Está a ocorrer na China uma considerável inovação, tanto nos setores B2C como nos setores B2B. Quem o diz é Gordon Orr e Erik Roth, responsáveis pelo escritório de Xangai da McKinsey.
“Embora os avanços de qualquer um deles passem, normalmente, despercebidos à maior parte do público global, muitas empresas B2B concorrentes estão atentas aos inovadores avanços que os chineses estão a ter em setores como o dos equipamentos de comunicação e o das energias alternativas. Curiosamente, até as multinacionais lutam em algumas áreas para lidar com a inovação chinesa”.
A falha de visibilidade no B2C
“Quando os consumidores europeus e americanos pensam no que a China faz, pensam instintivamente nos têxteis e brinquedos e não necessariamente em produtos inovadores ou em produtos associados a alguma marca.
Na verdade, muitos dos inovadores produtos chineses ficam na China. Uma visita a uma loja da cadeia Suning Apliance, a maior loja retalhista de produtos eletrónicos, pode ser impressionante. Ali consegue encontrar uma televisão com sistema Android completo, sistema de Internet e aplicações que levem os utilizadores diretamente aos websites chineses mais populares e a serviços de streaming de filmes. Até a qualidade da imagem e o desenho industrial são comparáveis às televisões de alto nível de concorrentes da Coreia do Sul.
Observamos hoje o mesmo tipo de inovação nos modelos de negócios. Pensemos por exemplo no setor online, em especial no serviço de mensagens instantâneas da Tencent’s QQ e do microblog Weibo, da Sina Corporation. Estes modelos, únicos na China, estão a gerar receitas e estão a crescer de uma forma nunca antes vista no mundo. Os preços baixos, sem taxas, e o ativo mercado dos jogos online, gera imenso valor e engloba centenas de milhões de utilizadores chineses.”
O que está a manter os inovadores produtos e modelos de negócio confinados à China?
“No geral, o seu mercado é tão extenso que as empresas nacionais têm poucos incentivos para adaptar os produtos com sucesso, para vendê-los no estrangeiro. Em muitos casos, os conhecimentos e as capacidades destas empresas são orientadas para um mercado doméstico, pelo que mesmo que queiram expandir-se globalmente, encontrarão pela frente diversos obstáculos. Muitos executivos seniores, por exemplo, sentem-se muito desconfortáveis a fazer negócios fora da sua zona geográfica e noutra língua. Para além disso, o sucesso de muitos modelos chineses depende dos recursos locais, por exemplo, do baixo custo da mão-de-obra, das terras baratas e do acesso a capital e a propriedade intelectual, difíceis de conseguir noutro lugar do mundo. Considere o caso dos aparelhos móveis: a maior parte dos fabricantes chineses estariam sujeitos a propriedades intelectuais significativas, como é o caso das taxas de licenças de transporte, se vendessem os seus produtos no estrangeiro.”
O sucesso no B2B
“Diversos setores B2B chineses estão a criar um histórico de inovação a nível nacional e internacional. As indústrias de equipamento de comunicação chinesas, por exemplo, estão ao nível das empresas mundialmente desenvolvidas em termos de qualidade. A aceitação no mercado tem-se expandido muito para além da presença histórica nos mercados emergentes, para incluir os clientes mais exigentes da Europa, como a Telecom França e a Vodafone.
A farmacêutica é outra área onde a China tem feito grandes avanços. Nos anos 80 e 90, o país fez parte da descoberta de novas entidades químicas. Na década seguinte a sofisticação da China tinha aumentado drasticamente. Mais de 20 compostos químicos descobertos e desenvolvidos na China estão agora a ser clinicamente testados.
As indústrias das energias solar e eólica na China também estão no centro das atenções. O país irá ser o maior mercado mundial na tecnologia das energias renováveis e já tem algumas das maiores empresas do setor a fornecerem componentes para a indústria a nível global.As empresas chinesas não só apreciam as vantagens da escala, como também, no caso dos painéis solares.”
“O sucesso da inovação no B2B beneficiou, maioritariamente, ao nível de políticas governamentais generosas, como com o estabelecimento de barreiras no acesso ao mercado; ao influenciar a natureza da colaboração entre fronteiras, ao definir requisitos de propriedade intelectual em veículos elétricos, comboios de alta velocidade e outros segmentos; e ao criar políticas de compras nacionais que beneficiam os bens e serviços chineses. Muitos vêem essas políticas como algo a favor das empresas chinesas, no entanto, as multinacionais devem estar preparadas para a aplicação continuada das mesmas.
Apesar de alguns contratempos recentes, um exemplo interessante de como o governo chinês se alterou para construir uma indústria, advém do comboio de alta velocidade. Antes de 2004, os esforços da China para a desenvolver eram limitados. Desde então, a mistura de duas políticas encorajar a transferencia tecnológica das multinacionais (em troca de acesso ao mercado) e um esforço coordenado de I&D e investimento, que tem ajudado os comboios de alta velocidade da China Railways a dominar a indústria local. As receitas da multinacional neste sector têm permanecido praticamente iguais desde os inícios dos anos 2000.
É demasiado simples afirmar que o apoio do governo é a única razão pela qual a China tem tido algum sucesso no B2B. A força do talento científico e técnico do país está a crescer e as empresas locais têm vindo a trazer essas capacidades para onde são mais precisas. Mais ainda. Um considerável número de esforços de inovação apoiados pelo governo, não têm tido sucesso. Alguns exemplos incluem as tentativas de desenvolver o protocolo de telecomunicações 3G chamado TDS-CDMA e substituir o Wi-Fi comum por um protocolo de segurança de Internet Chinesa, a WAPI.”
Vantagem. As multinacionais?
“As multinacionais têm vindo a moldar o panorama da inovação da China, ao alavancarem ativos globais. Considere, por exemplo, a joint-venture entre a General Motors e a Shanghai Automotive Industry Corporation, que adaptou a americana minivan (Buick GL8 - na foto) para utilizar no mercado Chinês e, mais recentemente, introduziram uma versão desenvolvida na China, para a China. O modelo têm sido muito popular entre os executivos.
Na verdade, o mercado de veículos movidos a motor de combustão interna permanece dominado por multinacionais, apesar dos significativos incentivos do governo chinês, que esperava que algumas das indústrias automóveis nacionais tivessem já emergido como líderes. A força continuada das multinacionais reflete a dificuldade em ultrapassar as indústrias com 40 ou 50 anos de capital intelectual. Transferir capacidades necessárias para desenhar e manufaturar sistemas complexos tem sido um desafio que requer orientação, a cultura certa e tempo.
Estão a surgir também desafios semelhantes ao nível dos veículos elétricos, em que os primeiros indícios sugerem que o equilíbrio está a pender para as multinacionais em virtude de uma qualidade superior do produto. Ao confiar menos na inovação puramente local, a China está a verificar que a questão dos veículos elétricos terá um fim diferente do obtido com as telecomunicações.
A aspiração do governo de ter mais de 5 milhões de veículos híbridos ou a bateria elétrica nas estradas até 2020 é fortemente apoiada por um conjunto de subsídios e de incentivos ao nível das taxas para as empresas locais, conjuntamente com as regras de acesso ao mercado restrito para empresas estrangeiras e com a criação de novos aglomerados. Mas os subsídios e os incentivos podem não ser suficientes para ultrapassar os desafios técnicos de aprender a construir esse tipo de veículos, em especial se as multinacionais se recusarem a investir em empresas locais.
Fonte: McKinsey