Sete Testes para Futuros Líderes

Sete Testes para Futuros Líderes
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Do exposto no artigo intitulado “Sete Notas Breves sobre Liderança”, podem ser derivadas sete questões críticas que os futuros (e atuais) líderes poderão colocar a si próprios.

Para melhor aproveitamento pessoal do exercício, sugerimos ao leitor que procure responder aos testes com a ajuda de um mentor ou de um colega próximo.

O primeiro teste é o da paixão. Os líderes que fazem a diferença revelam paixão por aquilo que fazem. Não os move apenas ou sobretudo o lucro. José Mourinho parece ser movido pelo gosto da vitória. Steve Jobs pelo prazer da inovação disruptiva – ele mudou as indústrias dos computadores, dos telefones, dos filmes e da música. Lionel Messi joga futebol com o prazer de um garoto na rua. Fazer as coisas com prazer é crucial para entusiasmar os outros. Pergunte-se o leitor a si próprio: aquilo que faço, faço-o com paixão? Se a resposta não é afirmativa, pense então: poderei, nestas condições, suscitar a paixão dos outros?!

O segundo teste é o do impacto. Caro leitor, a sua atividade costuma ter impacto nos outros? Esse impacto é positivo? O seu comportamento é uma fonte de positividade? Os outros pedem-lhe ajuda? Gostam de trabalhar consigo? Aprendem em conjunto? Ou o leitor é suscitador de reservas? Esconde o que sabe? Se o primeiro é o teste da paixão, este é o da compaixão: os outros veem em si alguém que os compreende? Que é exigente mas compreensivo? Que cultiva o mérito? Que é capaz de exibir tough love, um respeito adulto e não paternalista. As virtudes da franqueza, tão apreciadas por Jack Welch, remetem justamente para a combinação destes dois pontos: as organizações precisam de moleza e dureza, paixão e compaixão, compreensão e respeito pelas prioridades.

escolherO terceiro é o teste Bobby Robson. Robson, um gentleman no mundo do futebol, passou pelo Sporting e pelo FC Porto. José Mourinho e André Villas-Boas cruzaram-se com ele em fases precoces das suas carreiras. André Villas-Boas era seu vizinho. Com 17 anos, meteu conversa com o mestre – que viu nele potencial, o apoiou e inspirou. Mourinho começou por ser “tradutor” de Robson. Quantos treinadores teriam apostado num tradutor como potencial e excecional treinador? Seriam hoje Mourinho e Villas-Boas treinadores de primeiríssimo plano sem a influência multiplicadora de Bobby Robson? Não é possível dizê-lo. Certo é que terão beneficiado da inteligência liderante do técnico inglês. O cerne deste teste é simples. Pergunte-se: funciono como Bobby Robson? Sou capaz de descortinar talentos por revelar? De os apoiar? De funcionar como um catalisador de talento? Como revelador de potencial?

O teste da marca pessoal é, porventura, um dos mais importantes. Os líderes mais respeitados têm uma marca, que mesmo os seus adversários reconhecem. Steve Jobs não é conhecido pelas suas soft skills. Mas a sua marca de inovador é mítica. Cavaco Silva, um dos mais bem-sucedidos políticos da democracia portuguesa, criou uma marca de respeitabilidade e honestidade que se tornou distintiva. Um dos seus principais adversários políticos, Mário Soares, era conhecido pelo estilo mais emocional e pela proximidade natural ao povo. O ponto-chave é, pois, o seguinte: todos estes líderes criaram uma marca própria e – muito importante – autêntica. Caro leitor: que marca tem vindo a criar? Que associações suscita na mente dos outros? É essa a marca que deseja que lhe esteja associada?

lerSegue-se o teste da aprendizagem. Sendo a liderança uma jornada de desenvolvimento, é o líder um apaixonado pela aprendizagem? Costuma ler e cultivar-se? Está informado? Aprende com aqueles com quem trabalha? Tem planos para continuar os seus estudos ao longo da vida? Consegue recomendar com entusiasmo um livro sobre liderança? Ou, pelo contrário, entende que o seu tempo livre não deve ser estragado a ler livros de gestão? Considera que estas coisas se aprendem com a prática e não com o pensamento? Jack Welch, Bill George, Daniel Keough e A.G. Lafley, ex-CEO de grandes empresas americanas, publicaram livros de gestão que combinam experiência e sabedoria, uma poderosa combinação para a ação informada e sustentada. Os melhores líderes têm ideias e arquiteturas conceptuais sobre a organização. Não se limitam a gerir: pensam a gestão e a liderança.

O teste das parcerias refere-se à capacidade de criar e nutrir redes relacionais. O leitor já identificou os seus parceiros de desenvolvimento? Com quem vai trilhar o caminho? Note que, sozinho, dificilmente conseguirá progredir. Trabalhe, pois, em equipa. Crie redes de relações de confiança. E não esqueça: numa parceria, todos dão e todos recebem. Não basta procurar apoio nos outros: é necessário apoiá-los – de forma ética e sem esquecer que o mérito deve prevalecer sobre critérios mais tradicionais, como as famigeradas “cunhas”.

aprendererrosFinalmente, consideremos o teste do jazz: em que medida o leitor consegue lidar com as falhas e as imperfeições – suas e dos outros? É capaz de suportar as adversidades de forma resiliente? Planeia e adapta-se? A carreira de Alex Fergusson no Manchester United começou muito acinzentada. Foram a perseverança e a força resiliente que trouxeram fama e proveito, a ele e ao clube. Os músicos de jazz sabem que, antes de improvisar, é necessário dominar a técnica e ser altamente proficiente. Sobre Steve Jobs escreveu a Business Week: “Jobs comanda a Apple com a disciplina e a confiança improvisacional de John Coltrane”.

A paixão pela mudança e pela criatividade obrigam a desenvolver uma atitude positiva face aos desvios, às surpresas e às falhas honestas, tudo combinado com rigoroso planeamento – uma síntese complexa.

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As organizações estão a mudar. As práticas de liderança também. É hoje claro que a liderança é uma jornada de autodesenvolvimento. Dos líderes organizacionais também se espera um envolvimento pleno no desenvolvimento da sociedade, e não apenas a condução do negócio da sua organização.

Estas exigências requerem dos líderes um investimento nas suas próprias forças de liderança ao longo da vida. Daí decorre a necessidade de repensar, constantemente, práticas e soluções. Ou seja, a mudança nunca para – o mesmo ocorre com a necessidade de (re)pensar a gestão.

Note que as sete questões propostas apenas facultam pistas de autorreflexão – não são prescrições ou receitas. Aliás, as melhores receitas são precisamente essas: as que cada um cria para o seu próprio caso e o percurso que cada um desenha para o seu desenvolvimento pessoal.

Caro leitor, boa viagem. Conheça-se a si próprio. Prepare-se para as dificuldades. Aprenda com as derrotas. Frua as pequenas vitórias – mas nunca as tome como definitivas, nem indicadores seguros de vitórias futuras. Torne-se, assim, um (melhor) líder.