Por que estão as mulheres em cargos de liderança a desistir?

Por que estão as mulheres em cargos de liderança a desistir?
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As mulheres em posições de liderança estão a deixar os seus empregos a um ritmo sem precedentes nos EUA. A que se deve esta vaga, que já é apelidada de a “grande separação”? As líderes no feminino querem simplesmente uma cultura de trabalho diferente.

Uma grande quantidade de mulheres em cargos de liderança tem vindo a deixar os seus empregos no mercado americano. E apenas uma em cada quatro líderes de nível executivo é mulher, sendo que apenas uma em cada 20 é de cor, segundo o relatório “Women in the Workplace 2022”, realizado pela McKinsey & Company em parceria com a LeanIn.org nos EUA.

As mulheres entrevistadas para o estudo afirmam que enfrentam barreiras que dificultam a sua progressão na carreira, incluindo micro-agressões, ou verem questionadas as suas decisões/análise de situações. Muitas líderes também dizem que querem trabalhar em empresas que priorizam o trabalho flexível e levam a sério o bem-estar dos seus funcionários.

De acordo com o relatório, apesar de ter havido algum progresso nos últimos anos, as mulheres estão “drasticamente sub-representadas” na América corporativa. Apenas um em cada quatro líderes C-suite (nível executivo) é mulher, e apenas um em cada 20 é uma mulher de cor.

É indicado no documento que, pelo oitavo ano consecutivo, há um “degrau quebrado” na escada de promoção e que está a reter as mulheres. É referido, que, por cada 100 homens promovidos de cargos de nível básico para funções de gestão, apenas 87 mulheres são promovidas, e só 82 mulheres de cor são promovidas. “Como resultado, os homens superam de forma significativa as mulheres no nível de gestão, e as mulheres nunca conseguem alcançá-los. Há simplesmente muito poucas mulheres para serem promovidas a cargos de liderança sénior”.

Por que estão as líderes a deixar os empregos?
Os investigadores apontam três principais razões pelas quais as mulheres exigem mais do trabalho e estão cada vez mais dispostas a mudar de emprego para o obter:

1. As mulheres em cargos de liderança são ambiciosas, mas enfrentam mais obstáculos que os homens. Elas são tão ambiciosas quanto os colegas e querem ser promovidas. No entanto, experienciam “micro-agressões que minam a sua autoridade” e dificultam a sua progressão. As mulheres são mais propensas a serem vistas como não qualificadas ou confundidas como sendo juniores.

2. As mulheres em posições de liderança são sobrecarregadas e subestimadas. Em comparação com os colegas, elas esforçam-se mais no que diz respeito ao bem-estar das equipas e em termos de diversidade, equidade e inclusão (DEI). Mas tal não é formalmente recompensado pela maioria dos empregadores, segundo o relatório. É acrescentado no documento que gastar tempo e energia num trabalho que não é apreciado significa também que 43% das mulheres líderes estão esgotadas/em burnout, face a 31% dos homens no mesmo nível.

3. As mulheres querem uma cultura de trabalho diferente. As líderes no feminino são mais propensas que os homens a deixar o emprego por quererem maior flexibilidade. E também estão mais interessadas em trabalhar em empresas mais comprometidas com o bem-estar e DEI. Dado que as jovens trabalhadoras desejam ainda mais estas questões, é indicado no relatório que “as empresas que não agirem podem ter dificuldades em recrutar e reter a próxima geração de mulheres líderes”.

Trabalho flexível é mais importante para elas
Desde a pandemia que a grande maioria dos funcionários nos EUA quer trabalhar em empresas que proporcionam oportunidades de trabalho remoto ou híbrido – fator particularmente importante para as mulheres, segundo o estudo. As mulheres que podem escolher o formato de trabalho são mais felizes no emprego, menos esgotadas/em burnout e “muito menos propensas a querer deixar as suas empresas”.

As mulheres que trabalham de forma remota pelo menos parte do tempo experienciam níveis mais altos de segurança psicológica e menos micro-agressões. Este último fator é especialmente importante para mulheres de cor, com deficiência e LGBTQ+.

Mulheres de grupos diversos enfrentam barreiras maiores
É constatado na pesquisa que a discriminação é muitas vezes agravada quando se trata de mulheres de diferentes raça, orientações sexuais e com deficiência. Segundo o relatório, as mulheres de cor são mais ambiciosas, apesar de receberem menos apoio, sendo que 41% querem ser executivas de topo, em comparação com 27% das mulheres brancas.

As mulheres de cor e aquelas que o relatório descreve como latinas têm menor probabilidade que as de outras raças e etnias de sentir que o seu gestor apoia o desenvolvimento da sua carreira. E declaram que sentem menor segurança psicológica. As mulheres LGBTQ+ e com deficiência também relatam sofrer mais micro-agressões.

A diferença global de género permanece grande
Vai demorar mais 132 anos para que se alcance igualdade de género em todo o mundo, de acordo com o “Global Gender Gap Report 2022” do Fórum Económico Mundial. A Islândia é, pelo 13.º ano consecutivo, o país com maior igualdade de género no mundo.

Este relatório constata que, em 23 economias líderes, as mulheres têm sido contratadas para cargos de liderança em números crescentes desde 2016, passando de 33,3 para 36,9% em 2022. Contudo, a paridade geral de género na força de trabalho global é de 62,9%, o menor nível desde que o índice foi compilado pela primeira vez há 16 anos.

Saadia Zahidi, managing director no Fórum Económico Mundial, refere que “a crise do custo de vida está a afetar as mulheres de forma desproporcional após o choque das perdas no mercado de trabalho durante a pandemia e a contínua inadequação das infraestruturas de cuidados”. Perante uma fraca recuperação, Governos e empresas “devem fazer dois conjuntos de esforços: políticas direcionadas para apoiar o regresso das mulheres à força de trabalho e o desenvolvimento do talento feminino nas indústrias do futuro. Caso contrário, corremos o risco de corroer de modo permanente os ganhos das últimas décadas e de perder os futuros retornos económicos resultantes da diversidade”.

29-03-2023


Portal da Liderança

Nota: Artigo adaptado de um texto produzido para a Global Agenda/Fórum Económico Mundial por Stefan Ellerbeck, senior writer, Forum Agenda.

Women in the Workplace 2022”, McKinsey & Company/LeanIn.org.
Global Gender Gap Report 2022”, Fórum Económico Mundial