João Vieira da Cunha, professor na Universidade Europeia e professor visitante na Universidade de Ashrus; José Manuel Fonseca, docente na Universidade Europeia e na Suécia; e Rui Grilo, diretor para a educação na Microsoft em Portugal, referem que "o pior gestor é aquele que se esconde atrás de folhas de cálculo ou de apresentações para branquear decisões erradas dizendo que não há alternativa".
Portal da Liderança (PL): Na vossa opinião, quem foi o pior e o melhor gestor da história? O que destacam?
João Vieira da Cunha (JVC): Qualquer gestor que seja capaz de ser brutalmente honesto consigo próprio vai ler textos no nosso livro em que se vai rever a fazer coisas de que não se orgulhará. Nessa altura pode-se sentir o pior gestor da história. Mas também espero que ao ler outros textos no nosso livro, ganhe coragem para se comprometer com a sua humanidade, mas comprometer a sério. Se o fizer, vão haver dias em que os seus colaboradores o farão sentir o melhor gestor da história.
Rui Grilo (RG): O melhor gestor é aquele que tem a coragem de tomar decisões e de as assumir com verdade perante as pessoas com quem trabalha, sobretudo quando sabe que os resultados também vão depender de factores imprevisíveis. O pior gestor é aquele que se esconde atrás de folhas de cálculo ou de apresentações para branquear decisões erradas dizendo que não há alternativa…
José Manuel Fonseca (JMF): O melhor gestor em regime de Project Management foi claramente o Moisés. No tempo recente acho que o mais inovador foi o Dias Loureiro. O sistema de data minning por ele criado é fabuloso. O pior foi, eventualmente, o D. Sebastião.
PL: O que os levou a escrever as crónicas e agora a reuni-las e avançarem para a publicação do "Terror ao Pequeno-Almoço"?
RG: Começámos uma coluna sobre gestão no Diário Económico porque faltavam textos que discutissem experiências reais de gestores reais, nas suas dificuldades e nos seus sucessos. Percebemos que muitos dos textos que fomos publicando ao longo de quase quatro anos continuavam mais atuais do que nunca. Por isso decidimos organizá-los e acrescentá-los para contruir um livro que tivesse algo de diferente. Não porque faltem livros sobre gestão nas estantes das livrarias, mas sim porque faltam livros que relatem situações com as quais os leitores se possam identificar. Pelas reações que temos recebido dos nossos leitores, parece-nos que o objetivo foi alcançado e livro não podia ser mais atual. O momento de crise que atravessamos está a popularizar técnicas de gestão como as que descrevemos no “Terror ao Pequeno-Almoço” e é preciso lembrar que os fins não justificam os meios, sobretudo quando se tomam decisões que afetam a vida de muitas pessoas.
JMF: Acho que foi o facto de existirem pessoas a escrever livros sobre o que se pode aprender com gansos. Se há pessoas que nos ensinam a gerir observando elefantes, lobos, galinhas, patos e outros membros da fauna, também seria possível escrever um livro com práticas de gestão que funcionam num espectro larguíssimo de empresas e que depois são diabolizadas por pensadores eméritos e académicos distintos que nunca pagaram salários ao fim do mês e nunca descontaram letras de favor para poderem pagar a fornecedores quando os clientes não pagam. Ao longo de anos fomos escrevendo sobre estas coisas triviais do dia a dia e de repente tínhamos um padrão.
JVC: No meu caso, foram os 15 meses que passei a observar uma multinacional de telecomunicações para a minha tese de mestrado. Nesses 15 meses fiquei convencido com o que diz o Arthur Conan Doyle numa das história do Sherlock Holmes: que a realidade é muito mais estranha do que qualquer história que a imaginação consiga conceber. Vi muitas histórias que precisava de contar, quase como quando me zangava com uma namorada e precisava de falar com um amigo.
PL: Porquê pegarem nas práticas menos recomendáveis da gestão?
JMF: Porque as mais recomendáveis já vêm nos livros do tipo "temos de ser boas pessoas". E nos manuais de ética da Enron. Falhadas essas boas práticas, era melhor escrever sobre o que efectivamente funciona e faz mover o mundo.
JVC: No meu caso, quis chamar a atenção para uma contradição nos livros e nas aulas de gestão: idolatram-se líderes como o Steve Jobs, o Jack Welch, o Lee Iacocca e outros, mas depois rejeitam-se as práticas de liderança que permitem que estas pessoas tenham sucesso. Não podemos continuar a pregar a eficácia das práticas positivas de liderança enquanto idolatramos as pessoas que gerem pelo terror e pelo medo. Temos que enfrentar a eficácia do terror e do medo e enquadrar a reposta à pergunta “como devo liderar” como uma escolha para a nossa integridade como pessoa e não como uma escolha para o bem da empresa. É porque se for para o bem da empresa, o medo e o terror funcionam melhor do que o optimismo e a alegria.
RG: Mesmo que funcione no curto prazo, como o João disse, a gestão pela intimidação deixa cicatrizes profundas na cultura das organizações que é preciso mostrar.
PL: Porque é que os gestores da lusofonia têm de ler este livro?
JVC: Nalguns casos para olhar para o espelho e mudar. Às vezes precisamos de nos confrontar com o nosso lado sombrio de frente para o rejeitar. Noutros casos para mostrar que manter a nossa honra e a lealdade para com os outros é um sacrifício que vale a pena.
RG: Para lhes confirmar que as dúvidas e dificuldades que enfrentam enquanto gestores são normais e legítimas e para serem excelentes gestores não precisam de ter uma fotografia na capa da revista Time.
JMF: E também porque pode melhorar as técnicas que são largamente divulgadas entre nós. Centradas na eficiência e na repetição. Se quiserem inovar e reinventar o mundo devem refletir sobre alternativas.
PL: O que podemos esperar para o futuro próximo? Para quando novas crónicas sobre a gestão?
RG: Se até os “Contos do Gin Tónico” tiveram uma sequela, penso que temos que começar já a pensar no “Pavor ao Almoço”! Até lá, está mesmo a pedir um blogue, não está?
JMF: Podemos tentar num futuro próximo escrever um livro sobre hedge funds, que ensine o cidadão médio a fazer short naked selling com faturas da EDP. Ou sobre as questões de sustentabilidade, responsabilidade social e outros mitos e lendas.
JVC: Eu estou a escrever um livro sobre influência nas empresas, um projecto da Universidade Europeia e da Universidade de Aarhus na Dinamarca. Este livro explica que negociar é para falhados, que se você quiser atingir os seus objectivos numa empresa tem que aproveitar a estrutura de laços de vassalagem que se esconde por trás do organigrama. Este livro conta várias histórias que não aparecem no “Terror ao Pequeno-Almoço”.
João Vieira da Cunha é professor na Universidade Europeia de Lisboa e professor visitante na Universidade de Ashrus, na Dinamarca. É doutorado em Gestão pela Sloan School of Management do MIT e Mestre em Comportamento Organizacional pelo ISPA. A sua investigação procura descobrir como é que as empresas podem tirar partido da desobediência dos gestores e dos colaboradores. Tem publicado nas principais revistas científicas internacionais na área da gestão e colabora regularmente na imprensa. A sua investigação tem ganho vários prémios internacionais de organizações como a Academy of Management e a System Dynamics Society. Os seus clientes de consultadoria e formação de executivos incluem o Banco de Portugal, o Ministério da Saúde, a Novabase e o Barclays Bank.
José Manuel Fonseca, docente universitário professor na Universidade Europeia e numa universidade na Suécia, tem diversos livros publicados na área da Teoria da Complexidade. É consultor internacional nos domínios da inovação e da Comunicação. Trabalhou como consultor e administrador de empresas em alguns países europeus e em diversos setores da indústria e dos serviços, tendo estado ligado ao projeto do The Lisbon MBA. Atualmente é diretor de vários cursos de executivos na Universidade Europeia da Laureate International Universities. É doutorado em Gestão pela Universidade de Hertfordshire.
Rui Grilo, gestor, doutorado em mudança organizacional pela Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, tem vindo a desenvolver a sua carreira entre o setor público e o privado. Foi coordenador adjunto do Plano tecnológico, diretor do portal SAPO.pt e coordenador de projetos web do Grupo PT, onde também pertenceu à direção de estratégia e desenvolvimento de negócios. Anteriormente chefiou o gabinete do Ministério da Presidência e das Finanças e pertenceu aos gabinetes do Primeiro-Ministro e do Secretário de Estado da Juventude. Atualmente exerce funções de diretor para a educação na Microsoft em Portugal.