A cena passa-se numa escola secundária da zona Centro. Maria está na plateia, recheada de alunos do 10º ao 12º ano, no meio de colegas de turma e pais que vieram assistir. O tema é a Empregabilidade. Aqui e ali percebe-se que é a figura central do grupo de jovens que a rodeia: faça ela o que fizer, os olhos voltam-se para ela.
No período de perguntas e respostas deixa os outros falar e ouve com atenção; percebe-se que aguarda a sua vez, não sem antes ponderar as questões já colocadas e as respostas que vão sendo dadas. E coloca a sua dúvida: o que faz a diferença entre alguém que termina a escola e tem emprego e quem fica no desemprego?
Percebe-se que concorda com a resposta (aposta no que as empresas precisam, atitude do candidato, remuneração por objectivos…) e mantém-se atenta aos colegas, e pais, que falam depois dela. Mesmo sem nova intervenção continua a ser a “referência” dos colegas. Que, baixinho lhe segredam qualquer coisa. Como se esperassem dela uma achega para aquilo que comentam.
No final da sessão, no meio da azáfama dos autógrafos, Maria aproxima-se. Discretamente. Não pergunta nada. Apenas observa. Quando o último dos caça-autógrafos se afasta, pergunta se pode esclarecer dúvidas. “Claro que sim”, é a resposta. E dispara: quais as profissões mais procuradas? A Escola onde estudamos faz diferença na Empregabilidade? Como explicar aos pais que ela, 16 anos, quer passar uma temporada fora do país? Quais as melhores universidades na Europa e nos EUA?
O que surpreende não são as perguntas. Quase todos os jovens perguntam a mesma coisa… É a desenvoltura, o encadeamento lógico e a convicção das perguntas (não há “chapa cinco”), a determinação que põe nas palavras, a contraposição de ideias quando não concorda…
Depois da barragem de perguntas agradece. E quando recebe um “Que nada, se precisar de mais alguma coisa tem o meu mail”, vira-se e faz menção de se juntar aos colegas que já saíram da sala. Eis então que pára, hesita e recua um passo… Por momentos parece ter perdido a liderança do processo. Mas recompõe-se, inclina-se e remata: “Sabe?, daqui a uns anos vou estar no seu lugar”. “Como assim?”, perguntei. “A falar para estudantes e a esclarecer dúvidas”. Fiquei a olhar para ela, fascinado, e retorqui: “É isso mesmo, Maria! A ambição faz a diferença. Daqui a uns anos quero vê-la aqui, a competir comigo”.
Saí daquela escola a pensar que se tivesse uma empresa, a Maria estaria no primeiro lugar da lista de estagiários. Mesmo antes de acabar o curso. E começava logo a preparar uma daquelas ofertas irrecusáveis… para quando acabasse o curso. Porque aquela miúda vai longe. Na Liderança e não só.
Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Entre a sua experiência profissional encontramos redator principal do “Semanário Económico” (desde 1988); coordenador da secção Nacional do “Diário Económico” (de que foi um dos fundadores) desde 1990. Diretor adjunto da revista “Valor”, que ajudou a fundar (1992). Diretor da mesma revista (1993), onde se manteve até 1995. Editor de Economia da Rádio Comercial, de 1992 a 1997. Diretor editorial das revistas masculinas da Editora Abril/Controjornal: “Exame” (revista que também dirigiu); “Executive Digest”, entre outras. Comentador de assuntos económicos da Rádio Capital, de 2000 a 2005. Diretor da revista “Maisvalia” (de 2003 a 2005). Comentador da RTP e RTP Informação, onde passou também a apresentar o programa “A Cor do Dinheiro” (desde 2007). Colunista do “Jornal de Negócios (desde 2007); comentador de assuntos económicos da Media Capital Rádios (desde 2010). Numa das rádios do grupo, a M80, apresenta dois programas: “Moneybox” e “A Cor do Dinheiro”. Comentador de assuntos económicos da televisão generalista TVI, onde apresenta “Contas na TV”. A par destas funções, Camilo Lourenço é docente universitário. Lecionou na Universidade de Lisboa, na Universidade Lusíada e no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. Por outro lado leciona pós-graduações e MBA. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.