Ninguém nasce líder ou se autoproclama como tal. A liderança emerge da ação, enquanto capacidade de agregar, de acreditar e mudar.
Nuno Periquito
No livro “As Rosas de Atacama”, Luis Sepúlveda fala dos líderes que nunca o foram. Dos heróis anónimos que, pelo seu comportamento, atitude e compromisso, lideraram e mudaram a vida de muitos.
É comum olhar para o líder como alguém que sabe todas as respostas e que no último segundo do prolongamento consegue encontrar o caminho para a baliza e marcar o providencial golo “Éderiano”. Nada mais errado.
O líder é aquele que consegue ter a visão que a outros falha. Que ajuda os que o rodeiam a realizarem o seu potencial e, sobretudo, que sabe ouvir, decidir e seguir em frente, mesmo no meio de dúvidas e de um mundo de incerteza. A liderança emerge de um crer muito grande que é partilhado e apropriado por outros.
Ao longo de quase 20 anos de carreira trabalhei com líderes que me inspiraram, ajudaram a crescer e que me deram perspetiva e contexto. Porém, os maiores ensinamentos sobre liderança aprendi-os com aqueles que, se autointitulando de líderes ou visionários, no fundo não eram mais que chefes de repartição que gerem as suas equipas como instrumentos, privilegiando a unanimidade de opiniões em vez da diversidade, ou a exclusão em vez da colaboração. Porque, por vezes, o que não queremos ser ou com quem não queremos trabalhar é tão ou mais importante quanto as referências positivas que nos inspiram.
“Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável”. Esta citação, atribuída ao filósofo Séneca, acompanha-me desde os tempos de faculdade e encapsula em si uma das dimensões que mais valorizo no conceito de liderança: a orientação para a ação.
O líder é aquele que tem uma visão, ainda que porventura turva ao início, que consegue pegar numa ideia e criar uma dinâmica em que um conjunto de pessoas, muitas vezes com propósitos e agendas distintos, acreditam e trabalham para a realização de um objetivo comum.
Enquanto fim em si mesmo, a liderança é um exercício fútil. Ninguém nasce líder ou se autoproclama como tal. A liderança emerge da ação, enquanto capacidade de agregar, de acreditar e mudar.
Liderar através do exemplo é uma característica intrínseca, tanto de organizações como de indivíduos. A história está repleta de líderes, e acredito que todos temos o potencial para vir a sê-lo, dependendo das circunstâncias, do contexto ou mesmo da tomada de consciência sobre o que somos e o que queremos alcançar.
Pegando no conceito de liderança e projetando-o além do líder com foco na organização, ganhamos outro vetor de análise.
Na qualidade de marketeer, a minha função passa também por desenvolver e reforçar o posicionamento da organização enquanto líder do espaço onde desenvolve a sua atividade. Também no contexto empresarial a liderança está orientada para a ação, através da demonstração de competências e de ofertas, mas sobretudo na demonstração da forma como superiormente se resolvem desafios propostos pelos clientes.
Numa altura em que, mais do que nunca, líderes são precisos, a palavra liderança banalizou-se, perdendo o seu norte. No entanto, mostra-nos a história que momentos de mudança de paradigma são propícios à emergência de novas ideias que politizam, “energizam” e motivam o aparecimento de novas lideranças. Vamos fazer isso acontecer!
07-02-2017
Nuno Periquito, head of marketing da Celfocus (empresa especializada em telecomunicações que resulta de uma joint venture entre a Novabase e a Vodafone), tem uma larga e consolidada experiência em marketing tecnológico, em contextos B2B, desenvolvida em empresas tecnológicas portuguesas mas de cariz multinacional como a Altitude Software, a WeDo Technologies, a AnubisNetworks e a Celfocus.
Formado em marketing, tem pós-graduações em Gestão de Marketing e em Prospetiva, Estratégia e Inovação pelo ISEG, bem como Comunicação Estratégica pela Universidade de Toronto.
Tem na sua fiel Zulmira, uma mota Triumph Bonneville, a parceira ideal de viagem pelos caminhos de Portugal e arredores.