A apresentação

A apresentação
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Devo ou não ser apresentado antes de fazer uma palestra ou devo ser eu a apresentar-me?

Sara Batalha

Faça um favor ao mundo, seja apresentado – especialmente se estiver a falar para mais de duas pessoas. Contudo, tenha em mente o propósito da apresentação: oferecer às pessoas o sentido do famoso “porque é que eu devo ouvir-te e o que é que tens para me dizer”. A introdução deve fazer a audiência salivar antes mesmo de o ouvir.

Dica: Evite que outros escrevam ou improvisem a sua apresentação; faça-a você mesmo, antes do evento e personalize-a.

Como se escreve uma apresentação eficaz para nós próprios?
Uma das melhores ferramentas que pode utilizar é um diagrama de Venn. É simples, fácil e grátis. Desenhe um primeiro círculo grande, e coloque lá toda a informação factual sobre si – desde o CV aos prémios, passando pelas conferências, resultados, etc. A seguir desenhe um segundo círculo e escreva lá tudo aquilo sobre si que possa levar alguém que não o conhece a ficar motivado a ouvi-lo a falar sobre o seu tópico. Por fim, desenhe um terceiro círculo onde escreverá tudo o que o torna único e especialmente qualificado para falar sobre o tema. 
Agora, olhe para os três círculos e veja quantos tópicos se sobrepõem. Provavelmente isto irá traduzir-se em 30 segundos de boa informação, que seja realmente importante para si e para a sua audiência, e dará ainda resposta a “o que te torna único para vires falar deste tema”. E descanse, porque 30 segundos é mais do que suficiente – talvez um minuto se tiver recebido um Prémio Nobel.

Evite: que alguém o apresente e liste, ponto por ponto do seu CV, ou mencione cada ano mencionado no seu LinkedIn, cada prémio, cada cargo. Ninguém é assim tão interessante e, na verdade, ninguém quer saber tanto sobre o orador – bom, talvez os seus pais, e mesmo assim eles devem lembrar-se da maior parte.

Evite: deixar para a última a redação da sua apresentação. Escreva-a e imprima-a em tamanho de letra 18, ou maior, e entregue a abençoada folha a quem o vai apresentar. Lembre-se de usar frases curtas e tópicos. 

A fazer: Na grande maioria das conferências e eventos em que sou convidada faço questão de fazer exatamente isto – falo com o anfitrião, partilho a importância da forma como o orador é apresentado, pergunto-lhe o que considera mais importante destacar sobre mim e/ou sobre o meu percurso, no contexto do evento e depois dou-lhe três opções:
A – Escrevo a apresentação em texto.
B – Escrevo a apresentação em tópicos.
C – Reescrevo a apresentação que o anfitrião gostaria de fazer.
Como ninguém tem tempo para se dedicar a escrever apresentações, e muitos nem se sentem assim tão confortáveis para falar em público, escolhem a opção A. Mas (e há sempre um mas) prepare-se para um inconveniente: são poucas as pessoas que sabem ler “bem” um texto, por isso, pode ficar estranho. Ainda assim vale o risco.
Caso prefiram a opção B, há o risco de inventarem para além do que está escrito e lerem com um tom monocórdico e descritivo.
Opção C – nunca me aconteceu, mas já reescrevi apresentações de outros. J

Por fim, aprenda com os meus erros. Faça outros
A fazer: Use e abuse da regra “check and double check” (verifique e torne a verificar). A única vez que não a utilizei dei por mim a ouvir uma apresentação exaustiva de todo o meu CV perante uma audiência pronta a desmaiar. Acredite no adjetivo “exaustiva”, visto o meu CV ser longo e aborrecido de ser lido como as páginas amarelas. O que aconteceu antes? Seguimos a opção A, só que houve um intermediário pelo meio que achou por bem entregar uma cópia do meu CV e sublinhou ao anfitrião que deveria ler TUDO, por indicação da convidada… E pronto, tive de o parar, diplomaticamente e com algum humor, para não morrermos todos de tédio snob e peganhoso que já chovia na sala. Por isso, check double and check.

Ah, e já agora, se os grandes líderes mundiais seguem esta orientação, também o pode fazer, certo?

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 09-06-2016

 

SaraBatalhaSara Batalha (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.), CEO da MTW Portugal (que integra a Media Training Worldwide Global, empresa de origem americana especializada em media training, public speaking e presentation training skills), recebeu formação em Nova Iorque pelo presidente da MTW Global, TJ Walker. Autora do método “desconstrução do discurso” (com o qual treina a comunicação de políticos, CEO, empresários e profissionais que querem influenciar através da sua comunicação), é certificada em coaching pela International Coaching Community, em DiSC 2.0 pela Inscape, e em micro expressões pelo Paul Ekman Group, aplicando esse conhecimento na especialização em communication behaviour profile analyst.
Acumula cerca de 20 anos de experiência em comunicação, tendo sido jornalista e coordenadora de redação por mais de uma década (“Expresso”, RTP1 e RTP2). Foi consultora de comunicação para agências e empresas, lecionou no CENJOR - Centro de Formação Avançada para Jornalistas, e é docente convidada em universidades do país. É ainda oradora frequente em conferências nacionais e internacionais, marcando presença nos media com análise política em linguagem não-verbal.