Por muito boas condições que as organizações tenham, vai haver sempre desgaste e stress no local de trabalho. Há empresas que já o perceberam e estão a ser criativas na forma como combatem a questão.
Jane Porter
Já todos sabemos que o stress relacionado com o emprego tem consequências graves, tanto a nível individual como em termos do local de trabalho. Só nos EUA, as estimativas apontam que o stress esteja a custar às empresas cerca de 300 biliões de dólares (à volta de 281 biliões de euros) por ano.
Estudos mostram que o stress crónico pode ter um efeito tremendo no nosso corpo, afetando tudo, desde a frequência cardíaca e pressão arterial ao aparelho digestivo e sistema imunitário. E quanto mais stressados estivermos mais o nosso organismo fica vulnerável a doenças, de acordo com Sharon Bergquist, professora de medicina na Universidade de Emory, EUA.
Está provado que o stress relacionado com o trabalho tem ligação direta com uma saúde debilitada. A americana Behavioral Science and Policy Association salienta que o stress no emprego, como a incerteza no posto de trabalho, aumenta as probabilidades de uma saúde debilitada em cerca de 50%; e a elevada exigência no emprego amplia em 35% as probabilidades de ter uma doença diagnosticada por um médico; isto para não mencionar as longas horas de trabalho, que aumentam a mortalidade em quase 20%. Investigadores que conduziram uma meta-análise de 228 estudos exortam as empresas a prestarem atenção aos efeitos nocivos do stress nos funcionários e que tomem medidas para o evitar.
No entanto já há empresas atentas e que estão a ser criativas, com abordagens não convencionais no sentido de apoiarem os funcionários a melhor gerir o stress. Seguem-se três exemplos.
Num esforço para minimizar o stress, a empresa australiana de desenvolvimento de aplicações Appster, tal como um número cada vez maior de tecnológicas, tem regalias que incluem refeições gratuitas e transporte para o local de trabalho. A companhia tem três escritórios: nos EUA, na Índia e na Austrália, e cerca de 380 funcionários. Nas instalações da Califórnia, por exemplo, há um cão de estimação, o husky Howl (Uivo), que ajuda os colaboradores a desanuviar. Paga também passeios aos trabalhadores para fazerem atividades divertidas juntos fora do escritório. O cofundador, Mark McDonald, afirma que, “se as pessoas estão stressadas, não queremos que vão para casa stressadas”. Mas reconhece que ter todos os benefícios do mundo não vai fazer todos felizes.
Por norma, o hábito de falar sobre o chefe ou o trabalho fica confinado a cochichos nos corredores ou na copa das empresas. A Appster instituiu o que McDonald apelida de “relatório semanal de desabafo”, um quadro online onde os funcionários podem escrever as suas reclamações e preocupações, de forma anónima ou não. Os três escritórios da empresa realizam depois reuniões mensais gerais onde as questões apontadas nos relatórios semanais são abordadas de maneira aberta e em pessoa, acrescenta. A Appster também estabelece reuniões mensais individuais para todos os funcionários para que tenham a oportunidade de falar sobre a sua carreira ou quaisquer preocupações que tenham no trabalho. “A forma mais barata, mais eficaz para minimizar o stress é simplesmente ouvir os funcionários”, diz McDonald. “Não custa nada, à exceção de um pouco de tempo, mas o impacto no ambiente e moral é enorme.”
Preste atenção de modo personalizado.
No que diz respeito à gestão de stress, sentirmo-nos ouvidos e reconhecidos é um fator de tal forma crítico que há empresas que se têm concentrado em disponibilizar coaching de gestão de stress através de plataformas virtuais. Fornecem aos utilizadores ferramentas virtuais de redução de stress, técnicas de respiração profunda de 10 minutos, ou exercícios de relaxamento muscular, a par de profissionais de coaching de gestão de stress que recomendam exercícios específicos/personalizados com base nas necessidades dos utilizadores.
Se há empresa pioneira na gestão de stress dos trabalhadores é a Google. Mas os responsáveis sabem que os benefícios e vantagens proporcionados aos seus funcionários – que são bastantes, não são suficientes para enfrentar a pandemia de stress com que têm de lidar. Neste sentido, optaram por uma abordagem mais específica, com aulas para os colaboradores com nomes “zen” como Meditação 101, Procure Dentro de Si, ou Redução de Stress com base em Mindfulness [mindfulness – treino baseado na conexão mente-corpo, ajudando a observar a forma como se pensa e sente acerca da vida, das experiências, seja bom ou negativo; consiste em prestar atenção ao momento presente sem ficar apegado ao passado ou se preocupar com o futuro].
A Google também criou uma comunidade (virtual e presencial) para apoiar e incentivar a prática da meditação, e que passa por meditação diária em vários escritórios; há ainda o que a companhia apelida de “refeições mindful”, ou dias de retiro para meditar em vários locais.
No local de trabalho não é possível eliminar o stress, tudo o que podemos fazer é reagir melhor aos eventos stressantes. E, havendo a possibilidade, por que não ser criativo nas soluções para combater o stress?
20-11-2015
Fonte: FastCompany.com
Jane Porter escreve sobre criatividade, negócios, tecnologia, saúde, educação e literatura. Tem escrito e realizado trabalhos de edição para publicações como o The Wall Street Journal, BusinessWeek, Entrepreneur, Fortune ou The Chronicle of Higher Education.