Flávio Quembo, Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários de Moçambique (ANJE), refere que "os altos investimentos provenientes da descoberta de recursos naturais irão alargar as oportunidades de negócio no país", alertando que "É crucial que tomemos as decisões certas para permitir a inclusão de todos no processo de exploração e rentabilização dos benefícios daí provenientes".
Portal da Liderança (PL): Quais os desafios que se lhe apresentam, enquanto Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)?
Flávio Quembo (FQ): Promover e fazer combinar a vontade política, as ações do sector privado e a intenção e capacidade dos jovens criarem e gerirem melhor os seus negócios.
PL: Qual a situação que o fez aprender mais em termos de liderança e o que aprendeu?
FQ: O início ou a criação da ANJE foi com certeza a fase de maior aprendizagem, pois é um grande desafio levar jovens, recém-formados e com muitas despesas e expetativas, a trabalhar em regime de voluntariado. Com isso, aprendi que a maior motivação do homem não é o dinheiro, mas sim a sua crença.
PL: Quais os principais desafios que se colocam hoje ao empreendedorismo em Moçambique?
FQ: O maior desafio neste momento em Moçambique é a urgência de se produzir um estudo científico sobre o empreendedorismo, que sirva de base ou diagnóstico situacional para recomendar com clareza o desenho e implementação de uma Política Nacional do Empreendedorismo, visando responder às atuais barreiras enfrentadas por quem quer começar e desenvolver o seu negócio no país.
PL: Que sectores são hoje mais promissores ao investimento e empreendedorismo no país?
FQ: A prestação de serviços, no geral, tem sido uma saída para quem tem barreiras no acesso a capital inicial considerável, como é o caso dos jovens. Porém os altos investimentos provenientes da descoberta de recursos naturais irão alargar as oportunidades de negócio no país.
PL: Qual a importância que os jovens tomam no crescimento e no desenvolvimento empresarial moçambicano?
FQ: Os jovens constituem a maioria populacional em Moçambique, pelo que são a maior força produtiva do país, mas não apenas por via de MPME. Até mesmo no sector informal são os maiores fornecedores de bens e serviços à cadeia de suprimentos pública e privada no país. Podemos, por isso, considerá-los cruciais para o crescimento e desenvolvimento empresarial moçambicano.
PL: O que falta em Moçambique para as empresas serem mais inovadoras e capazes de manterem o foco e de atingirem os resultados ambicionados?
FQ: Moçambique é um país com uma economia em franco crescimento, porém embrionária. O que está em falta, neste momento, é uma “atitude” das pessoas favorável ao desenvolvimento empresarial inovador e produtivo, fruto da educação e da cultura. A atitude pode ser traduzida em termos de valores concretos, como:
- A ética como princípio básico;
- A integridade;
- A responsabilidade;
- O respeito pelas Leis e Regulamentos;
- O respeito pelo direito dos demais cidadãos;
- O amor ao trabalho;
- O esforço pela poupança e pelo investimento;
- O desejo de superação;
- A pontualidade;
- A ordem e a limpeza;
- Falta de atitude;
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Falta de vontade cumprir e ensinar os princípios acima.
PL: O que perspetiva para Moçambique daqui a cinco anos?
FQ: Nesta fase em que se abre uma nova página na história do País, é crucial que tomemos as decisões certas para permitir a inclusão de todos os moçambicanos no processo de exploração e rentabilização dos benefícios daí provenientes. Se, de facto, isso se verificar, dentro de cinco anos poderemos vislumbrar um novo Moçambique, onde o jovem pode decidir sobre a sua opção de carreira, considerando o empreendedorismo uma alternativa concreta para quem reúne atitude, conhecimentos e capacidade para conceber e gerir um negócio concreto. Obviamente, terão sido definidos padrões de qualidade e a cultura de inovação fará parte desta economia competitiva e repleta de oportunidades de desenvolvimento socioeconómico. Esperamos que as oportunidades decorrentes dos megaprojetos sejam nessa altura inclusivos para os moçambicanos, estimulando o desenvolvimento de negócios, mas também um clima favorável ao desenvolvimento individual e coletivo.
PL: Quais são os três principais desafios que confrontarão os líderes nos próximos 10 anos?
- A conciliação do desenvolvimento económico com o capital humano, tendo em conta o estado atual não ideal, em que as pessoas não participam no boom do petróleo, gás, carvão, por falta de know how;
- A reorientação das políticas de desenvolvimento, focadas na edução empreendedora para obter recursos humanos qualificados, pois, na nova economia, o capital intelectual é mais valioso do que o capital material, ou seja, a força de trabalho do futuro estará ligada à criatividade e ao inteleto e não a atividades repetitivas;
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A implementação de políticas financeiras que visem impulsionar o surgimento e crescimento de MPMEs.
PL: Quais são as três qualidades mais importantes para um líder nos próximos 10 anos?
- Responsabilidade - Capacidade de realização e de comunicação de ações de grande impacto socioeconómico;
- Carisma - Capacidade de influenciar as ações e comportamentos dos outros para o melhor;
- Talento - Habilidade de capitalização das oportunidades disponíveis no seu meio envolvente.
PL: Nelson Mandela tinha as pessoas como inspiração. Já Henry Ford encontrava inspiração no desafio constante dos limites da imaginação. O que o inspira a si?
FQ: A minha inspiração é resultado direto do meio e momento onde nasci e cresci. Inspiro-me nas dificuldades e barreiras dos homens e mulheres com quem convivo no dia a dia, mas também nas oportunidades existentes neste país belo e próspero que começam a traduzir-se numa transformação social, política, económica e tecnológica positiva. Inspiro-me particularmente em poder fazer parte deste processo de transformação, como um ator indispensável, capaz de propor e executar soluções concretas de desenvolvimento. Não poderia imaginar-me noutro lugar, nem noutro momento, se não neste.
PL: Um dia, o que é que o mundo vai dizer de si?
FQ: Um homem que não tinha medo de se juntar aos melhores, para criar mudanças de impacto social e económico para a maioria.
Flávio Quembo nasceu a 22 de Março de 1984 em Tete e é licenciado em Ciência Política. Filho de um funcionário dos CFM e de uma enfermeira, é oriundo de uma família humilde que sempre defendeu a importância de ter uma profissão. Por esse motivo, apostou numa formação com forte componente técnica. Depois de ter concluída a sua formação técnica, em 2005, trabalhou, em Maputo, durante 5 anos como Técnico de Construção de Estradas e Pontes e decidiu fundar a Associação dos Técnicos Médios Profissionais – ATEMP, com o objetivo de defender a Classe Técnica Media Profissional em Moçambique. Em 2009, com mais quatro colegas técnicos, decidiu criar uma empresa de construção civil denominada ENGITEC. Foi nessa fase que, ao aperceber-se dos desafios que a estruturação e gestão de uma empresa ofereciam, decidiu juntar-se a alguns jovens para formar a ANJE, organismo que se pretende aglutinador e defensor dos interesses dos Jovens Empresários.