Em entrevista ao Portal da Liderança, Mário Paixão Lopes, Chairman da ASA, Cabo Verde, referiu que os líderes tendem a falhar ao sucumbirem à "tentação ou tendência gradual para o endeusamento, o que gera arrogância e cria distanciamento".
Portal da Liderança (PL): Quais os principais desafios que enfrenta enquanto Presidente do Conselho de Administração da ASA?
Mário Paixão Lopes (MPL): Cumprir e ultrapassar as metas estabelecidas nos Planos de Negócios da empresa, garantindo a estabilidade e a coesão internas e conferindo maior qualidade aos serviços prestados pela ASA. Estando o negócio da ASA atrelado à atividade dos transportes aéreos e do turismo, duas atividades muito dependentes da flutuação do ambiente económico internacional, cabe ao Presidente do CA uma monitorização cerrada da evolução da situação nas diferentes regiões e países com os quais interage a economia de Cabo Verde e cuidar da qualidade das decisões estratégicas.
PL: Quais os maiores desafios do cluster dos aeronegócios em Cabo Verde?
MPL: Aproveitar e potenciar as vantagens da localização geoestratégica do arquipélago, o que pressupõe provar a sua utilidade e estar entre os melhores; ultrapassar as dificuldades inerentes a um mercado endógeno pequeno, situado na periferia dos grandes mercados (CE e CEDEAO); ter capacidade operacional, isto é, saltar da teoria para a prática; aprender com o sucesso e as boas práticas dos outros, adaptando-os à realidade local; ganhar a aposta do desenvolvimento do capital humano; e criar uma boa base logística e uma cultura de sucesso centrada em resultados.
PL: Que políticas a ASA utiliza para promover o desenvolvimento dos seus quadros de topo?
MPL: As políticas estão plasmadas no Plano Estratégico de Formação. As ações de formação têm passado pela cooperação com instituições internacionais e estrangeiras, nomeadamente o ICAO, IATA, AENA, Embaixada de França, etc. Cerca de uma dezena de Master em Sistemas Aeroportuários já foram formados na Universidade Politécnica de Madrid e três quadros superiores já têm o grau de MBA em Industria Aeroespacial, em Toulouse. Essas ações de formação vão continuar. Programas paralelos de formação em língua inglesa, níveis 4 e 5, têm sido desenvolvidos em Inglaterra e nos Estados Unidos da América, para além de outras especialidades em centros de formação altamente qualificados.
PL: Para si, o que é o fundamental da liderança?
MPL: Dar exemplo, ser credível, ter coragem e transmitir confiança.
PL: Qual foi a situação que o fez aprender mais em termos de liderança e o que aprendeu?
MPL: Gerir um conflito laboral com um grupo corporativo forte, tentando encontrar uma solução que servisse a todos, sem pôr em causa os interesses da empresa nem abdicar dos valores essenciais da organização. Aprendi que por mais complexas e ilegítimas que possam parecer as posições de uns e de outros, não há que fazer juízos de valor precipitados. Vale a pena pôr-se na posição do outro, por mais entrincheirado que esteja, apostar no diálogo, ser claro e transparente e focar-se no essencial. Aprendi mais: havendo conflitos no seio da organização, é imperioso tirar as couraças que a função e a personalidade de cada um emprestam ao caso, conter-se sempre, não perder de vista a “floresta” (organização), velar pela salvaguarda da dignidade de todos e de cada interveniente e liderar a construção de uma solução. Foi o que aconteceu, felizmente, depois de um começo muito atribulado.
PL: Quais são os três principais desafios que confrontarão os líderes empresariais nos próximos 10 anos?
MPL: 1) Motivar as pessoas e conferir um valor ético ao trabalho; 2) Adotar novos modelos de gestão e liderança em mercados abertos, com forte competição e onde as mudanças se processam à “velocidade da luz”; 3) Ter a capacidade de circunscrever a sua ação ao período do contrato de gestão, mas olhando sempre para o longo prazo.
PL: Quais são as três qualidades mais importantes para um líder empresarial nos próximos 10 anos?
MPL: 1) Trabalhar em equipa; 2) Ter visão e transformar objetivos em causas; 3) Gerar empatia.
PL: Onde mais tendem a falhar os líderes empresariais?
MPL: 1) Na tentação ou tendência gradual para o endeusamento, o que gera arrogância e cria distanciamento; 2) Não ouvir o que os outros têm a dizer, distanciar-se do mundo real; 3) Não dar importância à felicidade (bem-estar individual, familiar, social e profissional) na vida dos colaboradores e do impacto que isso tem no sucesso da organização.
PL: Um dia o que é que o mundo vai dizer de si?
MPL: Ele deu o melhor de si; plantou ao redor; cumpriu a sua missão.
Mário Paixão Lopes é Presidente do Conselho de Administração da Empresa Nacional de Aeroportos e Segurança Aérea de Cabo Verde, desde 2001. Entrou para o quadro da ASA em 1981, como Técnico de Telecomunicações Aeronáutica. Formou-se em Havana em Instrumentação e Controlo Automático, tendo feito depois especializações em sistemas de rádio, ajudas à navegação aérea, comunicações de dados e networking. Foi Chefe do Serviço de Rádio Ajudas e Administrador da empresa, antes da sua nomeação para o cargo de PCA da ASA. Foi deputado à Assembleia Nacional entre 1996 e 2001, e vice-Presidente da Assembleia Municipal da Ilha do Sal entre 2008 e 2012. É natural da Cidade de Santa Maria, na Ilha do Sal.