What makes a company succeed?

What makes a company succeed?
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Quando se pensa na “ciência” gestão, há um tema que se tornou constante: por que falham as empresas? O assunto tem sido glosado por variadíssimos autores que se dedicam a estas matérias. Há até livros, muito interessantes, onde a questão é escalpelizada ao pormenor. 

Eu não quero envolver-me em tão acalorada discussão. Não só porque não tenho competência científica para o fazer, mas porque sei que seria “mais um entre tantos”. Mas de vez em quando dou comigo a pensar no assunto. Sobretudo porque, como jornalista de economia, vou conhecendo muitos casos de sucesso. Só que alguns deles começaram por ser pouco mais do que promessas. Um dos mais interessantes ocorreu em 2012, quando me convidaram para moderar um painel sobre “Ferramentas de Apoio à Exportação”, organizado pela Portus Park, em São João da Madeira. Uma das empresas em análise era uma ilustre desconhecida: a Farfetch. E não era desconhecida apenas do público em geral; era dos próprios jornalistas de economia. Depois de perceber o que a empresa fazia, pela boca do seu líder, dei comigo a pensar se caberia no grupo das mais interessantes de que ouvira falar nesse dia. O projeto era ambicioso: como convencer as empresas que comercializavam roupa de luxo e acessórios a vender os seus produtos online? Sendo que a plataforma (site, fotos dos produtos, serviços financeiros, sistemas de transação) seriam assegurados pela empresa portuguesa? 

Voltei a ouvir falar da empresa a espaços nos últimos anos, sem ter a certeza se ganharia a tração suficiente para se afirmar num mundo sem fronteiras; afinal qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, com acesso a tecnologia podia fazer a mesma coisa… Mas alguns sinais sugeriam que estava no bom caminho: o número de funcionários foi aumentado (já são 600, 45% dos quais em Portugal), o número de empresas associadas foi subindo (300, em 27 países) e as vendas também: em 2013 faturou 300 milhões de euros…

Há algumas semanas as minhas dúvidas ficaram esclarecidas: num processo de angariação de capital, a Farfetch foi avaliada em torno de 900 milhões de euros. Novecentos milhões, não 100 milhões. Primeiro ponto: nunca ouvi falar de nenhum nenhum projeto português, que tenha começado como startup, que tivesse chegado a esta valorização. Segundo ponto: o projeto mereceu aprovação de grandes investidores externos. 

Não voltei a falar com José Neves, o responsável da Farfetch. Mas quando o fizer, tenho a certeza de que as conclusões a que vou chegar não serão muito diferentes desta: o sucesso baseia-se no binómio talento (na gestão) e capacidade de execução. O capital é importante mas é a componente menos importante. Como se viu, se o talento estiver lá, e se além do talento os processos assegurarem uma correta implementação do projeto, o sucesso é garantido. 

É isto que devíamos estar a passar para a sociedade portuguesa: para quê alimentar a cultura da subsídio-dependência se o dinheiro (do contribuinte) que deitamos para cima de empresas inviáveis poderia ser mais bem aproveitado em projetos de futuro? A propósito, alguém viu este tema discutido na campanha eleitoral?

 


Camilo-Lourenço-FotoNovaCamilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque e University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita, sendo o seu livro mais recente “Saiam da Frente!”, sobre os protagonistas das três bancarrotas sofridas por Portugal que continuam no poder.