John Paul DeJoria, cofundador da John Paul Mitchell Systems e da Patron Tequila, conta como passou de viver no seu carro a empresário bilionário, partilhando técnicas e conselho. "É preciso dar atenção aos seus primeiros clientes e essa atenção tem que ser verdadeira", diz DeJoria.
Quando começou a John Paul Mitchell Systems nos inícios dos anos 80, vivia no seu carro e andava de porta em porta. Agora estamos aqui neste grande salão em Nova Iorque que utiliza os seus produtos. Como é que chegamos aqui?
John Paul DeJoria (JPJ): Chega-se lá ao acreditar em nós mesmos. Como sabe, quando começámos, tínhamos 700 dólares, era um dia de cada vez, mas acreditávamos que fazíamos o nosso melhor. E seguimos a premissa de que iriamos encontrar muita rejeição. Digo isto vezes sem conta. Estejam preparados para a rejeição. Mesmo que seja muito mau, não deixe que isso o destrua ou o influencie. Continue a ir na direção daquilo que quer fazer, independentemente do que aconteça. Não importa se tem as contas pagas ou não, ou se lhe disserem que não 1000 vezes. Tenha o mesmo entusiasmo na porta número 100 como se fosse a porta número 1. Mas acredite em si. Trata-se de saber que tem um grande serviço ou produto, que irá coloca-lo no negócio das encomendas. Portanto nunca está a vender. Está a tentar colocar o produto ou o serviço nas mãos das pessoas, e como sabe que é bom, elas irão querer encomendar mais uma vez ou dizer a um amigo para encomendar. Esse é o verdadeiro segredo.
Penso que muitas pessoas em vendas, não importa qual o setor, são rejeitadas e continuam a tentar vezes e vezes sem conta. Mas não construíram o que o John construiu. Acha que é devido ao produto?
(JPJ): É uma combinação, em primeiro lugar, do produto. No entanto, pode ter o melhor produto do mundo, mas se não falar às pessoas sobre ele ou fizer com que estas o utilizem, o produto vai ficar num canto. Portanto é uma combinação de uma série de coisas. O produto era excecional. O mesmo com a Patron Tequilas, Paul Mitchell e a John Paul Pet. É um produto excecional. Mas depois, temos que fazer o que aqueles que não são tão bem-sucedidos não querem fazer: tudo o que for necessário. Trabalhar sete dias por semana, de manhã cedo até muito tarde. Muita rejeição estará pelo caminho, mas há que ultrapassar essa rejeição e saber que o que se tem é tão bom que eventualmente irá ultrapassar isso tudo. Eventualmente o seu negócio irá crescer. Penso que as pessoas têm de saber isso. Também têm de saber que não é como ontem. Conseguir um emprego ontem ou 5 ou 6 anos atrás: tem um emprego, pagam-lhe tanto e é responsável por tanto. Isso é pensamento antiquado. É isso que traz as recessões de volta. Agora tem que pensar, se for a pessoa a contratar, em criar dois ou três empregos e pagar-lhes um pouco mais. Mas se as coisas ficarem complicadas nunca terá de as despedir. Nunca. E isso cria um bom país, uma boa classe média americana, onde espera fazer melhor todos os anos, em vez de se preocupar com coisas como menos dinheiro ou se irá ser despedido.
Falando de pessoas… E se eu não tiver um empego? E se eu quiser criar a minha própria empresa? Se quiser criar a minha empresa de licores e você for o meu mentor? Qual é a primeira coisa que me vai dizer para fazer? Porque o John é um mestre de marketing e branding. Qual o seu conselho para alguém que está a criar uma empresa, que vai fazer o salto para o empreendedorismo?
(JPJ): A primeira coisa seria, na sua categoria, fazer o melhor que conseguir. O resultado de levar as pessoas a provarem é conseguir que seja algo que queiram outra vez. Isso é a primeira. A segunda coisa é ter uma história ou entusiasmo por trás, que seja verdadeiro. Fazemos isso na Patron. Por exemplo, tivemos um teste de prova de tequila em 1989 no restaurante Spogos e demos tudo por tudo. Portanto, houve alguma validade, não só com os sabores mas também com aquilo que estava a acontecer. Mas em qualquer produto tem que se conhecer. Isso é o melhor que pode fazer e estar disposto a dizer ao máximo número de pessoas, até que sejam pessoas suficientes a dizer sim. Assim que disserem sim, tem que acrescentar na sua personalidade. Passe por lá e agradeça. Certifique-se que está a correr tudo bem. Muitas pessoas atiram algo para o ar para conseguirem 1000 clientes e onde têm os primeiros 50 ou 100 e não lhes dão atenção. É preciso dar atenção aos seus primeiros clientes e essa atenção tem que ser verdadeira. É mais fácil manter um cliente do que conseguir um novo. E os clientes que mantiver, serão a quem deverá dar uma atenção extra. Estes serão algumas das suas melhores fontes de recomendações, porque gostam de si e irão dizer isso a alguém.
Quais são algumas das suas dicas? Como é que retêm os talentos? Como é que fidelizam os clientes? Quais são algumas das suas técnicas que usam para fazer com que as pessoas continuem a voltar e se sintam especiais?
(JPJ): Ótima pergunta. Em primeiro lugar, sabemos que temos um produto muito bom. No entanto, devemos arranjar um pouco de tempo para ir ao cliente e dizer-lhe como o utilizar e reassegurar-lhe que o produto é bom e mostrar como utilizá-lo, e fomentar assim uma boa experiência num salão de cabeleireiros, levando o cliente a comprar o produto e continuar a usá-lo em casa para que o cabelo fique igual. Desta forma irá estar a preencher uma necessidade do mercado. Claro que existe a necessidade de comprar um ou outro produto. Mas depois, tem que relembrar constantemente de como o utilizar corretamente, o que o tornará diferente. Agora torne isso numa marca. Talvez exista um outro que seja utilizado da mesma forma, mas ninguém lhes disse isso. Estamos em tempos incríveis em que as pessoas estão a utilizar os nossos melhores produtos e não sabiam que os podiam utilizar de outras formas. É através da educação. Há que reforçar constantemente a educação e o porquê de estar certo.
É importante divertir-se nos negócios? Começou com a John Paul Mitchell Systems em Los Angeles nos anos 90, tendo passado o seu tempo em salões de cabeleireiro, e obviamente o negócio da tequila coloca-o constantemente numa situação de festa. É importante divertir-se com o negócio e com o produto?
(JPJ): O empreendedorismo de longo-prazo é gostar do que se faz, com quem quem se faz e para quem se faz. Se não se está a divertir, então está no mundo dos negócios apenas para fazer algum dinheiro. Eu continuo a trabalhar. Trabalho todos os dias, mas gosto do que faço, portanto divirto-me. Tornou-se num estilo de vida. Quando o seu trabalho é trabalho, não é divertido. Quando o seu trabalho é um estilo de vida porque gosta dele, é divertido. Eu anseio por ligar para os salões, anseio por entrar em lugares apenas para agradecer o facto de utilizarem a Paul Mitchell, eu anseio por entrar no salão de cocktails e dizer “Wow, obrigado por ter a Patron no menu”. Falar com pessoas na indústria do hip-hop para lhes dizer “obrigado por cantar sobre a Patron”. Por outras palavras, eu gosto disto, portanto é um bom estilo de vida. Assim, caso o empreendedor crie um estilo de vida a fazer o que gosta e a estar com as pessoas com quem quer lidar, este irá criar um negócio de longo-prazo e irá prosperar, porque irá estar a divertir-se. Todos se querem divertir.
John Paul Jones DeJoria é um empresário bilionário e filantropo americano, sendo conhecido como o cofundador da linha de cuidados capilares Paul Mitchell e da The Patron Spirits Company. Em jovem, DeJoria foi membro de um gang de rua, tendo decidido mudar a sua vida. Após completar o ensino secundário esteve dois anos na marinha dos EUA, depois dos quais teve diversos empregos, desde porteiro a vendedor se seguros. DeJoria entrou no mundo dos cuidados capilares como colaborador dos Redken Laboratories. Em 1980 criou a John Paul Mitchell Systems com o cabeleireiro Paul Mitchell e um empréstimo de 700 dólares. DeJoria detém 70% da The Patron Spirits Company, a marca de tequila ultra-premium do mundo. Detém ainda uma holding na indústria petrolífera africana Madagascar Oil Ltd. DeJoria cofundou a Patrón Spirits Company em 1989 e é sócio fundador da cadeia de discotecas House of Blues.