Para ter sucesso, o líder atual tem de saber lidar com os colaboradores de forma mais próxima. Mesmo que tenha ouvido durante toda a carreira que tem de ignorar as emoções. A comunicação conectiva dá-lhe uma ajuda.
Alan Zimmerman
A maioria dos profissionais, e líderes, foi ensinada a ignorar as suas emoções no trabalho, assim como as emoções dos colegas. Foram ensinados a ser um líder do tipo Archie Bunker – um dos protagonistas da sitcom americana “All in the Family”, em que sempre que alguém se mostrava demasiado emotivo, Archie gritava “Stifle! Stifle!” (algo como “Abafa! Abafa!”). Ou seja: “deixa de ser lamechas”. Se foi treinado para ser assim, deve de ser complicado. Isto porque tudo quanto é pesquisa sobre inteligência emocional afirma que o comportamento do género Archie Bunker não é a maneira de obter o melhor resultado possível no atual mundo de trabalho. O líder tem mais sucesso quando aprende a lidar com as pessoas.
Daniel Goleman, autor do best seller mundial “Inteligência Emocional”, concluiu que as competências pessoais e interpessoais de uma pessoa têm mais peso que o seu quociente de inteligência (QI) quando se trata de determinar quem vai emergir como líder. Aliás, concluiu que não mais que 25% do sucesso de uma pessoa pode ser atribuído ao QI. A pesquisa sobre inteligência emocional diz-nos que as competências de relacionamento são fundamentais, mas não nos diz como agir. Pelo que sugerimos que comece com os seguintes passos.
1. Concentrar-se mais em “nós” e menos no “eu”. Na comunicação conectiva, percebe que não é tudo sobre eu-eu-eu. O líder está ciente de que não há solitários com sucesso. Como dizia alguém, “afirmar que o meu destino não está ligado ao seu destino é como dizer ‘o seu lado do barco está a afundar-se’”.
2. Utilizar formas mais pessoais de comunicação. Os líderes ineficazes escondem-se atrás da comunicação digital, evitando o contacto humano genuíno. Até enviam e-mails a um colega de trabalho sentado a 8 metros de distância, em vez de ir falar com ele cara a cara. Karl Albrecht (1920-2014), fundador da cadeia de supermercados alemã Aldi, afirmou uma vez que “fazer as coisas acontecerem ainda requer a capacidade de fazer com que as pessoas gostem de si, o respeitem, ouçam e queiram ligar-se a si. E quero dizer ligar pessoalmente, não de forma digital. A conexão humana vai sempre, sempre, mas sempre superar a conexão digital como uma capacidade de chegar mais à frente.”
3. Fazer perguntas sobre as experiências da outra pessoa. Interesse-se pelos outros. Quase tudo o que conseguir será o resultado das relações que se formam. Para ser mais específico, todos na sua organização vão trabalhar com um conjunto único de experiências, lições, dons e talentos. Saiba quem são, para que possa não só ligar-se a eles mas também para que possa utilizar essas experiências para atingir os objetivos organizacionais.
Saiba há quanto tempo cada membro da equipa está na organização. Pode obter uma perspectiva histórica a partir dos da velha guarda, e pode ter uma nova perspetiva a partir dos mais recentes. Saiba qual foi a experiência de trabalho mais gratificante que cada um teve. As respostas deles vão dizer o que precisa de fazer para criar um ambiente de trabalho mais positivo.
4. Saber quais são as expectativas da equipa. Saiba o que motiva os seus colaboradores – dinheiro, avançar na carreira, desafios… Estas são expectativas legítimas, mas, enquanto líder, tem de saber quais são se quiser ligar-se a eles. E saiba o que esperam de um líder – tal dar-lhe-á uma ideia do que funciona e não funciona com os seus funcionários.
5. Intensificar a atenção. Quando estiver na presença de outra pessoa, guarde o telemóvel ou desligue-o. Prestar atenção ao aparelho (ou à entrada de e-mails) em vez de à pessoa que está à sua frente é um grande insulto. Preste atenção a cada indivíduo com quem comunica. Observe a cor dos seus olhos quando aperta a mão – estará a estabelecer contacto e a comunicar interesse real.
Ouça como se a sua vida dependesse disso. Não interrompa. Faça uma pausa depois de fazer uma pergunta e após a resposta. Faça outra pergunta relacionada. E não vire de imediato o assunto para si próprio. Tenho o exemplo de um homem que, no final de um seminário de negócios, parecia atrair as mulheres como um íman apesar de não ser o mais atraente. E um executivo perguntou a outro qual era o segredo. O colega respondeu-lhe: “Olha para os olhos dele. Quando alguém fala, nunca deixa de olhar nos olhos dessa pessoa. Ele ouve com muita atenção. E sabe que, mesmo que não seja um charme a conversar, pode ser um grande sucesso como um ouvinte com charme”.
6. Aumentar a empatia. Os líderes eficazes estão cientes de que as outras pessoas podem ver as coisas de forma diferente da deles. E, como líderes, querem saber como as pessoas vêem as coisas e o que sentem. Michael Eisner, quando esteve à frente das empresas da Disney, instituiu uma viagem mensal para os seus executivos, em que eles tinham de sair e trabalhar ao lado de outros funcionários do grupo. Assim, era possível ver, por exemplo, um vice-presidente a trabalhar ao lado de um empregado de lavandaria a dobrar toalhas o dia todo. Esta foi uma ótima maneira de conhecer e aprender com a equipa Disney – bem como de se ligar a eles.
No sentido de aumentar a sua empatia, coloque-se no lugar da outra pessoa e tente ver o mundo a partir do ponto de vista dela. Tente entender as pressões, responsabilidades e o que se exige à outra pessoa. E diga-lhe: “gostava de saber mais” para aumentar a sua empatia.
7. Colocar as necessidades do outro à frente das nossas. Faça-o pelo menos de vez em quando. Seguem-se dois bons exemplos de como se destrói a comunicação conectiva: um executivo de marketing disse que “o trabalho de equipa é muitas pessoas a fazerem o que eu digo”; um responsável de topo afirmou: “sabemos que a comunicação é um problema, mas a empresa não vai discutir o assunto com os funcionários”. Assim, no extremo oposto, descubra como pode ajudar a outra pessoa. E, em seguida, faça algo. E depois faça o follow up e mantenha o contacto.
8. Distribuir quantidades generosas de reconhecimento. Os grandes conectores são grandes reconhecedores. Pode fazê-lo verbalmente. Por exemplo, o treinador de futebol americano Bear Bryant (1913-1983) disse uma vez que “aprendi como manter uma equipa junta... Se algo corre mal, fui eu. Se algo corre mais ou menos bem, então fomos nós. Se algo corre realmente bem, então foste tu. É tudo o que é preciso para levar as pessoas a ganhar jogos”. Também pode reconhecer por escrito, sobretudo se for à mão, que tem muito mais poder que um e-mail. E não é difícil encontrar coisas para reconhecer. Uma vez um professor de psicologia enviou cartas a uma dúzia de conhecidos que escolheu o acaso. Cada carta tinha a mesma mensagem: “Parabéns, deve estar muito orgulhoso.” Os resultados foram fascinantes. Os visados responderam todos com um caloroso “Obrigado”. E relataram promoções, novos netos, novas aquisições para a casa, vitórias no desporto e na escola. Alguns ficaram surpreendidos com o reconhecimento por parte do professor, mas todos sentiram que tinham feito algo digno de louvor. O que se tira deste episódio é: 1)
todos querem reconhecimento; 2) reconhecer os outros é fácil de fazer; e 3) há sempre algo que o líder pode reconhecer.
Ou seja, além de reconhecer que a inteligência emocional é importante, está na altura de a implementar, utilizando a comunicação conectiva. E estas oito técnicas são uma boa ajuda.
25-01-2018
Fonte: Entrepreneur.com
Portal da Liderança
Alan Zimmerman, fundador e CEO da americana Zimmerman Communi-Care Network, é autor e faz seminários focados em “transformar o lado das pessoas nos negócios”.