Trabalhar no estrangeiro: principais diferenças (profissionais e culturais)

Trabalhar no estrangeiro: principais diferenças (profissionais e culturais)
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Noto que, quanto mais a norte da Europa nos posicionamos, mais evidentes são alguns pontos, como existir menos deferência para com o superior hierárquico, valorizando mais o contributo da equipa como um todo na resolução de problemas.

Vasco Salvado de Sousa

Foi-me lançado o desafio para que desse um pouco do meu olhar sobre o mundo profissional fora de Portugal. Começo por isso por uma sucinta apresentação para efeitos de contexto: Vasco Sousa, português, 27 anos e a residir há cinco fora de Portugal, nos Países Baixos. Isto faz com que a maior parte da minha vida profissional tenha sido passada no estrangeiro, tornando difícil a comparação com Portugal ou outros países de cultura semelhante à nossa. Ao mesmo tempo, com o panorama mundial em constante revolução – uma pandemia, guerra e sub-procura de emprego, apenas nesta meia década –, muitas características que se vão revelando podem surgir mais como consequência destes fatores do que propriamente de diferenças culturais. Ainda assim, noto que, quanto mais a norte da Europa nos posicionamos, mais evidentes são estes pontos:
- A liderança é abordada de forma diferente e parece ter menos relevância.
- Existe uma cultura de maior liberdade para opiniões de qualquer parte da cadeia hierárquica.
- Sinto também que existe menos deferência para com o superior hierárquico, valorizando mais o contributo da equipa como um todo na resolução de problemas.

No caso da cultura holandesa – conhecida pela facilidade que as pessoas têm em ser frontais –, observo uma certa “falsa frontalidade”. Ainda que ser direto na mensagem a passar seja visto como uma qualidade, o povo holandês tende a apresentar lacunas no momento de receber o mesmo tipo de feedback. Também levam a pontualidade com muito mais seriedade. Isto inclui não só a hora de entrada, ou de reuniões, mas também a da pausa para almoço e a de saída.

Finalmente, não tanto numa questão profissional – até porque, como já disse, é-me difícil comparar as duas realidades –, denoto algumas diferenças culturais nos holandeses, e que refletem a forma como olham para a sua profissão e o seu equilíbrio com a vertente do lazer/vida social.

Outra diferença que vejo é na comunicação Governo-sociedade, onde são mais organizados. São ainda mais eficientes nos transportes públicos e nas infraestruturas de suporte, apesar do atual grave problema de falta de pessoal. A isto acresce uma maior educação média, o que obviamente acelera a eficiência de todas as transações e comunicações entre setores e também com os estrangeiros, uma vez que a maioria da população fala inglês.

No geral, creio que o estilo de vida é mais liberal e informal nos Países Baixos, mas o que me parece realmente importante é como cada pessoa aceita estas diferenças e tira partido do melhor que cada cultura pode trazer. Penso que a verdadeira liderança se exerce diariamente, na atitude com que encaramos as diferenças, e se reflete nos comportamentos.

16-01-2023

Portal da Liderança


VascoSousa

Vasco Salvado de Sousa, licenciado em Gestão pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE), trabalha como chef de cozinha em restaurantes de fine dining há mais de cinco anos. Recentemente dedica-se também à resolução de questões relacionadas com a sustentabilidade em toda a cadeia alimentar.