À beira de burnout? É porque tem algo em débito

À beira de burnout? É porque tem algo em débito
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A má gestão da nossa energia é o que causa burnout, ou esgotamento, diz a psicóloga e coach Sarah Sarkis. O truque, quando o nível de energia está em débito, é equilibrar com créditos que nos energizam (similar ao que fazemos com as nossas finanças).

A maior causa de burnout (distúrbio psíquico de carácter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso) não é o excesso de trabalho, ou não é só o excesso de trabalho: é a má gestão de energia, de acordo com a psicóloga e coach Sarah Sarkis, que ajuda atletas e líderes da NFL - National Football League (liga profissional de futebol americano) a melhorar o desempenho. A maioria de nós gere as finanças com cuidado, para assegurar que temos dinheiro suficiente para enfrentar a semana, o mês, ou o ano. Como explica Sarah Sarkis num artigo no CNBC.com, deveríamos gerir a nossa energia da mesma maneira que gerimos os nossos rendimentos. Fazer esta alteração na forma como planeamos os nossos dias e a nossa vida pode ajudar-nos a alcançar um desempenho melhor, e a sermos mais felizes enquanto o fazemos, diz a psicóloga.

Orçamentar a energia
Pense na última vez em que teve um dia superprodutivo. Cumpriu a lista de tarefas na totalidade, fez um ótimo trabalho num projeto importante e teve reuniões com clientes e colaboradores. Ao final do dia sentiu um grande cansaço, mas também satisfação com o que conseguiu alcançar. O problema surge na manhã seguinte, em que está na expectativa de conseguir fazer o mesmo pelo segundo dia consecutivo. E no dia a seguir.

Alguns de nós passam dia após dia assim, a esgotarmo-nos a um ponto de burnout, de acordo com Sarah Sarkis. E quando, naturalmente, não conseguimos aportar o mesmo nível de energia e de eficiência ao nosso trabalho naqueles segundo e terceiro dias, ficamos insatisfeitos, e culpamo-nos pela nossa suposta incapacidade ou preguiça.

“A energia, tal como o dinheiro, é finita”, afirma Sarah Sarkis. Quando trabalhamos muitas horas ou saltamos refeições, ficamos em débito. Quando fazemos coisas que apoiam a nossa saúde mental ou física – como ter uma boa noite de sono, fazer uma refeição saudável, exercitarmo-nos ou meditar – acumulamos crédito. O truque para evitar o esgotamento é equilibrar estes débitos e créditos.

Mas como conseguimos atingir este equilíbrio? – Ao criarmos um orçamento/budget para a nossa energia, tal como fazemos com as nossas finanças.

1. Registar créditos e débitos
Se já registou o tempo que leva a executar tarefas, esta primeira etapa será familiar. Use uma das muitas aplicações disponíveis nos telemóveis para monitorizar o seu tempo: desde que acorda até à manhã seguinte (em que dormir conta como uma atividade). Ou então mantenha um caderno à mão no qual vai anotando as suas atividades. O objetivo é obter uma imagem tão completa quanto possível de todas as suas atividades.

Muito importante: sempre que terminar uma atividade e a anotar, pergunte-se como se sente depois de a ter concluído. Se se sentir relaxado e mentalmente energizado (mesmo que a atividade possa ter sido fisicamente cansativa, como treinar ou uma caminhada), é um crédito de energia. Se se sentir stressado e mentalmente esgotado, é um débito de energia. Analise como cada atividade o faz sentir realmente, porque há algumas coisas que fazemos por diversão, como aceder às redes sociais, que podem ser um débito de energia, e há algumas coisas que fazemos para o trabalho que podem ser um crédito de energia (ajudar um colega júnior, ou liderar um workshop pode deixá-lo energizado, por exemplo).

Observe quais as atividades que são débitos e quais as que são créditos. Se estiver a registar as atividades num caderno, pode dividir cada página a meio, com uma coluna de débito e outra de crédito, e ir apontando cada item no devido espaço.

2. Aumentar os créditos de energia
Sarah Sarkis recomenda que o registo seja feito por entre um a três dias. Mas se os seus dias variarem muito, e para que este exercício seja realmente útil, talvez o deva fazer por pelo menos entre quatro a cinco dias, ou até por uma semana.

Qualquer que seja a janela temporal que dedique a fazer o registo, assim que tiver dados suficientes comece a procurar padrões. Preste atenção ao tempo que dedica a dormir – está a dormir o suficiente? Se não estiver, ter mais tempo para dormir é uma ótima opção para começar a acumular crédito de energia. Veja se há formas de aumentar os créditos e diminuir os débitos. Por exemplo, se trabalha muitas horas, reserve um tempo para fazer uma pausa e caminhar, passar alguns minutos a meditar, manter/escrever um diário, ou conversar com um amigo que o faz sentir-se bem – todas estas coisas são créditos de energia e podem ajudar a equilibrar os débitos de trabalhar longas horas ou a lidar com o stress no trabalho. Se está a ter dificuldade em arranjar tempo, coloque-as na sua agenda como um compromisso, aconselha a coach.

3. Diminuir os débitos de energia
Alguns débitos de energia são uma perda de tempo que pode evitar. “Vai ficar surpreendido com a quantidade de energia que desperdiçamos em coisas que não importam”, declara Sarah Sarkis. E há alturas em que pode combinar atividades de forma a mitigar alguns dos débitos. Que tal seguir o exemplo de Steve Jobs, e fazer uma reunião enquanto caminha? Se tem um longo trajeto até ao trabalho, pode passar esse tempo a ouvir um audiolivro, um podcast ou música que o energize e revigore. A combinação de atividades que drenam energia com atividades que aportam energia permite que reponha um pouco do seu orçamento de energia, em vez de o ir gastando.

Cada vez mais empreendedores e líderes empresariais têm noção de como é importante administrar os seus níveis de energia para que possam dar o melhor de si nos momentos que realmente importam. E criar um orçamento de energia é uma ótima forma para evitar entrar numa espiral de insatisfação ou até de burnout.

14-06-2023

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