Purificação Tavares: "No CGC Genetics não esperamos pelo futuro"

Purificação Tavares: "No CGC Genetics não esperamos pelo futuro"
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a empresa de genética médica CGC Genetics, os únicos itens onde não há poupanças são nos recursos humanos e nos equipamentos, diz Purificação Tavares, vencedora da categoria de novas tecnologias dos Best Leader Awards 2013, atribuídos pela Leadership Business Consulting e pelo SOL.



Quais os pontos fortes que um bom líder em novas tecnologias deve potenciar?
Um líder deve ser um exemplo, seja de uma empresa de novas tecnologias ou qualquer outra. Passamos muito tempo juntos, temos muitos colaboradores novos, os mais velhos têm funções pedagógicas de boas práticas e até de vida. Uma empresa é um bem social. Nas organizações deve-se aprender muito mais do que ser um técnico ou ganhar um salário. Para a empresa, tem sido uma mais-valia ser um laboratório que executa uma das maiores listas de análises em termos internacionais, e em algumas análises somos os únicos. 

E os pontos fracos proibitivos?
O próprio não praticar o que pede dos colaboradores; fomentar injustiças, negligências... Enfim, todas as atitudes que não são dignas nem conduzem ao respeito entre os colaboradores. 

Que tipo de liderança aplica na gestão da CGC?

Tenho a convicção de que uma empresa é um bem social, um espaço pedagógico e temos de ser exemplo interna e externamente. Nas empresas deve aprender-se muito mais, mais além do que ser um bom técnico ou ganhar um salário. É imprescindível o rigor na definição de objetivos, acompanhamento de projetos e avaliação de resultados, sempre com a perspetiva da constante otimização de processos. E estimular e premiar o mérito.

Qual foi a maior conquista da CGC Genetics sob o seu comando?
O nosso grupo obteve conquistas muito importantes ao longo de 20 anos: somos o primeiro laboratório de genética médica em Portugal, os primeiros e únicos durante muitos anos a fazer rastreio pré-natal (hoje amplamente divulgado), o primeiro a ter avaliações externas de qualidade, e ainda somos o laboratório de genética português que mais avaliações externas tem. Com a qualidade alcançada, obtivemos contratos com os melhores hospitais da Arábia Saudita e todo o Médio Oriente, na América Latina, nos EUA, em Espanha, e recebemos também testes do Japão, Austrália, países bálticos, etc.


É fantástico sabermos que o tratamento de doentes com leucemias na Arábia Saudita e outros países é orientado pelos testes realizados por nós no Porto.


Além disso, o CGC Genetics tem testes próprios com patente submetida, e conquistou dezenas de prémios, que são um grande alento para continuarmos a trabalhar no topo das análises de genética médica.

E o maior risco?
O maior risco hoje é ter uma empresa em Portugal, com 70 colaboradores, de alta tecnologia na área da saúde, e com dívidas de vários anos dos hospitais estatais... é um risco. 

Quais os objetivos para 2013 e no médio prazo?

Aumento da exportação. Uma vez que existe contração interna e queremos manter o número de colaboradores, temos de procurar o mercado fora: todo o território para onde voam as transportadoras internacionais. Qualquer amostra de um doente, sangue ou saliva, pode ser recolhida e estar nos nossos laboratórios do Porto em 48 horas, pelo que podemos receber de doentes da Austrália, da Ásia. Temos 32 contratos em outros países e queremos aumentar o número de hospitais que nos confiam as amostras dos doentes para análise. Internacionalmente competimos com os grandes laboratórios americanos e alemães.

Purificacao TavaresEstão hoje em Portugal, Espanha e EUA. Pretendem expandir-se para outros mercados?
Somos uma PME, temos recursos limitados. Neste momento pretendemos consolidar estas três sucursais e estabelecer acordos de parceria e contratos com hospitais nos outros países.

Não existem líderes de mercado sem muito investimento?
O investimento facilita, mas nós estamos habituados a fazer o máximo com o que temos. Somos frugais em geral, com excepção para dois itens: recursos humanos e equipamentos.

A CGC foi eleita líder em novas tecnologias. Quanto investem anualmente em inovação e desenvolvimento?
O CGC Genetics nunca distribuiu resultados, em 20 anos sempre reinvestiu em novas áreas, novas análises. Sem isso, não poderíamos estar na vanguarda tecnológica como estamos. Não temos percentagem, reinvestimos o resultado.

O que falta no campo da liderança às PME portuguesas?

As razões são variadas. Mas na nossa área até poderia ser desmotivante ter um laboratório assim, sabe que uma analise tem um custo de execução muito menor nos nossos laboratórios do que nos laboratórios do Estado? Nós fomos obrigados a desenvolver ganhos de eficiência para resistir. E mostramos que é possível.

A liderança pode ser genética?
O meu Pai foi o primeiro Professor de Genética Médica do país, na Faculdade de Medicina do Porto. Mas creio que para aguentar com resiliência através de uma crise destas, fazer mais com menos, inovar… o maior fator é a vontade.


No CGC Genetics não esperamos pelo Futuro, preferimos construir o Presente.



Têm hoje cerca de 100 trabalhadores. Foram forçados a cortar em pessoal pela crise ou pretendem contratar mais?
Para já temos conseguido conservar o grupo. Sendo esta uma área em grande evolução tecnológica existe um enorme investimento na formação dos colaboradores para permitir o fluxo constante de novas ideias e serviços. Como portuguesa, sinto a responsabilidade de fazer todos os esforços para criar emprego.

A CGC foi o primeiro laboratório privado de genética média em Portugal. Como foi ser líder há 20 anos?
Há 20 anos o CGC Genetics foi uma ousadia de empreendedorismo: a Genética Médica era uma área nova, e o CGC Genetics foi o primeiro laboratório privado. Sou médica, tenho a especialidade de Genética Médica, tinha regressado dos EUA depois de 5 anos em NY, e foi-me natural desenvolver um laboratório com avaliações internacionais de Qualidade e melhoria contínua, sempre com novas tecnologias, mas com análises integradas nas consultas. Queríamos mostrar que conseguíamos fazer a diferença pela Qualidade no serviço aos doentes. Ainda hoje comunicamos com os médicos dos diversos hospitais com este sentido de serviço integrado.
O nosso grupo, hoje com 8 médicos e 60 Biólogos e Bioquímicos, conquistou várias coisas muito importantes ao longo de 20 anos: em Portugal, fomos os primeiros e únicos durante muitos anos a implementar o Rastreio Pré-natal (hoje amplamente divulgado a todas as grávidas), o primeiro a ter avaliações externas de Qualidade, e ainda hoje somos o laboratório de genética português com mais avaliações externas. Recentemente, com a Qualidade alcançada, ganhamos contratos com os melhores hospitais da Arábia Saudita, e todo o Médio Oriente, na América Latina, nos EUA, em Espanha, e recebemos também testes do Japão, Austrália, países bálticos, etc. É motivador sabermos que o tratamento de doentes com leucemias na Arábia Saudita e outros países é orientado pelos testes realizados por nós no Porto!
Além disso, o CGC Genetics tem uma das mais extensas listas de análises de genética médica; e ainda testes próprios com patente submetida, tendo conquistado dezenas de Prémios, que são um grande alento para continuarmos a trabalhar no topo das análises de Genética.


Enquanto líder, como interpreta a atual liderança política europeia?
As lideranças têm de ter objetivos e resultados, e por vezes estes não são claros.

E a portuguesa? Há algum crash course que aconselharia?
Seja qual for a estratégia, é indispensável uma melhor comunicação.

De que forma as empresas portuguesas no exterior estão a contribuir para a imagem do País junto dos mercados?
As empresas portuguesas a operar no exterior, com o seu desempenho, contribuem enormemente para melhorar a imagem de Portugal. Temos muitos exemplos excelentes. Mas é impossível compensar o dano da imagem de Portugal como país. Quando começamos uma reunião no estrangeiro, é inevitável responder a perguntas sobre a crise financeira portuguesa... E já perdemos um contrato com um hospital nos EUA, no ano passado, por receio do risco do nosso laboratório, por estar localizado em Portugal. É uma questão que afeta todas as empresas que trabalham para o exterior.


É indispensável mudar a imagem que o exterior tem de Portugal, urgentemente.



Quais os obstáculos que esta crise coloca aos atuais líderes empresariais?
Muitos e a vários níveis. Há insegurança, cobranças difíceis, os juros são elevados, os custos em geral aumentaram, pelo que temos de ser muito prudentes nas decisões. E, repito, a imagem que o País ganhou no estrangeiro tem dificultado gravemente as empresas portuguesas de exportação.


Quais as grandes dificuldades que o seu setor enfrenta, a curto e a médio prazo?
A nível interno, precisamos urgentemente do pagamento dos hospitais portugueses, alguns com dívidas com mais de dois anos. A nível externo concorremos com os grandes laboratórios americanos e alemães, mas temos conseguido aumentar as exportações de serviços e fazer as análises de genética para um número cada vez maior de hospitais.

E oportunidades?
A maravilhosa oportunidade de viver um momento em que a genética médica já faz o diagnóstico e orienta o tratamento de muitas doenças, desde o cancro ao diagnóstico pré-natal, servindo de método de prevenção. O futuro da medicina tem como base a prevenção, evitar a doença. É bom para a saúde do próprio e reduz os custos em saúde. Todos nós poderemos ter vantagens em alguns testes genéticos, orientados numa consulta da especialidade de genética médica.


Fontes: SOL e Oje


Purificação Tavares lidera o laboratório privado de genética médica CGC Genetics que fundou com Amândio Tavares e Carmo Palmares em 1992, no Porto. É ainda professora catedrática de Genética Médica na Universidade do Porto; membro do Conselho de Genética Médica da Ordem dos Médicos; membro do Conselho Stemmaters, Biotecnologia e Medicina Regenerativa; presidente da APSOPPE - Associação Portuguesa de Saúde Oral para Pacientes Portadores de Patologias Especiais.

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