“Admito, a primeira vez que vi Marc Benioff a falar, não fiquei impressionado”, confessa Nick Mehta, CEO da LiveOffice. “O presidente executivo da Salesforce.com não era um típico CEO. Não tinha a gola alta preta cheia de estilo do Steve Jobs. Parecia mesmo um pouco piroso”.
“Mas faz umas semanas atrás, na Dreamforce, a conferência anual de utilizadores da Salesforce.com, fiquei verdadeiramente surpreendido. E não foi só porque Benioff criou a maior conferência de tecnologia na indústria ou porque a sua empresa vale biliões e está apoderar-se do mundo das tecnologias da informação. Pronto, talvez tenha sido um pouco isso.”
Muitas pessoas escreveram sobre o que aprenderam com Steve Jobs. Até Benioff falou sobre isso. Mas como alguém que tem passado a maior parte da sua carreira a vender tecnologia a outras empresas, pensei que podíamos aprender muito com Benioff e não apenas com o seu modelo de negócios ou com a sua tecnologia.
Eis as 5 lições que Nick Mehta aponta como a aprender, em termos de visão e liderança, com Marc Benioff:
1. Seja inclusivo
“Na Dreamforce, ouvi o termo “tu” (dirigido ao publico) pelo menos umas 100 vezes. “Tu criaste uma empresa social.” “Tu disseste-nos que precisavas de mobilidade.” Todas as apresentações envolviam casos de estudo de clientes. A Salesforce incluiu até um vídeo da KLM, companhia aérea em nada relacionada com a Salesforce.com, mas que ilustrava uma utilização criativa dos média sociais. Benioff quer claramente que a Salesforce.com seja uma comunidade e não apenas uma empresa. E uma comunidade é mais difícil de parar.”
2. Seja agressivo
“Benioff não tem medo de começar uma discussão. Na verdade, até gosta disso. Não o pode ouvir numa apresentação sem que profira uma crítica à Oracle ou a Bill Gates. Benioff quer criar uma narrativa sobre a comunidade Salesforce.com ser a revolução contra a antiga guarda. De facto, até se referiu à Primavera Árabe e à revolução que está a acontecer no América corporativa, onde antigos CEO, que não compreendem as empresas sociais, estão a cair como o Kadhafi. Está a chamar os seus próprios clientes. Muitos de nós no papel de CEO temos medo de ser provocativos. Queremos fazer amigos e evitar inimigos. E isto é bom. Mas ser bonzinho não faz destaques. E mais importante, não inspira as pessoas, sejam colaboradores ou clientes.”
3. Evolua
“O termo pivot quase que se tornou um cliché no mundo das startup. Mas embora mudar de direção seja impressionante e obrigatório, é relativamente fácil para cinco pessoas numa garagem, mas muito mais difícil para grandes empresas. Embora a Salesforce ainda não seja uma Hewlett-Packard, não é fácil conseguir fazer com que 5000 funcionários façam uma mudança de 180º. A Salesforce.com tinha potencial, como ter arrasado a Siebel com um software para a gestão das relações com o cliente. Mas Benioff viu a chegada da computorização cloud e como o software enquanto serviço passou à história. Assim que a computorização cloud se tornou numa moda, este procurou a próxima tendência dos média sociais e alterou o seu foco para redefinir a “empresa social”. Sempre que faz pivot, faz com que a fase anterior (por exemplo, computorização cloud) pareça óbvia e cimenta ainda mais a posição da empresa. Nenhum dos seus concorrentes consegue competir com isso.”
4. Seja imitador“Apesar de todo o trabalho que Benioff dá à Microsoft, ao replicar as inovações da Apple e de outros, está disposto a imitar os outros quando apropriado. Pensemos no Chatter. Benioff admite que foi desenhado para parecer um Facebook dentro da Salesforce.com. Benioff viu que as pessoas compreendiam o Facebook e que as empresas tinham que incorporar um equivalente. Não tentou reinventar a roda e desenvolveu um interface de usuário mais "amigo da empresa” do que o Facebook. Quase que copiou literalmente a visão e o sentimento que todos conhecemos, nas características das mensagens instantânea da Chatter Now, que não é mais que um sósia do Facebook Chat. O interface do utilizador pode não ser inovador, mas para os utilizadores corporativos, que ficaram cegos ao longo dos anos de tanto olharem para interfaces de 1980 tipo SAP, o Facebook surge no trabalho como algo refrescante e entusiasmante.”
5. Seja infecioso
“Se já foi a alguma conferência de tecnologias de informação, viu que se existir um inferno, incluirá provavelmente as típicas feiras de tecnologias de informação. Os clientes aborrecidos correm para os expositores à procura de ofertas. Se os clientes pararem no seu expositor, estarão provavelmente apenas a olhar para os seus brindes, para a sua equipa de trabalho ou para ambos. Ainda assim a minha empresa fez uma exposição na Dreamforce este ano e fomos atacados. E não, não foi por causa dos nossos brindes pirosos serem melhores do que os dos outros. Todos os expositores foram atacados. Os clientes queriam mesmo falar e aprender. Estavam entusiasmados. A Salesforce.com fez o impensável de diversas maneiras, e fez com que os clientes não sentissem que estavam a lutar com os vendedores, mas que eles e os vendedores estavam lado a lado nesta batalha épica.”
“O que via como piroso em Benioff, considero agora uma paixão genuína”, refere Nick Mehta. “Benioff acredita mesmo que existe uma revolução. Ou parece que existe, e depois também você começa a acreditar nisso.”
“O senhor com um estilo descuidado, até tem estilo”, diz Mehta.
Fonte: Forbes
Nick Mehta é CEO da LiveOffice, tendo estado mais de cinco anos na Symantec Corporation e na Veritas Software Corporation (agora Symantec), onde foi vice-presidente e diretor geral.