Como dominar a arte do discurso e ser memorável? Consiga transmitir a mensagem e levar à ação

Como dominar a arte do discurso e ser memorável? Consiga transmitir a mensagem e levar à ação
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No desempenho da liderança, várias são as situações em que o líder tem de discursar, seja a nível interno ou externo. É dominando a arte da comunicação e do discurso que este consegue transmitir a mensagem, dotá-la de significado e levar à ação dos seus colaboradores.

Mas se a comunicação interna na organização já é um desafio por si só, fazê-lo externamente, por exemplo em conferências de imprensa, entrevistas, entre outros, exige um domínio acrescido desta arte.

John F. Kennedy dominava a arte e vários foram os momentos em que se distinguiu por esta capacidade. O debate presidencial com Nixon antes das eleições foi um desses momentos, em que conseguiu ganhar a simpatia do eleitorado, sendo por muitos apontado como tendo sido o momento que o levou à Casa Branca. O mesmo aconteceu com o seu discurso inaugural.

Está a pensar que os redatores de discursos ou os escritores-fantasma resolver-lhe-ão o menor domínio desta arte? Desengane-se. Jimmy Carter teve alguns dos melhores redatores de discursos mas por certo a eloquência dos seus discursos não é o que recorda ou o tornou memorável.

Como diz John A. Barnes, “Tornarmo-nos comunicadores eficazes implica muito mais do que simplesmente encontrar um bom escritor”.

John F. Kennedy contou com Sorensen que o ajudava a escrever os seus discursos. Este, ao contrário de outros, não os escrevia para ele proferir e, mesmo aqueles em que a sua contribuição era maior, JFK sempre fez questão de ser o maior contribuidor e da versão final estar a seu cargo.

Como poderá então dominar a arte do discurso como John F. Kennedy?

Segundo John A. Barnes no seu livro “A Liderança segundo John F. Kennedy”, aponta sete conselhos que não deve descurar:

  • Viva com o discurso

“Falar em público é parte integrante da liderança, não uma responsabilidade complementar. Devemos adquirir competências neste âmbito e tornarmo-nos o principal redator dos discursos. Devemos adotar um estilo que seja natural, usar palavras que usaríamos normalmente e desenvolver a capacidade de parecermos descontraídos (mesmo que não o estejamos) quando nos dirigimos aos outros. Uma das razões pelas quais o discurso inaugural de Kennedy funcionou, segundo o escritor Thurston Clarke, foi por este não se ter limitado a acreditar na intervenção, mas a vivê-la. Aqueles minutos resumiram e destilaram praticamente toda a vida de Kennedy até então: o seu serviço militar na guerra, o período que, antes disso, passara em Londres, o facto de ter visto o pai fazer erro atrás de erro à medida que a crise europeia ganhava força, a sua identificação desde cedo Churchill enquanto homem do momento. Se outra pessoa o tivesse proferido, o discurso não teria tido o mesmo impacto.”

  • Obtenha reações da sua equipa

“Devemos dizer que gostaríamos de sermos compreendidos e refletir livremente sobre a melhor forma de veicular a mensagem. Temos de inventar frases cruciais que concentrem aquilo que estamos a tentar dizer. Como Kennedy fez com Sorensen, recorrer a outro para elaborar o nosso discurso pode trazer grandes vantagens, especialmente se o escritor interiorizar a nossa apalavra e a nossa forma de comunicar. Contudo, a versão final deve ser nossa e devemos sentirmo-nos à vontade ao proferi-la.”

  • Opte pela brevidade

“O nosso discurso deve ser breve. Idealmente não deve durar mais de vinte minutos. As palavras devem ser curtas e i estilo direto, porém memorável. De preferência, devemos recorrer a uma linguagem com as quais a audiência se possa identificar. Há que evitar uma linguagem que a desoriente, o que significa não usar o jargão jurídico, muitos acrónimos ou frases floreadas. É preciso tornar a mensagem o mais clara possível e orientada ara quem a irá ouvir.”

  • Utilize exemplos, estatísticas e factos para apoiar os nossos argumentos

“As pessoas parecem ser capazes de recordar números e factos durante mais tempo do que outro tipo de informação. Rechear a mensagem com eles torna-a mais fácil de recordar. No entanto, não devemos sobrecarregar os ouvintes com uma inundação de números e factos. Temos de nos concentrar em exemplos ou estatísticas específicas que suportem o que queremos defender.”

  • Tenha contenção na utilização de slides de PowerPoint

“Devem utilizar-se dois ou três, no máximo. Se o público estiver a lê-los, não nos prestará atenção.”

  • Conte uma história quando apropriado

Ronald-Reagan-EUA“Trata-se de uma extraordinária ferramenta de liderança que nos últimos tempos se tem tornado popular. Se conseguirmos encontrar uma história que torne a nossa mensagem algo de pessoal para a audiência, seremos capazes de fazer com que a questão a interpele. Ronald Reagan, um dos grandes presidentes contadores de histórias, iniciou a prática de convidar cidadãos que se haviam distinguido em determinada área para serem seus convidados pessoais no discurso sobre o estado da Nação. Costumava contar as histórias dos seus feitos para sublinhar um elemento importante da sua mensagem e depois introduzi-los na galeria. Todos os seus sucessores têm usado a mesma técnica.”

  • Lembre-se que o nosso discurso nos reflete a nós próprios

“Mesmo que recorramos à ajuda de um escritor profissional, nunca devemos esquecer quem em a última palavra. Culpar o redator de discursos se nos enganarmos é uma boa forma de afugentar, além de nos fazer parecer tolos. Trata-se da nossa mensagem. Devemos asseguramo-nos de que reflete quem somos."

Como qualquer forma de arte, é preciso trabalhá-la e aperfeiçoá-la constantemente. Contar com ajuda pode ser inevitável nos dias que correm, seja por falta de tempo para se dedicar a esta tarefa em exclusivo, seja porque com o contributo de outros poderá criar e proferir discursos mais significativos e marcantes. Até Abraham Lincoln, considerado habitualmente como o mais eloquente dos presidentes americanos, contou com ajuda em diversas situações, sendo a sua conhecida expressão de encerramento do seu discurso inaugural os “melhores anjos da nossa natureza” sido facultada pelo seu secretário de Estado William Seward.

Mas nunca se esqueça que é o seu discurso e nele deverá ser fiel ao que é enquanto pessoa e no que acredita para que quem o ouve sinta que é genuíno e lhes inspire confiança e credibilidade. 


fatinha-portal-artigo1Fátima Rodrigues foi gestora do Portal da Liderança e editora de conteúdos da Leadership Business Consulting, tendo sido coordenadora editorial da área de business do grupo Almedina e lecionado na Congrégation Saint-Joseph de Cluny. Esteve ligada vários anos ao Conselho da Europa, onde exerceu funções de formadora do GERFEC em relações interculturais e interreligiosas em contexto corporativo e social.