Uma explosão de empreendedorismo lusófono

Uma explosão de empreendedorismo lusófono
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Vive-se uma explosão de empreendedorismo nos vários países lusófonos. Isso só pode ser bom. 

A criatividade, a inovação e o empreendedorismo vão ser cada vez mais importantes para a competitividade e o desenvolvimento económico, mas importa também saber como se pode tirar partido conjunto desta nova dinâmica.

Em Angola, o Programa do Governo dá um grande destaque ao desenvolvimento do empreendedorismo, tendo o Governo já criado novos organismos, como o Instituto Nacional de Apoio a Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM), o Instituto do Fomento Empresarial (IFE) e o Fundo de Garantia de Crédito (FGC) e lançado o Angola Investe que mobiliza 1,4 mil milhões da banca comercial e 200 Milhões do Governo, na sua maior parte em bonificações de crédito e contributo para um fundo de garantia. A própria sociedade civil denota o seu próprio dinamismo, por exemplo, através da Associação dos Empreendedores de Angola, a produção da Revista do Empreendedor e a realização de vários eventos de empreendedorismo. Mas há ainda um grande caminho a percorrer, que incide sobretudo na formação, na preparação e no apoio aos novos empreendedores e na criação de ligações dos novos empreendedores e start-ups à cadeia de valor dos vários setores onde se inserem, bem como na criação de regras de mercado aberto suportado por regulação e de instituições fortes. O grande desafio em Angola é desenvolver uma economia amiga do investimento privado, que estimule a criação de uma miríade de PMEs sustentáveis de angolanos que poderão ser o esteio de uma economia mais desenvolvida e distribuída social e geograficamente e menos dependente do petróleo, capaz de gerar empregos estáveis, alargar a base de impostos, substituir importações e promover exportações, especialmente no âmbito de uma SADC cada vez mais integrada economicamente.

Quanto ao Brasil, o estudo do GEM, comparativo entre 59 países, ilustra que o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo. Nos últimos cinco anos, em média, foram registrados anualmente no Brasil mais de 600 mil novos negócios, ao que acresce mais de 1,5 milhão de Microempreendedores Individuais (MEI). Recentemente, o Governo lançou um programa Start Up Brasil com enfoque no setor TIC e na criação de um ecossistema integrado de aceleradoras por todo o país, promoção da criação de novas start-ups e aposta em ligações estruturadas com Silicon Valley. O grande desafio para o Brasil vai ser dar o salto qualitativo e quantitativo de tornar São Paulo um dos principais hubs mundiais de empreendedorismo e ser capaz de gerar empresas tecnológicas de dimensão mundial. Uma vez que o Brasil já tem grande desenvolvimento tecnológico e financeiro, o grande desafio será cultural, ou seja, criar uma cultura colaborativa de interdependência e de sinergias entre os diversos agentes do ecossistema empreendedor necessária à emergência de grandes empresas globais nas TIC.

Cabo Verde tem uma economia pequena e muito dependente do exterior. No entanto, através da ADEI – Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação, Cabo Verde está a construir um dinamismo empreendedor muito forte, de tal forma que Cabo Verde foi eleito País do Ano na Global Entrepreneurial Week de 2013 na categoria “Atividade Per Capita”. O grande desafio de Cabo Verde será fazer as ligações internacionais que lhe permitam tornar-se num centro de empreendedorismo para a África Ocidental. O desenvolvimento do futuro Parque Tecnológico da Praia será um grande contributo para este objetivo.

Moçambique está ainda a dar os primeiro passos no desenvovimento do empreendedorismo, a dois níveis. No âmbito do empreendedorismo de subsistência, há ainda muito trabalho a fazer, essencialmente em termos de programas massivos de formação e de apoio por todo o país, como forma de geração de emprego subsistente. No entanto, há ainda que criar os grandes grupos empresariais moçambicanos que sejam capazes de aproveitar os desenvolvimentos económicos que se avizinham com a exploração dos recursos naturais e com o posterior crescimento da indústria transformadora e de serviços. Nota-se uma grande evolução em termos de nova legislação, de planos de ação e de uma classe política e empresarial cada vez mais desperta para o seu potencial. 

Em Portugal, a resolução da crise financeira tem deprimido severamente a economia e afetado negativamente o setor empresarial, mas tem contribuído para o crescimento do empreendedorismo e especialmente para o empreendedorismo inovador. Nunca, como agora, se falou tanto de empreendedorismo. Nos últimos 3 anos, o ecossistema empreendedor fortaleceu-se com a emergência de várias aceleradoras e prestadores de serviço cada vez mais especializados, com novos programas de financiamento de business angels e de capitais de risco e envolvimento direto das universidades. É notável o aparecimento de um grande número de novas empresas de base tecnológica em várias áreas bem como a crescente internacionalização destas empresas. Falta agora os diversos agentes trabalharem mais em conjunto, reforçarem a rede internacional e focar em criar alguns casos de sucesso internacional.

Como Tirar Melhor Proveito

A pergunta que se pode fazer é “como tirar proveito desta explosão de empreendedorismo no mundo lusófono”? Três movimentos poderiam ajudar. Primeiro, uma maior troca de experiências e de conhecimento entre os países lusófonos. As complementaridades são evidentes e todos iriam beneficiar grandemente. Segundo, uma atuação internacional conjunta em fóruns internacionais e na ligação a ecossistemas empreendedores mais desenvolvidos, nomeadamente a Silicon Valley. Mais uma vez, uns podem ser as alavancas de outros nestes relacionamentos internacionais. Terceiro, no desenvolvimento de programas conjuntos de longo prazo, no campo do financiamento, da inovação científica e empresarial, da formação, de ataque a novos mercados, e em projetos concretos.

Tudo isto pode parecer complexo e ambicioso. Mas basta um primeiro passo para tudo o resto se tornar mais simples. Isto é, basta os empresários e os políticos tomarem consciência deste novo potencial e começarem a falar entre si. As soluções práticas e relevantes para todos irão emergir da mútua aprendizagem e da consequente exploração aberta e criativa de oportunidades. O empreendedorismo poderia ser um dos temas a explorar por um Think Tank conjunto desenhado para potenciar o desenvolvimento do bloco económico lusófono.

Grupo lusófono do Global Strategic Innovation Executive Program 2013.

 

CarlosOliveiraCarlos Oliveira é Presidente do Conselho de Administração e fundador da Leadership Business Consulting. Com mais de 15 anos de trabalho em consultoria de gestão e de Alta Direção, passou anteriormente pelas empresas multinacionais Andersen Consulting, hoje Accenture, e pela DHV Consultants. Coordenador da Sociedade da Informação e Governação Eletrónica na UMIC, Presidência de Conselho de Ministros, durante dois anos, onde montou a UMIC, definiu os planos de ação nacionais para a Sociedade da Informação e Governação eletrónica e do Programa Nacional das Compras Eletrónicas. Exerceu em 1991 funções de Deputado à Assembleia da República pelo círculo eleitoral Fora da Europa e Membro das Comissões Parlamentares de Economia, Finanças e Plano Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades Portuguesas. É vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Sul Africana (CCILSA).