A reunião anual da Berkshire Hathaway ofereceu uma grande lição aos investidores. Talvez a coisa mais importante que pode fazer quando tudo parece estar a correr bem na sua organização seja ouvir alguém que insiste em que você está errado.
O presidente do conselho da Berkshire, Warren Buffett, convidou alguém que apostou contra as ações da empresa, o investidor Doug Kass, do Seabreeze Partners Management, para participar no painel de analistas que o questionou e ao vice-presidente do conselho, Charles Munger.
Quando foi a última vez que os executivos de uma grande empresa procuraram a crítica implacável de alguém que aposta contra as suas ações?
Jason Zweig, do Wall Street Journal, referiu que, “para se ter uma noção do quão incomum foi o convite de Buffett a Kass, considere uma pesquisa com mais de 500 empresas feita pelo Instituto Nacional de Relações com Investidores em 2011. Esta constatou que 80% das empresas limitavam quem podia fazer perguntas durante a teleconferência trimestral para discutir resultados. Quase 25% só aceitavam perguntas de participantes "pré-aprovados". Apenas 11% permitiam que investidores individuais fizessem perguntas e só 12% diziam que o microfone estava aberto a todos.
Além disso, 76% das empresas prepararam respostas ensaiadas para perguntas que esperavam receber. Segundo a pesquisa, os discursos de abertura das reuniões feitos pelos principais executivos eram pré-gravados por cerca de uma em cada 12 empresas, porém mais de 80% delas não informavam que os comentários haviam sido pré-gravados.”
“Mas antes que comece a comparar a gestão corporativa dos EUA com a de um sistema fechado como, por exemplo, o da Coreia do Norte”, refere Zweig, “ pergunte-se outra coisa: Quando foi a última vez que tentei ao máximo encontrar alguém para contestar minhas próprias ideias de investimento?”
Buffett "confia em si mesmo, mas não tem medo de um desafio", disse Kass na semana passada. "Acho que ele gosta de desafios".
“A constante e deliberada procura de Buffett por pessoas que lhe digam por que pode ele estar errado é uma das chaves do seu sucesso e não é uma característica comum em investidores”, diz Zweig.
Buffett referindo-se ao cientista Charles Darwin, disse que "sempre que este dava de caras com alguma coisa que contradizia uma das suas conclusões favoritas, tinha que anotar o achado no máximo de trinta minutos. Caso contrário, a sua mente rejeitaria a informação discordante, da mesma forma que o corpo rejeita os transplantes. A inclinação natural do homem é agarrar-se às suas crenças, especialmente se estas forem reforçadas por experiências recentes."
Ray Dalio, fundador do Bridgewater Associates, a maior gestora de fundos do mundo, responsável pela administração de mais de 150 bilhões de dólares, é outro que acredita veementemente na importância de desafiar suas próprias ideias de investimento.
"Quando duas partes inteligentemente discordam é que começa o potencial de aprendizagem e avanço", referiu Dalio. "A coisa mais poderosa que [um investidor] pode fazer para ser eficaz é encontrar pessoas que respeita e que tenham pontos de vista opostos, diferentes [do seu] — e ter uma conversa aberta com elas sobre o que é verdade e o que fazer sobre isso."
Zweig diz-nos que “este princípio, que Dalio chama de "desacordo cortês", atualmente é mais importante do que nunca. Quando os mercados estão em níveis recordes, como estão hoje com as ações e com os títulos de dívida, os preços em alta levam inevitavelmente ao excesso de confiança e de complacência”.
"Quando acha que está certo, não procura mais nada", diz Dalio. "Quanto acha que está certo, a sua mente não está aberta para aprender. Quanto mais acha que sabe, menos a sua cabeça estará aberta."
Ele acrescenta: "O erro de investimento mais comum é a incapacidade de distinguir algo que se tornou mais caro do que algo que ainda é um bom investimento. Muita gente [comete] o erro de olhar para o preço para ganhar confiança, sem reconhecer que isso não faz sentido algum."
Apenas quando procura um "desacordo cortês", diz Dalio, pode neutralizar a falsa confiança gerada por um mercado em alta. Os investidores poderiam melhorar as suas hipóteses de estarem certos em 30% ou 40% simplesmente ao dizerem, abertamente: "Quem discorda de mim de forma inteligente? E explique-me o porquê", diz ele. "Eu acredito que todos podem fazer isso. Só precisam de fazer um acordo com as pessoas que os rodeiam para agirem dessa forma."
Fonte: Wall Street Journal