Numa altura em que os mercados financeiros por todo o globo sofriam as maiores perdas dos últimos tempos, o CEO da Starbucks aconselhou os seus funcionários a serem ainda mais atenciosos com os clientes.
JC Cruz
No final de agosto de 2015 as bolsas de valores sofreram uma derrocada, o que causou preocupação quanto a um desmoronamento económico global, previsto há meses pelos mais pessimistas.
Muitas agências de notícias passaram peças com a mensagem simples de “não entre em pânico”, relembrando que, no passado, os crashes nos mercados tinham recuperado rapidamente, e incentivando os investidores a não reagirem de forma exagerada.
Entre as mensagens veiculadas pelas empresas, uma chamou a atenção dos bloggers. O então CEO da Starbucks, Howard Schultz, enviou um e-mail aos 190 mil trabalhadores e responsáveis de lojas com um conselho: que fossem ainda mais atenciosos e amáveis com os clientes, porque alguns deles estavam a ter uma má semana.
A liderança com compaixão é um tema recorrente nos meus posts sobre liderança. Como já mencionei, não se trata de “ser extra simpático” e bondoso, e que todos gostem de si. Também não se trata de evitar os problemas. É sobre liderar com a consciência da grande responsabilidade que carregamos enquanto líderes, em relação às restantes pessoas, de manter a dignidade e respeito pelos outros. Lideramos pessoas e não organizações, e a nossa missão é servir as pessoas, não um objetivo. Metas organizacionais são importantes, mas as pessoas são a base que torna as metas tão importantes.
A liderança com compaixão é sobre a conexão e a comunidade, bem como cuidar. Faz com que o trabalho seja feito sem sacrificar as pessoas pelo caminho. É sobre conseguir fazer o trabalho elevando os colaboradores ao seu potencial máximo, conseguindo-o de uma forma que gera uma energia tão positiva nos funcionários que estes acabam por realizar grandes tarefas com confiança e alegria.
A mensagem de Howard Schultz é poderosamente compassiva por dois motivos. Ele dá o exemplo na liderança com compaixão, ao passar a mensagem de força moral e resiliência da sua empresa; e ensina os outros a serem compassivos para com quem pode não partilhar dessa confiança em tempos turbulentos. Trata-se de liderança pelo exemplo e de liderança-pelo-passar-a-mensagem. E funciona.
O na altura CEO da companhia americana (Schultz deixou o cargo em junho de 2018) sugere a prática da empatia enquanto retrata a empatia junto dos seus trabalhadores, lembrando-os de como a Starbucks é excelente enquanto empresa, de como é saudável e robusta, e de como vai passar pelos dias difíceis com honra e dignidade.
Há mais uma lição sobre liderança com compaixão que podemos aprender com o e-mail do responsável da multinacional. Haverá sempre os detratores da liderança com compaixão. Apenas uns minutos após o e-mail de Howard Schultz ter sido tornado público, houve quem na blogosfera criticasse os motivos e minimizasse o seu altruísmo. E quem tenha questionado a sua sinceridade.
A liderança com compaixão não é para os fracos de coração; deve suportar os ataques ocasionais dos autointitulados “realistas” e cínicos do mundo dos negócios. Trata-se de simplesmente viver de acordo com os nossos valores mais sinceros e – especialmente na qualidade de líderes – de ensinar os outros a fazerem o mesmo. Não estamos nisto pelos elogios mas sim para levar outros à grandeza.
E não entre em pânico. Lembre-se: “seja amável, porque todos aqueles que encontra estão a lutar uma batalha que desconhece”.
24-12-2018
Fonte: Pulse
JC Cruz é consultor de liderança no Texas, EUA.