As marcas como gestoras de conteúdos

As marcas como gestoras de conteúdos

O vídeo alia a beleza da imagem ao som, e permite essa coisa fundamental no relacionamento humano que se chama “emoções”. Mas, embora o custo tenha baixado dramaticamente nos últimos 20 anos, os outros critérios de produção de conteúdos (estratégia, qualidade e profissionalismo) não desapareceram.

Camilo Lourenço

Já reparou na explosão da comunicação por vídeo? Não, não falo do Snapchat, algo que, se não tiver filhos adolescentes, provavelmente não sabe o que é… Falo dos milhões de vídeos que diariamente são “postados” em espaços digitais como o Youtube, o Facebook e o LinkedIn (via links). Sobre tudo e mais alguma coisa: questões pessoais, matérias do domínio empresarial, reações de consumidores, promoção de marcas, etc.

O vídeo ganhou um peso que até há pouco nenhum de nós suspeitava. Porquê? Em primeiro lugar porque o custo de produção baixou dramaticamente: há 20 anos fazia-se com câmaras profissionais, cujo preço subia a vários milhares de euros. Hoje faz-se vídeo com qualquer smartphone. E de qualidade (HDR). Reparou na forma como os jornalistas de televisão fizeram a cobertura da visita do presidente Barack Obama a Cuba, há poucos meses? As transmissões foram feitas com tripés onde estavam montados… iPhone 6.

A segunda razão para a explosão do vídeo tem a ver com a facilidade com que hoje se faz upload para as redes sociais. Nomeadamente o Facebook. A terceira razão, não menos importante, é o facto de todos nós (pessoas individuais e empresas) termos percebido a utilidade deste modo de comunicação: o vídeo alia a beleza da imagem ao som, e permite essa coisa fundamental no relacionamento humano que se chama “emoções”. 

As marcas vivem de emoções, da relação emocional que criam com quem as usa. E quando não são capazes de o fazer, morrem. Ou perdem a liderança do mercado. Recuemos aos anos 1980: lembra-se do peso da Adidas? Quando se falava de desporto, não havia quem não associasse “a marca das três riscas”. Qual é a primeira marca que lhe vem à cabeça hoje, quando se fala de desporto? A resposta é, muito provavelmente, “Nike”.

A forma como a Nike se impôs, desde os anos 1990, assentou em duas premissas: forte comunicação emocional e inovação. A primeira nunca teria o impacto que teve se a empresa não tivesse percebido o poder da imagem. Nomeadamente o vídeo. A Adidas percebeu isso e, no esforço que tem feito para recuperar o espaço perdido, tem apostado fortemente na comunicação por vídeo. 

Onde é que isto nos leva? À ideia de que as marcas nunca tiveram tanta facilidade em comunicar a sua mensagem. Não apenas na forma (pela via escrita, fotografia, vídeo…) mas em diferentes plataformas: redes sociais, TV, imprensa, rádio. Com qualquer pequeno orçamento é possível criar vídeos de qualidade. E se a isso associarmos a criatividade, o resultado final pode fazer milagres pela marca (veja-se o impacto dos vídeos que se tornam virais…).

O problema é que o baixo custo de produção está a revelar-se uma armadilha para algumas empresas. Porque o conteúdo é feito sem critério, sem pensamento estratégico ou, pura e simplesmente, sem competência.

Vale a pena as marcas pensarem nisto: embora o custo tenha baixado dramaticamente nos últimos 20 anos, todos os outros critérios que presidiam à produção de conteúdos (estratégia, qualidade e profissionalismo) não desapareceram. O mesmo é dizer que quando uma empresa quer produzir, e divulgar, os seus próprios conteúdos tem de entregar essa função a profissionais competentes. Caso contrário acabará por perceber que o resultado final não acrescenta nada ao valor da marca. E até pode ter o efeito inverso: destruir valor.

30-05-2016

CamiloOPCamilo Lourenço, licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa, passou pela Universidade Católica Portuguesa, bem como pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e também pela americana Universidade de Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é ainda docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a realizar palestras de formação dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como liderança, marketing e gestão. Em 2007 estreou-se na escrita. No seu livro mais recente, “Fartos de Ser Pobres”, volta "a pôr o dedo na ferida", analisando os resultados eleitorais, os vários cenários políticos e os novos desafios para a economia.