A crise económica e social dos últimos anos, provocada em parte por ações baseadas em teorias económicas neopositivistas e desumanizadas, tem vindo a mostrar repercussões entre os académicos da gestão e os profissionais mais esclarecidos e cultos.
É hoje aceite para debate se a Gestão deve manter-se primeiramente alicerçada nas ciências socias de que se tem socorrido – economia, sociologia, psicologia, ciência política – ou se deve também beber das humanidades – literatura, filosofia, artes – para encontrar novos caminhos que as ciências parecem teimar em não encontrar.
É nesta linha que as mais recentes perspetivas académicas ao estudo da gestão estão a seguir na atualidade. Uma das faces visíveis deste movimento é a valorização do estudo do “pensamento da gestão” e da “história da gestão” nas revistas científicas internacionais de renome.
É certo que a formação na área da gestão ainda se mantém fiel a um modelo puramente “engenheirista”, o qual produz quase sempre profissionais que apenas aplicam de forma acrítica as receitas teóricas que lhes ensinaram nos MBAs. Mas há uma nova geração de investigadores e pedagogos da gestão que pretende formar “gestores-cidadãos” e não apenas máquinas de contagem.
Esta “mudança histórica” nos estudos da gestão a que estamos a assistir resulta da evidência crescente das mais-valias dos estudos históricos para a gestão das organizações, de entre as quais se destacam:
- O facto dos erros de gestão apresentarem muitas vezes um carácter cíclico - a crise do subprime nos EUA que ocorreu nesse século replicou o mesmo tipo de acontecimento que ocorreu mais de meia dúzia de vezes no século passado. A ignorância dos gestores de hoje face à História do século XX nos EUA terá estado também na origem da crise, atestando que aqueles que desconhecem o passado estão condenados a cair nos mesmos erros.
- A História é um potente indutor de inovação organizacional e empresarial – estudar como se desenvolveram as grandes indústrias e tecnologias do passado ensina-nos a projetar quais serão os negócios do futuro. Do mesmo modo, compreender o ciclo de vida das grandes civilizações do passado é um poderoso instrumento para antecipar os desenvolvimentos socio-económico-culturais e tenológicos da nossa sociedade atual. Quem antecipar esses desenvolvimentos tem uma vantagem competitiva indiscutível.
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O enquadramento da prática gestionária no desenvolvimento civilizacional requer um conhecimento e reflexão acera da evolução do pensamento da gestão. Conhecer as ideias-chave dos grandes pensadores da gestão torna-se incontornável se queremos desenvolver líderes sociais e empresariais e não apenas gestores tecnicamente competentes. Tal conhecimento permite-nos compreender, por exemplo, que o Taylorismo não foi (e não é) “apenas” uma filosofia operacional para incrementar a eficiência e a produtividade; o Taylorismo foi também uma revolução social que ultrapassou a lógica marxista da divisão entre capital e trabalho e mostrou que interesses de acionistas e trabalhadores podem marchar no mesmo sentido.
Em suma, “pensar” a gestão e aprender com a história é hoje um imperativo para todo os que pretendem não cair nos erros do passado e encontrar insights para inovar e criar novos negócios e mercados.
É a pensar nisso que o ISCSP/Universidade de Lisboa vai lançar já a partir do próximo mês de Outubro a primeira edição do Curso “Grandes Pensadores da Gestão”, que inclui a discussão das ideias de nomes indiscutíveis como os de Peter Drucker, Frederick Taylor e Max Weber.
Miguel Pereira Lopes é professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (ISCSP/UTL). No passado foi professor e investigador na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, professor no instituto Nova Forum – Formação de Executivos, professor na Angola Business School, no INA e no ISPA. Tem uma licenciatura em psicologia pela Universidade de Lisboa, um doutoramento em Psicologia Aplicada pela Universidade Nova de Lisboa e um pós-doutoramento em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. Tem trabalhos publicados em revistas internacionais como Organization, Management Research, International Business Research, Social Networking, Journal of Positive Psychology, Journal of Enterprising Culture, International Public Management Review, Encyclopedia of Positive Psychology, Social Indicators Research, Journal of Socio-Economics, Journal of Industrial Engineering and Management, American Journal of Industrial and Business Management, Business & Entrepreneurship Journal ou Public Management Review. É autor ou co-autor dos livros Psicologia Aplicada (RH Editora), O Mundo é Pequeno (Actual Editora), Organizações positivas: Manual de trabalho e formação (Sílabo), Gestão e Liderança de Talentos… para Sair da Crise (RH Editora), Paixão e Talento no Trabalho (Sílabo), e Good Vibrations: Three studies on optimism, social networks and resource-attraction capability (Lambert Academic Publishing). Faz parte do Editorial Board do Journal of Leadership & Organization Studies.