, compreender o contexto, e fazer as perguntas certas são competências muito mais importantes que fazer um julgamento rápido ou alimentar a equipa técnica com conhecimentos técnicos especializados”.
João Cardoso deixa a recomendação de, “se alguma empresa está agora a enfrentar o dilema de começar ou não a aplicar esta posição”, que implemente o modelo. E elenca os resultados: vão notar aspetos que até então não tinham observado por falta de tempo, vão aproveitar ao máximo as capacidades da equipa, e vão perceber que esta posição pode ser uma grande melhoria a muitos níveis dentro da empresa.
Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para o "Portugal Fintech Report 2022" por João Cardoso, CEO da Lovys.
12-07-2023
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