É um líder centrado só nos resultados, ou, pelo contrário, é mais focado nos comportamentos? A primeira abordagem lida com os sintomas dos problemas de desempenho deixando as causas sem solução; a segunda elimina-as.
Liderar tem significados diferentes de profissional para profissional. Se é verdade que somos cada vez mais encorajados a acolher a diversidade de pensamento, também é verdade que alguns tipos de liderança podem levar a um comportamento pouco recomendável por parte de quem é liderado e, consequentemente, a resultados indesejados. Isto porque o comportamento de todas as pessoas numa companhia afeta a perceção dessa mesma organização e da sua liderança. Mais: o comportamento influencia a reputação e viabilidade das empresas a longo prazo. E não faltam exemplos para o ilustrar.
Comportamentos de alto risco
Ignorar o efeito das atitudes da liderança no comportamento da organização contribuiu, por exemplo, para o fracasso do tabloide britânico News of the World, encerrado em 2011 após o escândalo das escutas (que envolveram desde políticos a celebridades, passando por desportistas e até funcionários da família real inglesa). Na banca, o comportamento dos responsáveis de topo desencadeou uma conduta de alto risco que levou ao quase colapso do sistema financeiro global.
As organizações de menor dimensão são ainda mais vulneráveis ao tipo de liderança focada apenas nos resultados, dado que a pressão comercial é sentida mais de perto e de forma imediata.
O líder pode pensar que os funcionários têm noção do que é – e o que não é – aceitável. No entanto, pode estar confiante de que todos estão de acordo no que diz respeito a formas aceitáveis de alcançar os objetivos estabelecidos? A organização tem bem explícitas as expectativas em relação ao comportamento dos colaboradores? Aqui não se trata de ter listas de valores e de comportamentos, mas sim da conduta relacionada com todos os aspetos da gestão de desempenho.
Mais com menos?
Deixar os valores da empresa bem claros não garante à liderança que o comportamento está em conformidade. Há “falhas” bem conhecidas, como a da americana Enron, cujos valores eram excelentes, mas, na prática, o comportamento na energética deixava bastante a desejar, o que levou ao escândalo financeiro e consequente falência. Tudo porque este género de organizações não tem condições operacionais que encorajem comportamentos consonantes com os valores apregoados.
A liderança que se concentra apenas nos resultados e ignora as condições necessárias para haver o comportamento desejável acaba por deixar a reputação e o destino da organização ao acaso. E a cultura, a reputação e o futuro da empresa acabam por ser moldados no momento, consoante o que as pessoas decidirem por si mesmas que é conveniente, em vez do que a liderança poderia ter esperado ou desejado. Num ambiente onde se espera que os trabalhadores façam mais com menos o fraco comportamento é quase garantido – sobretudo nas empresas que se concentram apenas nos resultados.
Desempenho aquém
Quando o desempenho não corresponde às expetativas, as atitudes dos líderes influenciam a forma como a questão é solucionada. E se o comportamento não é visto como sendo influenciado pela liderança, as atitudes indesejadas passam a ser vistas como “pertencendo” ao indivíduo em si, conduta que costuma ser abordada com formação, desenvolvimento pessoal, coaching, e por aí adiante. Já quando os líderes reconhecem que a sua liderança influencia o comportamento, a questão é vista de forma diferente – o comportamento é reconhecido como sintoma da influência das expectativas da liderança, das condições operacionais e do indivíduo – questões que devem ser exploradas para estabelecer a verdadeira causa do comportamento e para encontrar uma solução.
Quando há desgaste ou falta de envolvimento dos colaboradores, a liderança focada nos resultados reage com formação em gestão de stress, em termos de resiliência ou com programas vocacionados para que os funcionários fiquem mais envolvidos na empresa; já a liderança focada no comportamento procura tornar as situações de trabalho menos stressantes ou identificar o que está a causar a falta de envolvimento da equipa – para em seguida eliminar ou reduzir a origem. A primeira abordagem lida com os sintomas dos problemas de desempenho deixando as causas sem solução, enquanto a segunda visa eliminar as causas. As intervenções da primeira não produzem retorno sobre o investimento, as da segunda são um autêntico investimento no futuro da organização.
A liderança não pode dar-se ao luxo de ignorar o seu papel no sentido de garantir que o comportamento necessário é possível e provável, porque a liderança irá sempre influenciar o comportamento das restantes pessoas na organização. Para alguns líderes essa influência será deliberada, já para outros nem será pensada.
Basicamente, alcançar os resultados pretendidos com comportamentos aceitáveis vai depender sempre do quanto a liderança aceita e gere a sua influência nos trabalhadores.
29-05-2018
Fonte: Director.co.uk
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