Uma das minhas teses sobre as razões do atraso português tem a ver com o nosso défice de Liderança. No Estado e nas empresas (há excepções, sobretudo nas empresas, mas são poucas).
Nesta semana, tivemos, no Estado, um bom exemplo desse défice, a propósito do dilúvio que atingiu Lisboa e quase paralisou a cidade. Manda o bom senso que, quando coisas destas ocorrem, sejam os responsáveis primeiros de uma organização a dar a cara. Neste caso, António Costa, a primeira figura da Câmara Municipal de Lisboa.
Acontece que a primeira figura do município estava fora da capital, em campanha eleitoral para as primárias do seu partido. E, por isso, foi o vereador do pelouro a dar a cara. Com explicações pouco convincentes (um grande eufemismo...) sobre o que se passou para o problema atingir tal dimensão.
Esta situação merece dois comentários. O primeiro é que, quando a primeira figura não está, a função de representação deve ser assegurada pela segunda figura. Não por alguém mais abaixo na escala de representatividade, como foi o caso do vereador Manuel Castro. E, ainda para mais, sem experiência...
O segundo comentário é mais pertinente: quem quer concorrer a uma função diferente daquela que exerce (sobretudo se for de natureza electiva) deve abandonar a anterior. Porque, dessa forma, mostra um "commitment" sério para com esse novo objectivo (a liderança de outra organização).
Imagine a seguinte situação: a pessoa “A” é presidente de câmara (até jura que o seu compromisso é com essa instituição), razão pela qual não se candidata a outros cargos. Mas, como quer liderar o seu partido, resolve conciliar a campanha eleitoral com a gestão do município.
Pergunta: e se perder as eleições, mantém-se como presidente da câmara? O que fica a pensar o eleitor que confiou nele e que, por isso, o elegeu? Provavelmente, algo do género: "Qual é mesmo o seu empenho nesta função? Não era ele que queria liderar o partido em vez da câmara?".
Situações como esta são muito frequentes na vida política portuguesa (em todos os partidos). E, além de mostrarem o tal défice de Liderança de que falava no início do artigo, contribuem para a eternização das mesmas caras na política. Porque limitam o aparecimento de futuros líderes.
Alguém falou em afastamento dos cidadãos em relação à vida política???
