Pedro Reis: O tema fiscal é crítico na nossa competitividade

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Pedro Reis: O tema fiscal é crítico na nossa competitividade
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Pedro Reis, Presidente da AICEP e vencedor do Best Leader Awards* 2013, em entrevista ao Portal da Liderança refere que para Portugal, "A exportação, a internacionalização e a captação de investimento é uma agenda fundamental neste momento" mas que "Não nos podemos encostar às limitações da Troika e do Programa de Assistência Financeira, (...) há muito que podemos, devemos e temos de fazer".

Portal da Liderança (PL): Quais as alavancas da sua liderança que lhe permitiram sustentar o sucesso?

PL: Existe investimento estrangeiro em Portugal ou não?

Pedro Reis (PR): Temos tido investimento estrageiro, nomeadamente no investimento de expansão, o que é ainda muito devido ao investimento europeu, para além de outros polos que se começam a afirmar. Acredito que temos caraterísticas especiais e vantagens competitivas. A nossa posição geoestratégica é uma delas, o acesso que damos a África e à América Latina e mesmo à Europa, para empresas chinesas e do médio oriente. A qualidade dos nossos recursos humanos é outra, bem como a qualidade e diversidade dos nossos fornecedores TIER*1 e TIER 2, ao nível dos mais variados clusters, o que dá um grande conforto às multinacionais que cá se instalaram. Também a qualidade das nossas infraestruturas de comunicação e logística e mesmo a qualidade de vida no país. Mas temos de ser francos e olhar para os problemas de frente. Está nas nossas mãos ter mais investimento estrageiro e para tal temos, de uma vez por todas, de realizar uma certa agenda. Essa agenda é conseguir a competitividade e a estabilidade fiscal, é ter uma justiça económica mais célere e debelar de uma vez por todas, os custos de contexto a nível ambiental, de ordenamento do território, de transposição de diretivas europeias ao nível de logísticas e da acessibilidade e ao nível dos custos de energia, nomeadamente para grandes utilizadores de alta e muito alta tensão. Há muito por fazer no país e que está só nas nossas mãos. 


Não nos podemos encostar às limitações da Troika, do Programa de Assistência Financeira e dos limites de diferencial. Há muito que podemos, devemos e temos de fazer.



PL: Imagine que está a negociar com um investidor. Como é que vai conseguir convencê-lo a vir para Portugal se ele não sabe quanto vai pagar de impostos no próximo ano e daqui a dois anos?

PR: Felizmente a equação da negociação não se reduz apenas ao tema fiscal, mas é óbvio que é um tema crítico na nossa competitividade e na nossa proposta de valor, mas também é óbvio que este se desconstrói em várias naturezas, não só na competitividade. Esta tem de ser conseguida à cabeça e a muito curto-prazo, independentemente depois de um phase-out desta carga fiscal. Este é um aspeto em que tem de se jogar com a baixa da taxa de IRC na sua globalidade, incluindo a derrama, e com a ativação de instrumentos de benefícios fiscais. Mas também é preciso estabilidade. A reforma do IRC é um claro caso em que temos de ter um consenso mínimo no país sobre o essencial, porque o que os investidores estão à procura é o payback do seu investimento e é-o a médio-longo prazo. Só é válida uma reforma do IRC se tiver, por exemplo, o apoio e o acordo de um partido socialista. Isso é fundamental. O terceiro aspeto é o da simplificação fiscal. O processo ainda é muito completo. A capitalização das empresas ainda é muito difícil face ao endividamento.

PL:  Porque é que ainda é tão complexo o processo fiscal? 

PR: Acima de tudo, acho que acontece porque somos muito bons em diagnósticos e muito fracos em execução. O processo de simplificação está mais que escalpelizado, mais que pensado e há muitos anos. O que falta em Portugal é vontade, política, determinação e implementação.

PL: Isso não revela um défice de liderança no país?

PR: Revela acima de tudo um défice de foco no país. Este é um problema nosso, o das responsabilidades, há sempre outros que são responsáveis pelo que nós somos e onde chegámos. Não é só a liderança, falta um foco e uma coordenação do país como um todo no que é essencial e o que é essencial é recuperarmos a economia e não é só com as exportações que vamos lá. Temos de recuperar a nossa economia doméstica e isso faz-se com a internacionalização e com a captação de investimento. Só assim poderemos chegar a mais investimento e à criação de emprego. Isto quer dizer concentrarmo-nos no essencial. Em Inglaterra existe um Better Regulation Office, em que cada medida tomada a nível governamental tem de ser dissecada por esse departamento para ver qual o impacto que gera na competitividade das empresas e na produtividade. O que faz mover a economia e as empresas é uma questão de atitude. O que proponho, como todos os portugueses, é que passemos da fase de planos e anúncios à de execução e resultados. Temos de passar de uma economia regulamentar para uma economia das empresas, para políticas setoriais, para uma política micro, focada no problema das empresas, são elas que vão criar emprego e que um dia vão ajudar Portugal a sair desta situação, pelo que temos de fazer tudo por elas.

PL: Na sua opinião, quais as caraterísticas fundamentais de um líder? 

PL: Qual o papel da liderança no desenvolvimento da inovação empresarial?

PR: Deixo três notas rápidas sobre o tema da inovação e da liderança. Como primeira nota, é óbvio, e vejo isso em todos os casos que acompanhamos de internacionalização na AICEP, que a fidelização final vem da diferenciação e esta vem da inovação. Trata-se de uma equação claríssima.

Uma segunda é que acho que o papel da liderança na promoção da inovação, pelo que vejo, é claramente o de tirar da zona de conforto, ou seja, de desequilibrar permanentemente a organização e, neste momento mais difícil, de tirar do urgente para o importante, e esse é um papel da liderança.

A terceira nota é que os líderes também têm uma responsabilidade perante a organização. Se existe inovação, e isso é algo que não está nos nossos cromossomas, tem de ter consistência. A inovação não pode ser uma moda, mas tem que ser consistente ao longo do tempo, atribuir-lhe uma prioridade estratégica e, obviamente, alocar os recursos equivalentes. 

PL: Que testemunho dá sobre os resultados alcançados até ao momento pela iniciativas de grandes empresas portuguesas de levarem consigo PME nacionais? O que é já possível verificar em termos de resultado?

PR: Em termos de individualismo, vejo excelentes exemplos em Portugal ao nível da internacionalização, no quebrar desse tabu. Na área da saúde temos o Health Cluster Portugal, na área alimentar o Portugal Foods e o Portugal Fresh, na área das tecnologias e do conhecimento a e.xample, em que há parcerias inteligentes para abordar os mercados externos. É indispensável também aí, e onde também vai colidir com as políticas de financiamento, de capitalização e até fiscais, a noção clara de que o tamanho das empresas e dos projetos é uma dimensão crítica na internacionalização e devemos assumir isso.

Quanto às grandes empresas que funcionam como porta-aviões das PME portuguesas, a AICEP tem-se aplicado muito nesse programa. Devo dizer que vejo com muitos bons olhos os resultados conseguidos, não por mérito da AICEP, mas pela visibilidade que ganharam. Isto não se faz por favores, faz-se por racionalidade e as grandes empresas, nomeadamente as portuguesas, têm a perceção e a abertura para receber como parceiros PME portuguesas na sua fileira de valor em Portugal e no exterior. Fizemos isso em articulação com a Portugal Telecom, com a GALP, com a TAP manutenção, com a Nestlé, entre outras, e vamos agora fazer com a Cimpor, em que vêm empresas do Brasil e da Argentina explicar o que precisam de parceiros nesses mercados porque têm gargalos, como dizem os brasileiros, seja na cabeça de obra ou na mão-de-obra, os dois são válidos. Assim, não tenho dúvidas nenhumas de que há resultados muito positivos nessa frente e isso tem a ver com uma maior abertura das empresas portuguesas para arrastarem as nossas PME, mas também acima de tudo, com a competência acrescida que as nossas PME vão ganhando, ou seja, não entram por favor mas por valor. 

PL: Foi o vencedor do Best Leader Awards 2013 na categoria de Líder na Gestão de Empresa Pública. Qual a importância que este prémio teve para si?  

PL: Qual o momento do seu percurso profissional que foi decisivo para chegar onde está hoje?

* O Padrão TIER é um modelo usado para mensurar o nível da infraestrutura de um local destinado ao funcionamento de um centro de processamento de dados (CPD).

*O Best Leader Awards é uma iniciativa promovida pela Leadership Business Consulting, que visa distinguir anualmente as personalidades que se destacaram como “Líderes” em vários domínios. O Best Leader Awards é uma TradeMark registada internacionalmente.

 


Pedro-ReisPedro Reis é licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa, fez formações no PAGE - Programa Avançado de Gestão para Executivos daquela instituição, no francês Insead (AMP - Advanced Management Program) e na americana Harvard Business School (em Strategic Finance). Durante mais de duas décadas foi gestor e consultor de empresas do mobiliário, engenharia, publicidade e comunicação. Tem sido também colaborador regular de vários órgãos de comunicação, na qualidade de colunista ou de comentador residente e é autor do livro "Voltar a Crescer", em que faz um diagnóstico da economia do País com base num estudo realizado junto de 55 empresários e gestores portugueses. Em dezembro de 2011 assumiu a presidência da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, onde tutela os pelouros da Comunicação, Verificação de Incentivos PME e Verificação de Incentivos GE. Assegura ainda a Secretaria Executiva do Conselho Estratégico de Internacionalização da Economia (CEIE) e integra o Conselho Nacional para o Empreendedorismo e Inovação.