Metaverso: a oportunidade de resolver 6 desafios no mundo do trabalho

Metaverso: a oportunidade de resolver 6 desafios no mundo do trabalho
7 minutos de leitura


O metaverso representa o próximo “grande salto” em frente. De acordo com especialistas, promete mudar o modo como socializamos, nos divertimos, aprendemos e fazemos compras. E, claro, vai ter forte influência na forma como trabalhamos.

O metaverso permitirá resolver importantes questões relacionadas com trabalho como o recrutamento, inclusão, integração de novos colaboradores, formação de pessoal e maior envolvimento. Com a previsão de que atinja os 5 triliões de dólares em criação de valor até 2030 (de acordo com o estudo “Value creation in the metaverse”, da McKinsey & Company), o metaverso terá um efeito positivo, inovador ou transformador no trabalho, segundo especialistas do setor.

Apesar dos desafios que coloca a internet 3D partilhada, e em tempo real, são muitas as oportunidades para o metaverso revolucionar o mundo do trabalho. Pode ajudar a enfrentar desafios como a escassez de talento, a aposta em qualificação constante, melhor diversidade, equidade e inclusão, e a implementação de um novo contrato social, refere Valérie Beaulieu, chief sales e marketing officer no Adecco Group, num artigo na Agenda/Fórum Económico Mundial. Para a executiva há seis principais desafios no local de trabalho que o metaverso pode ajudar a lidar com, à medida que se vai misturando em tudo o que fazemos:

1. Repensar a integração de colaboradores
A luta pelo melhor talento na era do trabalho híbrido mostra a necessidade de uma maior conexão, a começar pelo recrutamento. O metaverso pode mudar a forma como as empresas recebem novos funcionários, desde conhecer recrutadores em feiras virtuais de emprego até fazer uma visita de primeiro dia num escritório virtual.

Valérie Beaulieu dá o exemplo de um programa de formação que a sua empresa realizou na Bélgica para condutores de empilhadoras – uma das funções mais escassas no mercado de trabalho – em realidade virtual (RV). Os candidatos à função são colocados num simulador virtual que espelha o armazém físico, permitindo o processo de familiarização com o espaço real sem criar disrupção no mesmo. Os candidatos seguem as aulas teóricas digitais em casa e podem dominar a parte prática com simulações, tornando o processo de aprendizagem mais envolvente, seguro, eficaz e rápido.

2. Aumentar o envolvimento dos funcionários
O metaverso permitirá lidar com um maior afastamento por parte dos funcionários na nova realidade de trabalho híbrido, ao reinventar a forma como colaboram e vivem a cultura da empresa. Um terço dos funcionários que responderam à pesquisa “Global Workforce of the Future 2022” referiu que trabalharia no metaverso (32%), em que mostraram especial interesse a geração Z (46%), os trabalhadores temporários (58%) e cuidadores de terceiros (47%). Isto porque o envolvimento bidimensional no trabalho via videoconferência irá mudar para uma sensação de presença mais envolvente graças a avatares 3D e a outros hologramas no espaço digital, que representam a cultura da empresa e recuperam o bem que sabe ter uma conversa enquanto se bebe um café.

Tarefas e locais de trabalho gamificados também serão uma ferramenta para envolver os trabalhadores mais jovens. A maioria da geração Z (87%) e os millennials (83%) participa em jogos de vídeo pelo menos uma vez por semana, pelo que não terá qualquer problema em se ligar ao novo ambiente e às normas do metaverso.

3. Aprendizagem e desenvolvimento inovadores
Pesquisa do Fórum Económico Mundial indica que mil milhões de pessoas devem passar por uma requalificação até 2030, transformando cada funcionário num aprendiz vitalício. Valérie Beaulieu diz que a marca Akkodis, do Grupo Adecco, executou mais de 2.000 projetos de RV e de realidade aumentada (RA) para a área de indústrias inteligentes.

Ou seja, o metaverso é uma oportunidade de construir um “campo de formação” para a vida real, permitindo práticas/tarefas com riscos ou gastos mínimos. Por exemplo, um engenheiro do setor automóvel pode aprender a fazer a manutenção de um carro elétrico via RV, e os profissionais de vendas podem fazer masterclasses sobre como conduzir um pitch, tudo sem riscos.

4. Reformular o recrutamento
O metaverso não vai mudar apenas a maneira como trabalhamos, vai mudar também a forma como as empresas procuram talento. Os futuros recrutadores podem examinar currículos com base em credenciais de empregadores anteriores verificadas, ou fazer entrevistas em espaços de avaliação projetados para tranquilizar candidatos nervosos. E vão estar a recrutar para várias novas profissões específicas do metaverso – arquiteto de construção, developer de ecossistema e designer de metaverso podem ser algumas das funções que vamos ver anunciadas em sites de emprego virtuais.

5. Abordar a inclusão
Segmentos como as mulheres e minorias querem trabalhar em ambientes híbridos ou totalmente remotos. O metaverso pode permiti-lo sem os forçar a sacrificar a visibilidade no local de trabalho, mas só se os atuais preconceitos não se replicarem nos espaços virtuais.

O desenvolvimento do metaverso baseia-se em dados. Para evitar que se perpetuem preconceitos, Valérie Beaulieu afirma que teremos de ajustar os dados da “vida real” em termos de enviesamento, e garantir que os mundos virtuais proporcionam uma hipótese igual de ter sucesso no espaço de trabalho.

6. Resolver a escassez de talento
A inovação tende a ser acompanhada por disrupção quando se trata de substituir empregos antigos por novos tipos de trabalho. Mas se o metaverso for bem gerido pode ajudar a resolver a escassez de talento, ao transferir algumas tarefas do mundo real para o digital. Os protótipos, por exemplo, podem não ter de ser construídos fisicamente no futuro, basta criar a versão digital (como um comboio virtual para testar a ergonomia do design, a posição dos assentos, realizar tarefas de manutenção à distância, etc.). Estas novas formas de trabalho envolvem aprendizagem digital, ambientes de simulação e assistência de trabalho via RV ou RA. Por exemplo, uma solução da Akkodis aproveita a RA dos óculos HoloLens para melhorar a inspeção de qualidade e a engenharia de fabrico, o que capacita o inspetor e reduz a necessidade de supervisão em tempo real por um engenheiro.

Ainda agora começou
Valérie Beaulieu relembra que existem desafios, como garantir o acesso equitativo às ferramentas necessárias, dado que os aparelhos de realidade virtual, luvas hápticas e outras tecnologias de ponta são caros. Há ainda questões que se prendem com ética, privacidade e dependência digital. Desafios que se torna urgente resolver, dado que a escala e o valor do metaverso vão continuar a crescer.

Não é o espaço ou o lugar que cria a cultura: são as pessoas”, disse Ellyn Shook, diretora de liderança e de recursos humanos na Accenture, durante um debate do Adecco Group sobre “O impacto da escassez de talento no futuro do trabalho”. Ou seja, obtemos o que investimos quando se trata do mundo do trabalho, e o mesmo irá acontecer no metaverso. Este tem o potencial de derrubar barreiras e de unir pessoas de diferentes géneros, etnias, idades, idiomas ou culturas. O metaverso pode se tornar num espaço mais igualitário e inclusivo, e que funcione para todos.

18-10-2023


Portal da Liderança