José Pedro Melo, managing partner da Leadership Business Consulting em Angola, refere que "Estamos presentes nos mercados africanos há 10 anos" e que "todas as empresas que se querem internacionalizar para Angola têm de ultrapassar algumas barreiras", sendo que "hoje em dia a implementação é chave".
Com base num programa piloto que realizámos junto de um Ministério angolano, onde capacitámos operacionalmente todos os Dirigentes de 1ª e 2ª linhas, nasceu o Programa Liderança em Acção.
Portal da Liderança (PL): A Leadership encontra-se presente em sete países, entre eles Angola, onde é Country Manager. Quais os desafios que se lhes depararam no processo de internacionalização para esse mercado?
José Pedro Melo (JPM): Cada mercado tem os seus desafios intrínsecos. No caso de Angola há uma economia em forte crescimento, com recursos naturais extraordinários e uma sociedade com uma vontade firme de construir um novo país, depois dos anos de conflito armado. Mas nós, e todas as empresas que se querem internacionalizar para Angola, têm de ultrapassar algumas barreiras como são ainda a limitada existência de quadros locais de nível médio e superior, a falta de infra-estruturas de suporte nas mais diversas áreas, os processos administrativos obsoletos, burocráticos e complexos de lidar e também (especialmente) uma cultura diferente da nossa. Estamos em África e temos obrigação de perceber essas diferenças, apesar de falarmos a mesma língua e de termos referências culturais muito próximas dos angolanos na cultura, no desporto, na gastronomia, entre outras áreas.
PL: A Leardership afirma-se como um centro de competências. O que vos diferencia dos demais?
JPM: O Grupo tem três áreas de negócio: consultoria, tecnologia e academia. Essa visão integrada permite-nos identificar as melhores estratégias ou soluções de negócio e acrescentar a isso a capacidade de as implementar, seja através de uma ferramenta tecnológica, da capacitação organizacional ou dos recursos humanos dessas organizações.
A Leadership tem uma ampla experiência e uma grande capacidade local. Estamos presentes nos mercados africanos há 10 anos o que nos dá um bom track record e conhecimento da realidade específica destes mercados.
Na área da capacitação, em concreto, temos a Leadership Business Academy que tem como missão incrementar a competitividade das organizações nossas clientes, nomeadamente através da gestão do talento e do conhecimento. Desenvolvemos os líderes e capacitamos as pessoas que integram essas organizações, beneficiando das nossas práticas de consultoria de gestão, e garantimos o retorno do investimento em iniciativas formativas, ao enquadrá-las nos respetivos objetivos estratégicos. A nossa formação está ligada a vários centros de competências da consultadoria de gestão e a uma experiência real na Administração Pública com mais de 350 projetos internacionais.
PL: Com que organismos e empresas angolanos é que mais têm trabalhado?
JPM: Reservamos alguma confidencialidade sobre os nossos clientes. Mas temos estados nas maiores empresas públicas dos setores chave para o país – principalmente as utilities e o oil and gas. E também nos Ministérios em trabalhos de desenvolvimento de planos estratégicos ou planos de desenvolvimento para sectores chave como são a Sociedade da Informação, a Educação, as Telecomunicações, a Governação Electrónica, as Pescas e a Reforma da Administração Pública. Apoiamos na elaboração de documentos de referência com visão para o país nos próximos 5 ou 10 anos.
PL: Em Angola têm trabalhado muito com a administração pública do país. O que pensa estar a fazer falta ao nível da administração pública de Angola para potenciar o desenvolvimento e a qualidade da liderança?
JPM: Acreditamos que é fundamental capacitar as chefias intermédias com uma formação muito pragmática e operacional, baseada em ferramentas úteis, que não é académica, nem formação atomística de ações isoladas. Fizemo-lo nos últimos 10 anos em Angola, com bons resultados. Com base num programa piloto que realizámos junto de um Ministério angolano, onde capacitámos operacionalmente todos os Dirigentes de 1ª e 2ª linhas, nasceu o Programa Liderança em Acção. Trata-se de um programa de formação modular, testado, que visa contribuir positivamente para a formação dos quadros ministeriais e dos organismos públicos angolanos com um conjunto de competências adaptadas ao seu sector de atividade. Falamos de finanças, planeamento, indicadores de gestão, recursos humanos, gestão de equipas, negociação e compras públicas, entre outros assuntos. É um guia para o gestor público de “A a Z”.
PL: Como é que esta poderá ser uma mais-valia e fazer a diferença para o sucesso do dirigente angolano e do Ministério que lidera?
JPM: O nosso objetivo é o de aumentar a capacidade de planeamento, de liderança, de gestão e de execução dos Dirigentes angolanos, possibilitando simultaneamente uma formação de alto nível, ajustada às reais necessidades do seu trabalho e junto do seu local de trabalho. Desenvolvemos este programa de forma modular: na sua vertente intra, para um único ministério, em que adaptamos os módulos opcionais para que possa ser construído à medida e com módulos inteiramente customizados; na sua vertente inter com módulos de conteúdos transversais, numa opção de 5 meses ou de 10 meses de acordo com as preferências dos inscritos. Desta forma poderemos garantir que o Programa da Leadership Academy irá de encontro às reais necessidades do Dirigente e que no final estará mais capacitado para o exercício da sua liderança e assim causar impacto e atingir o sucesso.
PL: Mas não acredita que há um conjunto de competências comuns que todo e qualquer líder deverá dominar no exercício da liderança e a base de toda e qualquer gestão?
JPM: Sem dúvida. Por isso mesmo constam no currículo deste Programa módulos obrigatórios e que capacitarão os Dirigentes angolanos a esse nível. Neles incluímos a especificidade da Administração Pública em Angola, com o seu enquadramento legislativo e orgânico, os Princípios Fundamentais de Liderança e Gestão, a Estratégia, o Planeamento e Monitorização, a Gestão de projetos, a Gestão de equipas de elevado desempenho e a Gestão da inovação e da mudança. Já ao nível dos módulos opcionais, que permitirão a escolha mais adequada às reais necessidade de cada Dirigente e Ministério, incluímos temas como: as Finanças para não financeiros, o Marketing na Administração Pública, a Gestão de recursos humanos na Administração Pública, a Delegação e responsabilização, a Inteligência emocional, Técnicas de apresentação e comunicação, a Gestão do tempo e produtividade e a Negociação e compras públicas
PL: Qual o balanço que faz da prática da gestão em Angola?
JPM: Em claro desenvolvimento. Posso dar-lhe a minha experiência prática. O que exigem de nós, consultores, é hoje muito mais que há alguns anos atrás. Mais sofisticação nas soluções, mais pragmatismo na intervenção e capacidade de fazer as coisas acontecer. Não é nestes princípios que se baseia a gestão moderna?
PL: Quais as competências a potenciar nos líderes angolanos para melhorar a performance?
JPM: As competências de gestão tradicionais onde se incluem a gestão de recursos, o entendimento da área orçamental e financeira, o planeamento e a monitorização, entre outros. Mas o mais importante é a capacidade de implementação, de fazer as coisas acontecer, com prazos razoáveis e custos eficientes.
As pessoas e as empresas querem ver a mudança, querem sentir isso nas suas vidas no dia-a-dia. E os decisores/ gestores vão sentir essa pressão. Falo da pressão de “entregar” e de melhorar os processos de trabalho, da eficiência da utilização de recursos, da qualidade do atendimento aos cidadãos/ clientes, do reporte das suas atividades, entre outros.
PL: Onde mais tendem a falhar os líderes?
JPM: Precisamente nessa parte, na “entrega” na implementação. Fazem-se muitos documentos, Planos estratégicos, Planos de Atividades, Cronogramas e Orçamentos. São partes importantes da gestão, sem dúvida, mas hoje em dia a implementação é chave.
Na disciplina estratégica esse fator é ainda mais claro. Antigamente fazia-se um plano estratégico para 10 anos e durante esse 10 anos seguiam-se essas orientações, com grande disciplina e pouca flexibilidade. O mais importante era garantir que se estava a executar aquela estratégia. Por isso mesmo tratavam-se de planos que demoravam alguns meses a construir, que envolviam muitas equipas e onde havia uma grande mobilização da organização à sua volta.
Hoje os planos estratégicos são documentos de referência à volta dos quais existe muita flexibilidade e capacidade de adaptação. São documentos a 3 anos (5 no máximo) e dão orientações sobre a forma como a empresa se deve comportar. Depois o jogo joga-se na capacidade de lançar novos produtos e serviços, que têm de estar sempre em constante mudança e adequação às condições de mercado. Isto implica uma grande interação multidisciplinar entre as diversas áreas funcionais (operações, marketing, finanças, comercial, etc), agilidade e espírito criativo.
José Pedro de Carvalho Ferreira de Melo é formado em economia pela Universidade Nova de Lisboa,especializado em economia da empresa, áreas de marketing e finanças e pós-graduado em Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. (eBusiness) pelo INDEG – Business School do ISCTE. É partner da Leadership Business Consulting e managing partner de Angola.