David Bowie e o poder dos (bons) exemplos a seguir

David Bowie e o poder dos (bons) exemplos a seguir
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Todos podemos aprender com uma variável constante na longa e bem-sucedida carreira do cantor: a sua atitude em relação aos modelos a seguir e ao mentoring.

David Bowie não tinha qualquer problema em escrever canções em homenagem aos seus modelos musicais. Mais tarde na carreira, o músico estava consciente do próprio poder enquanto exemplo a seguir. O compositor e ator, cujo trabalho em discos e em filmes inspirou inúmeros fãs e artistas pelo mundo, morreu aos 69 anos, a 10 de janeiro de 2016, após uma batalha de 18 meses contra um cancro no fígado.

Se há algo que os líderes empresariais podem aprender com a longa e bem-sucedida carreira do cantor é a sua atitude em relação aos modelos a seguir (“role model” em inglês) e ao mentoring. Enquanto a maioria dos músicos esconde as suas inspirações artísticas, David Bowie prestava tributo às suas de forma aberta. E já enquanto artista maduro – quando o próprio era um modelo para a geração mais jovem – Bowie levava o seu papel de mentor muito a sério, de acordo com a revista Inc.

Nos negócios, é bem conhecido o poder de ter um mentor ou alguém que se considera um exemplo a seguir e a forma como pode influenciar jovens colaboradores. Como refere o especialista em liderança Bill George no livro “Discover Your True North”, Mark Zuckerberg prosperou em grande parte graças à sua rede de mentores, que inclui Don Graham (ex-CEO da Washington Post Company), Bill Gates (cofundador da Microsoft) ou Marc Andreessen (cofundador da Netscape Communications Corporation e coautor do Mosaic). Bill George diz que “as pessoas perguntam “como é que [Zuckerberg] tem a sabedoria de alguém 20 anos mais velho?”. E a resposta é: “ele procurou realmente bons mentores, desde muito cedo”. Uma vez, em busca de orientação espiritual, Zuckerberg visitou um templo na Índia a mando de outro dos seus mentores: o falecido Steve Jobs.

Voltando aos modelos de David Bowie, encontram-se logo num álbum crucial no início da sua carreira: “Hunky Dory”, de 1971, refere a Inc. O álbum inclui homenagens a Andy Warhol, Bob Dylan e Lou Reed. São três músicas no lado 2 do disco que, em conjunto, formam uma declaração sobre as influências artísticas de Bowie.

A ascendência de Warhol em Bowie é evidente: tal como Warhol, trabalhou em vários géneros, rompeu barreiras e esforçou-se para desafiar o rótulo fácil do seu trabalho. David Bowie não escondia a sua admiração pelos Velvet Underground, banda cujo vocalista era Lou Reed e o manager era Warhol. Em 1972 Bowie coproduziu “Transformer”, o segundo álbum de Reed.

Quanto a Bob Dylan, David Bowie disse uma vez que a canção-tributo do trabalho de 1971 era a sua maneira de tirar a Dylan a liderança no rock. A música “expunha o que eu queria fazer. Foi nessa altura que eu disse, ‘Ok (Dylan) se não o queres fazer, faço eu’. Eu vi um vazio de liderança. Mesmo que a música não seja das mais importantes no álbum, representava para mim tudo o que o álbum era. Se ninguém ia usar o rock ‘n’ roll, então iria eu”. E fê-lo. David Bowie continuou a fazer grandes discos nos 40 e tal anos que se seguiram. E, com o passar do tempo, ele próprio se tornou num dos exemplos mais proeminentes do rock. Há uns anos, o músico Trent Reznor, fundador da banda de rock industrial Nine Inch Nails, disse à revista Rolling Stone que Bowie o tinha ajudado ao ser seu mentor num período em que lutava contra o alcoolismo, o abuso de drogas e outras substâncias. Trent Reznor afirmou que “estava a chegar ao pico do meu vício, e ele foi uma espécie de mentor, um grande irmão, amigo, que me aconselhou”.

Ou seja, com a história da música moderna repleta de exemplos menos felizes pelos mais variados motivos, David Bowie perdurou, e o seu percurso impressionante enquanto artista, e modelo a seguir, também vai perdurar no tempo.

08-01-2019


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