Líder que é líder lê pensamentos e faz boas apresentações, sabia?

Líder que é líder lê pensamentos e faz boas apresentações, sabia?
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Se não tem o talento de adivinhar os pensamentos da sua audiência como vai conseguir superá-la e oferecer um grande momento de comunicação? Não vai. E pode estar a tornar a sua vida mais difícil e a vida deles um pouco mais aborrecida.

Sara Batalha

E se conseguisse ler os tais pensamentos que todas as audiências trazem no inconsciente de cada vez que o encontram no papel de comunicador? Ajudava? Então pode continuar a ler, porque vai descobrir como preparar uma apresentação, formal ou informal, de forma mais eficaz, rápida e melhor que da última vez.

Veja se reconhece estas perguntas:
- Porquê?
- Para quê?
- Como?

Coloque-se por instantes no papel de audiência e lembre-se do seguinte:
 
- Tenho de ir à tal reunião, entrevista ou formação “porquê”, quando tinha tanta coisa mais importante para fazer? Porque é que vai ser importante para mim?

- Ok, e mesmo que seja importante, vai servir “para quê”, de uma forma útil e rápida?

- E mesmo que seja importante para mim e útil, “como” vai mudar a minha vida? “Como” vai ter impacto? “Como” pode ajudar-me? E “como” posso contribuir? 

São estas as grandes perguntas que a grande maioria da população faz, e aposto que já as fez pelo menos uma vez, certo?

No fundo, quando somos audiência queremos saber antecipadamente a conclusão da história, o resumo ou até mesmo o preço. Já quando somos comunicadores, e fazemos uma apresentação, por exemplo, achamos que devemos guardar o melhor para o fim, para “os manter interessados!”. Mas porquê?

Que sentido é que isto faz? Por que é que tantas empresas e líderes continuam a construir apresentações com base no velhinho “quem somos, o que fazemos, onde atuamos, quando começou a nossa empresa...”? A quem é que isto interessa? A audiência está a pedir desde o início “diz-me qual a razão de isso ser importante para mim! O que vou ganhar com a tua mensagem? Que significado tem a tua apresentação para mim?”, “por favor, dá-me uma razão para te ouvir até ao fim”.

As empresas portuguesas andam a comunicar ao contrário. Talvez seja por isso que a sua equipa não o ouve? Ou o tal cliente não adjudica?

Com base na experiência de oito anos a treinar a comunicação de líderes, posso confidenciar-lhe que a estrutura das apresentações dos portugueses está fora de moda. Vem do tempo da revolução industrial. Fomos enganados pelo sistema de ensino. Quer descobrir porquê? Vem desde a altura em que a sua professora do ensino primário lhe dizia: “escreve uma composição com princípio, meio e fim”. Mais tarde veio o coordenador de tese: “senhor engenheiro, apresente-me um projeto com enquadramento, desenvolvimento e conclusão”.

E o que é que nós fizemos? Transferimos a estrutura linear da comunicação escrita para a comunicação oral. Mas quem disse que era eficaz e imutável? Quantas audiências gritam de forma muda que afinal não querem saber do nosso curriculum, nem quem é a nossa empresa, e muito menos dos nossos resultados – pelo menos até saberem que vale mesmo a pena ouvir-nos. Fomos infetados pelo vírus do “andamos todos a comunicar ao contrário”. Transferimos a estrutura clássica da notícia (quem, o quê, onde, quando, como, porquê e para quê) para a oralidade. Só que as audiências mudaram. E muito. Já não temos paciência para esperar pelo fim. A moeda desta nova economia é o tempo, e o nosso tempo vale cada vez mais. 

Veja por outro ponto de vista: se analisar a série televisiva CSI vai reparar que começa pelo fim. Alguém morre em todos os episódios. E depois do “porquê” apelam à nossa curiosidade para manter presa a atenção até ao fim. É o que também pode fazer na próxima apresentação.

Já ninguém quer esperar pelo fim para ver se há ação. Partimos do princípio que mais uma vez vão defraudar as nossas expectativas. Queremos que haja alguém que adivinhe os nossos pensamentos e nos surpreenda. Haja alguém que nos inspire, e rápido, de preferência. Sonhamos com o dia em que a tal reunião, apresentação ou conferência comece com as respostas às nossas perguntas mais íntimas: porquê, para quê e como. 

Esta é uma das técnicas de preparação de comunicação que utilizam cada vez mais líderes portugueses, e hoje partilho-a consigo.

Agora que já tem o poder de adivinhar pensamentos, o que vai fazer: começar com o seu “quem” ou recomeçar pelo “porquê”? A escolha é só sua. O resultado também. 

Próximos episódios: conheça os resultados do primeiro estudo em Portugal sobre o que pensam os jornalistas portugueses acerca do media training. Boa comunicação!

10-02-2016

 

SaraBatalhaSara Batalha, CEO da MTW Portugal (que integra a Media Training Worldwide Global, empresa de origem americana especializada em media training, public speaking e presentation training skills), recebeu formação em Nova Iorque pelo presidente da MTW Global, TJ Walker. Autora do método “desconstrução do discurso” (com o qual treina a comunicação de políticos, CEO, empresários e profissionais que querem influenciar através da sua comunicação), é certificada em coaching pela International Coaching Community, em DiSC 2.0 pela Inscape, e em micro expressões pelo Paul Ekman Group, aplicando esse conhecimento na especialização em communication behaviour profile analyst.
Acumula cerca de 20 anos de experiência em comunicação, tendo sido jornalista e coordenadora de redação por mais de uma década (“Expresso”, RTP1 e RTP2). Foi consultora de comunicação para agências e empresas, lecionou no CENJOR - Centro de Formação Avançada para Jornalistas, e é docente convidada em universidades do país. É ainda oradora frequente em conferências nacionais e internacionais, marcando presença nos media com análise política em linguagem não-verbal.