Há empatia aos pacotes. Mas por que nem sempre a encontramos?

Há empatia aos pacotes. Mas por que nem sempre a encontramos?
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Os trabalhadores reconhecem a empatia como a competência mais necessária num líder, segundo um estudo recente; no entanto, muitos referem que não a encontram nas chefias diretas. A empatia tem de ir muito além das palavras. É preciso (mais) ação.

Carla Rocha

Há uns tempos, num evento em que participei para dirigentes desportivos, estava a Ana Bispo Ramires, psicóloga de performance desportiva que conheço de muitos outros encontros. Falávamos de relações humanas e de empatia e a dada altura a Ana atirou para cima da mesa um comentário surpreendente, mas muito lúcido. Algo como “hoje há por aí empatia aos pacotes”. Sabe quando alguém diz algo que resume na perfeição o que pensa sobre um assunto? Foi o que senti quando ouvi esta ideia da Ana. – Empatia aos pacotes.

É muito verdade, isto. Estamos permanentemente a ouvir falar em empatia e de como é tão necessária. A toda a hora somos chamados a ser empáticos nas nossas vivências pessoais e profissionais. Todos conhecemos o impacto. Uma sociedade ou uma organização onde há empatia é, dizem, um lugar melhor. E estamos de acordo, claro. A empatia é um pilar fundamental de qualquer relação. Mas é preciso que ela aconteça realmente – e o que me parece é que estamos a deixar-nos ficar por uma camada superficial da empatia, e isso já não é suficiente para que, quem está à nossa volta, a sinta realmente da nossa parte.

Num estudo elaborado pela Community (plataforma portuguesa de serviços e de informação sobre como podemos trabalhar e viver melhor) divulgado este verão, a empatia foi a competência mais referida como sendo necessária num líder, mas apenas 58% dos trabalhadores reconhecem que as suas lideranças conseguem colocar-se no lugar dos elementos da equipa. Então, se sabemos que a empatia é a porta para o sentimento de pertença e a chave da criatividade e da inovação, se queremos equipas alinhadas e motivadas e precisamos de reter talento (o mesmo estudo da Community refere que cerca de 80% dos colaboradores já pensaram mudar de trabalho por causa da sua chefia direta), o que está a faltar? O que é preciso para um líder ser considerado empático pelos seus colaboradores?

É preciso (mais) ação. A empatia tem de ir muito além das palavras. Não podemos ficar pela posição de ouvinte, em que escutamos o problema de alguém, compreendemos a sua dor, rematamos com um “entendo-te” em piloto automático e depois tudo continua igual.

Daniel Goleman, autor do livro best seller “Inteligência Emocional”, dá-nos pistas certeiras sobre o tema. Este psicólogo americano faz a distinção entre a empatia cognitiva, a emocional e a preocupação empática. A empatia cognitiva está relacionada com a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de vermos o mundo pela sua janela; é o nível do entendimento e da compreensão. A empatia emocional já pressupõe uma conexão, uma sintonia com a outra pessoa; é sentir na nossa pele o que o outro está a sentir, mais do que simplesmente entender. Depois há a preocupação empática, que é o nível máximo de empatia, quando nos preocupamos com o que o outro sente e fazemos algo para ajudar a melhorar o seu estado de alma. É a empatia como virtude social, diria Daniel Goleman, porque, aqui sim, esta competência está inteiramente ao serviço de quem nos rodeia. É quando entramos neste nível que mostramos que valorizamos realmente o bem-estar da outra pessoa, ao ponto de nos colocarmos à sua disposição para agir e concretizar ações que vão ao encontro das suas necessidades.

É este tipo de empatia que temos de trabalhar: a empatia que é mais do que palavras, que é movimento; a empatia que não é só conforto, é ação. Temos de perceber o que o outro está a sentir e depois passar à fase seguinte, que é identificar o problema e colocar soluções práticas em cima da mesa – mudar estratégias e mexer no que está estabelecido.

A empatia não é só “calçar os sapatos dos outros”. Ou melhor: é isso, mas já não pode ser só isso. Temos de nos pôr em marcha. Para quê? Para provocar uma mudança efetiva – nas pessoas e nas organizações. Não há resultados na vida de ninguém se apenas ouvirmos e dissermos que entendemos. Enquanto não concretizarmos a empatia em ações específicas, dificilmente vamos – enquanto líderes – ter o impacto que as pessoas nos merecem.

20-09-2023

Portal da Liderança


CarlaRocha

Carla Rocha é apresentadora na Renascença e consultora na área de comunicação. Na sua experiência de quase 30 anos de rádio esteve à frente de programas líderes de audiência em Portugal como “As 3 da Manhã” na Renascença, o “Café da Manhã” ou o talk show “Rocha no Ar” na RFM. Enquanto consultora em comunicação tem vindo a colaborar com empresas portuguesas e internacionais, nas quais implementa programas de formação. Fundou a empresa Carla Rocha Comunicação, a Academia Fale Menos, Comunique Mais e a Academia Fale Menos, Influencie Mais, com o objetivo de partilhar técnicas e estratégias de comunicação mais eficaz, influente e autêntica.
Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa; pós-graduada em Gestão de Marketing, Comunicação e Multimédia pelo Instituto Superior de Economia e pós-graduada em Gestão Aplicada para Gestores de PME pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE), completou os cursos Leadership Principles (2021), Management Essentials (2021) e Negotiation Mastery (2022) na Harvard Business School Online, tendo obtido o Certificate of Specialization in Leadership and Management. Concluiu o curso Liderança no Futuro do Trabalho na Nova SBE. É docente na pós-graduação em Gestão do Bem-Estar e da Felicidade Organizacional na Faculdade Egas Moniz e do MBA Organisational Happiness no ISEC Lisboa - Instituto Superior de Educação e Ciências. Colabora com a Universidade Católica Portuguesa nos Programas de Executivos e com a Nova SBE no Mestrado Executivo em Liderança.
Foi curadora e oradora do TEDxULisboa e coordenadora do programa Atletas Speakers (desenvolvido pelo Comité Olímpico de Portugal, treina e orienta atletas olímpicos enquanto oradores). Tem participado em várias convenções e formações intensivas da National Speakers Association, nos EUA, sobre como falar em público.
Autora dos livros “Fale Menos Comunique Mais – 10 Estratégias para se Tornar um Grande Comunicador” e “Fale Menos Influencie Mais - 5 Estratégias para ser Ouvido e Comunicar com Influência”, tem vários artigos sobre comunicação publicados em livros e em revistas das mais variadas áreas temáticas.