Muda-se um país quando o seu povo altera condutas quotidianas: 13 ideias para mudar Portugal

Muda-se um país quando o seu povo altera condutas quotidianas: 13 ideias para mudar Portugal
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Mudam-se as organizações alterando os comportamentos dos seus membros. Muda-se um país quando o seu povo, em geral, altera condutas quotidianas - seja por "espontânea ocorrência", por iniciativa política, por ação das suas elites, ou por inspiração e estímulo de lideranças carismáticas. Não há, todavia, receitas.

Por conseguinte, as linhas que se seguem são apenas reflexões, não pregações professorais. Algumas são porventura politicamente incorretas - mas não incorretamente políticas.

1. Recompense-se o mérito.
Aumentem-se os níveis de exigência. Premeie-se o rigor e a dedicação. Valorizem-se os bons desempenhos. Mas não se criem fossos indecorosos que firam a dignidade das pessoas e as alienem da vida organizacional.

2. Tomem-se os colaboradores como parceiros realmente fundamentais para a vida empresarial.
A atribuição de culpas pela base ao topo, e vice-versa, gera desperdício de energias em batalhas internas que deveriam ser canalizadas para a produtividade e a qualidade do trabalho. As organizações revigoram-se com os seus colaboradores - e não contra eles ou apesar deles.

3. Partilhem-se os sacrifícios, mas também os ganhos alcançados com esses sacrifícios.
Quem se sentirá empenhado numa organização que requer sacrifícios em tempo de "vacas magras", mas cujos benefícios depois alcançados são açambarcados apenas por um grupo restrito de beneficiários?

4. Que os líderes deem o exemplo. Antes de exigir aos demais, que exijam a si próprios.
Que as suas práticas sejam consistentes com as prédicas. Requerer sacrifícios aos colaboradores e, simultaneamente, esbanjar recursos – eis um caminho que apenas pode gerar cinismo e quebras de empenhamento e lealdade.

5. Que os líderes não "matem os mensageiros das más notícias" nem penalizem os espíritos críticos e independentes.
Caso contrário, acabarão por ouvir apenas aquilo que querem ouvir. Viverão num mundo inexistente e tomarão decisões insensatas.

6. Aprendamos a respeitar o tempo dos outros.
Se cada hora for remunerada a dez euros, teremos dez milhões de euros malbaratados em cada dia - várias centenas de milhões ao longo de um ano. Não é necessário que nos tornemos implacavelmente intolerantes. Mas podemos melhorar!

7. Contrariamente ao que por vezes se alega, os salários são (des)motivadores.
Se não o fossem, não se discutia tão frequentemente o salário dos deputados, nem se ouviria a lamentação de que os salários dos gestores portugueses não são competitivos. Construam-se modelos de compensação mais equitativos e que permitam dignificar o trabalho - de todos os membros organizacionais.

8. Incuta-se na universidade o espírito do rigor e da honestidade.
Que os professores requeiram dos alunos o que requerem a si próprios. E que os estudantes tomem a universidade como um benefício que a sociedade lhes proporciona - em vez de esgotarem energias a tomarem-se como "damas de honor", alvos de todos os mimos.

9. Valorizemos o facto de o País se situar no topo do planeta em muitos indicadores económicos e sociais - em vez de fazermos automutilação permanente porque nos situamos na cauda da Europa.
Tomemos esse brio como factor de empenhamento e dedicação, para que passemos da cauda ao dorso, e depois à cabeça.

10. Combata-se o desperdício nas organizações públicas - na água sem destino, nas resmas de papel inutilizado, na iluminação desnecessária, no tempo desperdiçado em minudências, nos pequenos e grandes protagonismos pessoais narcísicos. Crie-se um prémio nacional que premeie boas práticas de combate ao desperdício.

11. Gozemos as "pontes", e saibamos fruir a vida.
Mas trabalhemos afincadamente antes e depois das "pontes".

12. Compremos o que é português e é bom. Porque não?

13. Aproveitemos o potencial contido em todos os portugueses.
Perguntemo-nos o que podemos fazer pelo País - em vez de invariavelmente pedirmos ao País que se ocupe de nós.


Publicação prévia em Star Tracking e Diário de Notícias.


Armenio RegoArménio Rego é doutorado e agregado em Gestão, lecionando na Universidade de Aveiro. É autor e coautor de mais de três dezenas de livros e tem desenvolvido projetos de consultadoria em liderança e gestão de pessoas e realizado dezenas de conferências, seminários, wokshops e eventos de formação de executivos. Foi agraciado com diversos prémios, em Portugal e no estrangeiro.