O grito Haka versus “O Grito” de Munch

O grito Haka versus “O Grito” de Munch
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Enquanto líderes e gestores de pessoas, tal como os treinadores, devemos cuidar atentamente dos pormenores que levam os nossos colaboradores ao alto desempenho.

Daniel Moura

O grito de guerra Haka, protagonizado pela equipa neozelandesa de rugby, é sempre um momento único de expressão de coesão e de coordenação de equipa. No entanto, no contexto atual de constantes e rápidas mudanças, construir equipas de alto desempenho pode pintar-se com a angústia de “O Grito” de Edvard Munch.

Temas como a guerra de talento e a sua retenção têm impacto direto na construção e estabilização de equipas, e estão na ordem do dia nas empresas. Olhando para o dia a dia das organizações, estarão estas a criar condições para apostar no talento, alavancando o seu capital humano? 

A formação ordenada no rugby (scrum, ou mêlée) é uma das situações de jogo que requer maior atenção por parte dos treinadores em termos de postura corporal, pegas entre jogadores, coordenação, detalhe e rigor. Enquanto líderes e gestores de pessoas, tal como os treinadores, devemos cuidar atentamente dos pormenores que levam os nossos colaboradores ao alto desempenho. Devemos aceitar a disrupção como caminho único para a inovação e melhoria contínua de performance. Confiar e delegar o mais cedo possível. 

Acreditar que no errar está a magia do dia seguinte. Não deixar que o medo de arriscar se pinte como “O Grito” de Munch. Preconizar uma cultura organizacional a partir de comportamentos e atitudes, numa aposta na construção coletiva da personalidade das equipas, cultivando o espírito crítico e autocrítico, interrogando práticas, ensaiando vias alternativas, reinventado novos métodos. Devemos mitigar o risco de não retenção, retirando o melhor de cada um a cada experiência, desenvolvendo os colaboradores enquanto pessoas, apostando mais em soft skills e menos nas competências técnicas e digitais, que são mais facilmente adquiridas através da democratização do conhecimento.

A solução passa por acreditar no capital humano. Passa por apostar na aprendizagem disruptiva, experiencial, inovadora e criativa; por dar acesso a experiências desafiantes para sair da zona de conforto; por procurar oportunidades no campo da experimentação e da prática, testando novas abordagens. Promover conversas criativas como combustível da aprendizagem e da partilha de conhecimento. E, acima de tudo, criar o tempo necessário para reflexão individual e coletiva. Fomentar um clima organizacional assente na ética e respeito, verdade e transparência. Promover mais o feedback em tempo real, em vez da definição de objetivos anuais e da avaliação de desempenho através de ferramentas formais. 

Devemos olhar para cada indivíduo como parte de um todo, respeitando e capitalizando a unicidade e os talentos ímpares de cada profissional em prol das organizações.

15-05-2018


Portal da Liderança


Daniel Moura Small

Daniel Moura foi manager no negócio de financial services da Novabase, onde teve também a seu cargo o programa de desenvolvimento na área de inteligência artificial num grande banco americano.
Licenciado em Engenharia Informática e Computadores pelo ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, chegou à Novabase em 2008, tendo antes passado por consultoras como a Safira, a ROFF e a KPMG, onde geriu e entregou programas nacionais e internacionais em sectores como a banca, seguros, governamental e agricultura.
Amante do desporto e do desenvolvimento pessoal, foi treinador no ciclo olímpico para Pequim 2008, tendo mais tarde criado a sua própria academia de badminton internacional com base em Lisboa.