José Ferreira Machado: Desenvolvi um estilo que potenciasse as minhas forças e menos as minhas fraquezas

José Ferreira Machado: Desenvolvi um estilo que potenciasse as minhas forças e menos as minhas fraquezas
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José Ferreira Machado, diretor da Nova School of Business and Economics, declara que gosta de desafiar com objetivos ambiciosos e de se rodear de pessoas mais talentosas que o próprio. Responsável pela internacionalização de uma das mais conceituadas escolas portuguesas, vê uma grande oportunidade na transformação do ensino superior numa indústria exportadora.

José Ferreira Machado, diretor da nova School of Business and Economics, é o vencedor do Best Leader Awards*  2014 na categoria de Administração Pública, Institutos e Universidades.

Considera-se hoje um professor ou um gestor?

Considero-me sobretudo um gestor. Estar à cabeça de um projeto tão ambicioso como o da nova SBE é uma ocupação muito absorvente, deixando pouco espaço para mais. Todavia, continuo a dar aulas, mas sempre em tempo roubado às tarefas de gestão.

Quando assumiu cargos de gestão e passou a dar menos aulas, que desafios enfrentou e como os ultrapassou?

Já lá vão quase dez anos, mas, se recordo bem, o maior foi a minha total inexperiência em posições de gestão. Para ultrapassar isso, procurei aprender com os erros, rodear-me de pessoas adequadas que me complementassem, e desenvolver um estilo que potenciasse as minhas forças e pusesse em menos destaque as minhas fraquezas.

Como definiria o seu estilo de liderança?

É muito difícil definirmo-nos, pois não existe um espelho que nos reflita tão profundamente. Isto dito, enfatizaria três pontos: primeiro, na dicotomia líder ou gestor, vejo-me mais como um líder, sem grande paciência (ou vocação) para a administração dos detalhes quotidianos; segundo, no que diz respeito ao estilo, julgo que não errarei se o definir como visionário – no sentido de dar grande ênfase à intenção estratégica da ação, arrojado – gosto de desafiar a organização com objetivos ambiciosos, e otimista – no sentido em que gosto de procurar as oportunidades escondidas nas dificuldades; terceiro, gosto de me rodear de pessoas mais talentosas que eu próprio, definindo-me muitas vezes como um surfista no talento alheio.

De que marcos tem mais orgulho à frente da direção da Nova SBE?

Sou diretor há nove anos e penso que fizemos muitas coisas boas para a escola e também para o país. Destaco, apenas com ordem cronológica, a criação do The Lisbon MBA, a adesão ao CEMS – uma rede de escolas de gestão -, as presenças nos rankings, a internacionalização, as atividades em Angola e Brasil e, agora, o projeto do novo campus. Mas há uma realização que me parece decisiva: o modo como a escola percebeu que o acordo de Bolonha representava um game changer e se adaptou a isso com rapidez, ousadia e visão.

De que forma se assegura de que a Nova School of Business and Economics está em linha com os objetivos que vão sendo estabelecidos

Assegurando que os objetivos são respaldados pelos órgãos de governança (no caso, reitor e Conselho de Faculdade) e, depois, discutindo esses mesmos objetivos com a equipa de gestão, estabelecendo metas e delegando a sua prossecução. 

Que dividendos trouxe a internacionalização?

No mundo de hoje é impossível uma escola ser relevante, mesmo nacionalmente, se não preparar os seus alunos para um mercado global, onde vão ter de concorrer com pessoas oriundas das sete partidas do mundo.

E por que razão foi seguido o caminho da Lusofonia? 

Num mundo plano, é necessário encontrar fatores de diferenciação. Para uma escola em Portugal, a Lusofonia é o mais importante desses fatores. Importa, contudo, distinguir aquilo que eu gosto de chamar a Lusofonia global – amplificadora, aberta ao mundo e concebendo o papel da escola como ponte de e para o mundo que fala português – da Lusofonia paroquial, que é virada para dentro e restringe a internacionalização a relações entre os falantes da mesma língua.

Que lições de liderança gostaria de legar a um sucessor?

Pedindo perdão pela presunção: ser melhor gestor do que eu fui capaz de ser, mas sem perder a ousadia estratégica. 

Muitos dirigentes do ensino superior queixam-se de restrições financeiras. Também as sente?

Todos sentem. Mas foram ultrapassadas desenvolvendo atividades que tornaram a escola cada vez menos dependente do financiamento público.

Quais os grandes desafios que a atual conjuntura coloca aos líderes?

A natureza caleidoscópica das vantagens competitivas das organizações exige grande atenção às oportunidades e ameaças, capacidade de antecipação, rapidez de decisão e capacidade de inovação na ação. 

Em tempos de crise, como se alavanca a motivação e retém talento?

Estabelecendo objetivos ambiciosos, mesmo grandiosos, e procurar que o maior número tenha orgulho no que se procura alcançar.

Quais as grandes dificuldades que o seu setor enfrenta a curto/médio prazo?

O ensino superior público enfrenta dois tipos de dificuldade: uma que resulta da redução da procura (fruto da demografia e da concorrência internacional), outra do conjunto de regras de tipo soviético que tolhem a sua gestão e impedem a inovação.

E oportunidades?

A grande oportunidade é a de transformar o ensino superior numa grande indústria exportadora, aproveitando, designadamente, o grande mercado pan-europeu derivado por Bolonha. 

E Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos?

Como competir no mercado global, ou seja, como produzir bens e serviços que o resto do mundo valorize o suficiente para proporcionar aos portugueses o nível de vida a que aspiram.

Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar ou a eliminar?

Construir o respaldo político necessário para resolver com sucesso a competição no mercado global.

Quais as caraterísticas-chave num bom líder em administração pública, institutos e universidades?

Ser capaz de motivar os colaboradores a excederem-se com um reduzidíssimo leque de incentivos materiais e quando tudo à volta parece conspirar contra eles.

Como as aplica na sua organização?

Estabelecendo objetivos ambiciosos, mesmo grandiosos, e procurar que o maior número tenha orgulho no que se procurar alcançar.

Inovação é uma palavra-chave ou verbo-de-encher?

Acho que é fundamental. Mas a inovação é muito mais que tecnológica, abrangendo aspetos do comportamento das organizações e da sua gestão. 

Qual é a questão que mais coloca a si mesmo enquanto líder?

Em inglês é expressivo: “what next and how?”.

O que costuma ter como resposta?

O “what” é mais importante que o “how”. 

Qual considera ser o erro mais frequente cometido por quem ocupa cargos de liderança?

Não confiar o suficiente para delegar.

 

*O Best Leader Awards distingue anualmente as personalidades que se destacam enquanto líderes em várias áreas. Sob o mote “o reconhecimento dos líderes que inspiram a sociedade”, esta iniciativa levada a cabo pela Leadership Business Consulting, tem como principal critério o impacto positivo que os profissionais têm nas organizações onde trabalham e nas pessoas que lideram. Os nomeados e galardoados são selecionados e avaliados de acordo com um processo que conta com duas comissões, uma de nomeação, dirigida por José Lamego, e outra de avaliação, presidida por Eduardo Catroga. As categorias de atribuição dos prémios são: Líder na Internacionalização; Líder nas Novas Tecnologias; Líder na Administração Pública, Institutos e Universidades; Líder na Gestão de Empresa Pública; Líder Internacional; Líder na Gestão de Empresa Privada.



Entrevista conduzida por Armanda Alexandre (Oje) e por João Madeira (SOL).

 


jose-ferreira-machado-5José Ferreira Machado tem um PhD in Economics pela Universidade de Illinois (EUA) e uma Agregação (Habilitação) em Estatística e Econometria pela Universidade Nova de Lisboa, sendo atualmente diretor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) desde 2005 e da Angola Business School desde 2010. Docente das cadeiras de Econometria, Estatística e Macroeconomia, é membro do Editorial Boards of Empirical Economics and the Portuguese Economic Journal, tendo a sua investigação científica sido divulgada em várias publicações da área onde atua. É ainda consultor do Banco de Portugal desde 1992. Sucessivamente promovido até professor catedrático, subdiretor e diretor da Nova SBE – considerada uma das mais prestigiadas escolas portuguesas –, José Ferreira Machado tem desempenhado um papel de liderança no mundo universitário. À frente da internacionalização da faculdade, viu a presença da escola em vários rankings do Financial Times, na tripla acreditação (AACSB - Association to Advance Collegiate Schools of Business, AMBA - The Association of MBAs, EQUIS - The European Quality Improvement System ), sendo ainda a única instituição nacional com cinco palmas no ranking mundial Eduniversal. Ativo defensor do ensino superior como um setor exportador crítico, o professor transformou a escola, alterando a sua denominação (de FEUNL para Nova SBE); internacionalizou os programas; liderou a adoção do inglês como idioma de trabalho e de ensino; chefiou o processo em curso de construção do novo campus; dirigiu a expansão para Luanda (Angola), Maputo (Moçambique) e São Paulo (Brasil); e conduziu o acordo com a UCP - Universidade Católica Portuguesa que originou o The Lisbon MBA. Redefiniu ainda a visão para a Nova SBE, fazendo da instituição uma escola internacional de referência para o mundo da língua portuguesa. A instituição foi recentemente nomeada uma das melhores universidades com menos de 50 anos de idade, de acordo com o ranking da QS Top 50 Under 50, tornando-a na única escola portuguesa nesta lista.