Silicon Valley desafia radicalmente a indústria automóvel

Silicon Valley desafia radicalmente a indústria automóvel
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O negócio de Silicon Valley é destruir modelos de negócio.

Carlos Oliveira 

Silicon Valley cria mais start ups e faz crescer de forma mais rápida empresas na área de Tecnologias de Informação e Comunicação do que qualquer outra parte do globo. É o local onde surgem as inovações mais disruptivas e se criam novos produtos tecnológicos com maior sucesso em todo o mundo. 

1. Silicon Valley tem um novo alvo: a indústria automóvel

Como é que o ecossistema inovador de Silicon Valley irá reinventar o carro? – Vendo-o como um computador sobre rodas. Para a comunidade de Silicon Valley, a fase da predominância mecânica na indústria automóvel deu lugar à fase da predominância eletrónica.

Visto desta forma, Silicon Valley considera que tem uma vantagem sobre os fabricantes tradicionais de automóveis, porque trata melhor do software e da conectividade que a própria indústria automóvel. Silicon Valley quer ver o carro como uma plataforma de desenvolvimento de software e de conectividade que permite a uma comunidade aberta de developers resolver desafios através de aplicações – como aconteceu com os smartphones.

Se a comunidade de empreendedores de Silicon Valley conseguir de facto tornar a indústria automóvel numa grande plataforma de software irá destruir o modelo de negócio do setor e reinventá-lo:
- Ultrapassando um mercado fragmentado em que cada fabricante é uma plataforma limitada e proprietária que dificulta o desenvolvimento de soluções globais; em que não se consegue distribuir software pelos clientes. Há sempre um gatekeeper.
- Por contraste, uma plataforma aberta de desenvolvimento iria permitir a developers com elevada qualidade mobilizarem-se para este setor económico e proporcionar aos investidores estímulos para procurarem e desenvolverem constantemente novo software e novas soluções.


 CarFrame

2. Setor automóvel agita-se em Silicon Valley
Todos os fabricantes mundiais têm uma presença crescente e cada vez mais relevante em Silicon Valley. O número de empregos no setor tem crescido. Há ainda grandes limitações na capacidade produtiva, uma vez que a cadeia de valor é muito incompleta. No entanto, os avanços nos últimos anos têm sido promissores.

A Google anunciou o projeto do carro que se conduz sozinho e lançou o Android Auto. A Apple avançou com o CarPlay, e rumores referem que poderá estar a construir o seu próprio automóvel. A Tesla esbateu a linha entre os carros e os dispositivos de eletrónica de consumo. Mas ainda estamos nos primórdios.

3. O modelo de negócio pode mudar de forma radical
Para os visionários de Silicon Valley não estamos a falar apenas de melhorias tecnológicas radicais – os carros integrariam as nossas vidas – mas também de um novo modelo de vida e de um novo modelo económico em toda a indústria automóvel, pois no novo modelo de negócio não teríamos as dores de comprar e de manter os veículos. Uma vez que a maior parte das pessoas só utiliza o automóvel numa parte limitada do dia, o carro inteligente teria uma utilização temporária e passageira por cada pessoa, que não teria de o possuir e manter, antes se se serviria de uma cadeia de valor de fornecedores que fariam a gestão da compra e da manutenção de uma forma mais eficiente e barata e com mais opções para todos. Algumas das novas funcionalidades são:
- Os carros interagirem de forma inteligente com as nossas casas, como aquecê-las mesmo a tempo da nossa chegada. Registarem os quilómetros que fazemos até ao trabalho e automatizarem o processo de preenchimento de despesas de deslocação.
- Na altura da manutenção, interagirem com as aplicações de reparação de automóveis, escolhendo o melhor mecânico com base nos ratings, e marcando a ida à oficina. Certificarem-se que nunca ficaremos parados na estrada ao monitorizarem de forma contínua o nível de combustível e os postos de gasolina mais próximos. Se a bateria estiver prestes a ir abaixo, avisarem a nossa assistência automóvel preferida para que agende a substituição.
- Pagarem automaticamente na bomba de gasolina, registarem a informação, ou ajudarem-nos a decidir se economizamos dinheiro com a venda do segundo veículo e passamos antes a andar de Uber. E até ajudarem os novos condutores a aprender e darem aos pais ansiosos a garantia de que eles precisam.

E ainda agora arrancaram.

Nota: A empresa portuguesa Muzzley, sediada em Silicon Valley, está a desenvolver middleware no âmbito deste novo modelo de negócio. Os custos e os riscos são grandes, mas o potencial é enorme.

15-12-2015


CMO-PLCarlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da Leadership Business Consulting, empresa internacional de consultoria de gestão presente em oito países, África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. Assina quinzenalmente a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança/gestão, economia/sociedade e inovação/empreendedorismo. Mais informações aqui.