António Ramalho, Armando de Lima, Bessa, Ferreira Machado, Pais Correia e Paulo Rosado… Sobre Portugal

António Ramalho, Armando de Lima, Bessa, Ferreira Machado, Pais Correia e Paulo Rosado… Sobre Portugal
12 minutos de leitura

Os líderes portugues Armando Zagalo de Lima, António Ramalho, Daniel Bessa, José Ferreira Machado, Luís Pais Correia e Paulo Rosado, cinco deles vencedores dos Best Leader Awards, na semana do Dia de Portugal, fazem uma análise ao País, aos desafios e apontam caminhos a seguir e medidas a tomar para um país com maior crescimento, maior riqueza e prosperidade, económica e social.

António Ramalho, Presidente da Estradas de Portugal

Antonio-Ramalho-PLPortal da Liderança (PL): Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos

António Ramalho (AR): Os desafios são imensos. Após um período de ajustamento rápido que correspondeu a um modelo de sobrevivência, vamos ter de redefinir o nosso papel no espaço europeu. Precisamos de refazer o nosso plano estratégico, redefinir a nossa metodologia de gestão e quantificar objetivos. E deveríamos fazê-lo o quanto antes, para não esquecermos a última década perdida e os sacrifícios deste dramático ajustamento. São lições de uma geração que não deveríamos esquecer tão cedo.

PL: Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar/eliminar?

AR: Esta pergunta não é justa, porque não tem uma resposta sucinta. Mas arrisco uma prioridade. Os portugueses vivem um problema constante de fraca autoestima e uma quase vergonha da nossa proposta de valor. É um problema de motivação, de orgulho nas nossas realizações e de otimismo nas nossas soluções. A mais importante caraterística para a liderança em Portugal terá de ser a capacidade de convocatória. Num país, ao contrário de uma empresa, não se contratam os melhores, convocam-se os que lá vivem. E os portugueses são difíceis de governar... mas são fáceis de conquistar. E, conquistados, são capazes de arriscar o impossível e atingir o improvável. E é disso que precisamos na próxima década, em cada um de nós, em cada empresa, em cada setor, em cada região. A soma desses sucessos fará o nosso país.

Armando Zagalo de Lima, diretor executivo da Xerox Corporation e presidente da Xerox Technology Business

Zagalo-LimaPL: Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos?

Armando Zagalo de Lima (AZL): Os desafios são continuar a tomar as ações necessárias para fazer crescer a economia de forma saudável, o que significa atrair investimento e facilitar o financiamento das PME (pequenas e médias empresas) que, em Portugal, são a essência do tecido empresarial.

PL: Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar/eliminar?

AZL: A estratégia para a “empresa” Portugal não é diferente da que se definiria para qualquer outra empresa em dificuldades. Crescer receitas, diminuir custos e melhorar a rentabilidade. Começou-se por trabalhar na diminuição de custos e no aumento das receitas, através do acréscimo da carga fiscal. Recentemente, tem-se trabalhado na criação de novas receitas, através do aumento de exportações e da atração de novos investimentos para o país. Será importante continuar a trabalhar no aumento da receita fiscal através de políticas que garantam uma distribuição mais justa e equilibrada da carga fiscal, criando incentivos ao pagamento e reduzindo as oportunidades de evasão.

Daniel Bessa, Diretor-Geral da COTEC Portugal

Daniel-Bessa-BLAPL: Como vê o desempenho da liderança política e empresarial em Portugal? Quais os pontos fortes e os a desenvolver?

Daniel Bessa (DB): De acordo com os resultados divulgados pela União Europeia através do seu IUS – Innovation Union Scoreboard, Portugal é um “inovador moderado”, cujos resultados têm vindo a regredir nos últimos anos (depois de uma progressão assinalável nos anos anteriores), sobretudo por causa das dificuldades surgidas na frente financeira (nomeadamente crédito bancário e taxas de juro do crédito bancário, a que acrescem as dificuldades na área das finanças públicas). Os resultados conseguidos no IUS evidenciam também o que consideramos o ponto mais fraco do nosso “sistema de inovação”: uma baixa produtividade, manifestada num desempenho que vai perdendo fulgor à medida que se avança no que poderíamos considerar a “cadeia de valor da inovação”, com o nosso País a desempenhar-se sistematicamente melhor em matéria de condições e de recursos afetos à inovação, do que nos resultados económicos que consegue com essa mesma inovação. Esta falta de produtividade é uma das áreas de maior preocupação e de maior trabalho da COTEC Portugal.

PL: Tendo já desempenhado as funções de Ministro da Economia e sendo especialista em macroeconomia, no seu entender, o que há a fazer para que Portugal retome o crescimento económico e o equilíbrio das contas públicas?

DB: O facto de ter desempenhado as funções de Ministro da Economia (durante um curto período de tempo, já no século passado) não qualificará muito a resposta, nem ajudará muito – a não ser pela oportunidade de tirar algumas lições dos erros cometidos e que será sempre bom não repetir. No que se refere às soluções, continuo a não ver melhor do que cumprir o Programa que, juntamente com os credores institucionais, desenhámos em 2011: austeridade (redução de despesa, mais do que aumento de impostos) para diminuir o défice público (alinhar o que os portugueses pedem ao Estado com aquilo que estão dispostos a pagar por esse mesmo Estado, na formulação feliz do Professor Vítor Gaspar), e reformas estruturais, para potenciar o crescimento económico. Dado que as reformas estruturais têm um efeito incerto sobre o crescimento económico, sobretudo a curto prazo, preconizaria a adoção de medidas ativas de estímulo ao investimento (caso das medidas relativas a lucros reinvestidos, em sede de IRC, ou de medidas particularmente agressivas, tendo em vista a captação de investimento direto estrangeiro).

José Ferreira Machado, diretor da Nova School of Business and Economics

Ferreira-Machado-BLAPL: Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos?

José Ferreira Machado (FM): Como competir no mercado global, ou seja, como produzir bens e serviços que o resto do mundo valorize o suficiente para proporcionar aos portugueses o nível de vida a que aspiram.

PL: Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar ou a eliminar?

FM: Construir o respaldo político necessário para resolver com sucesso a competição no mercado global.


Luís Pais Correia, CEO da Dalkia para a Zona NAMEA e Vice-Presidente executivo do Grupo

Pais-Correia-PLPL: Enquanto português e tendo sido CEO da Dalkia Portugal, como vê o estado atual do país?

Luís Pais Correia (LPC): Com alguma preocupação mas também com grande esperança no futuro. A preocupação resulta do risco de não se aproveitar a presente situação de crise para se gerarem consensos que permitissem a criação de uma plataforma para o futuro: um acordo envolvendo os partidos e os parceiros sociais relevantes para que um conjunto de princípios e políticas pudessem ser definidos para um horizonte a 20 anos em áreas que não deveriam ter componente ideológica (há-as sempre bem sei e o “bem comum” é um conceito demasiado abstrato mas com “boa vontade” seria possível): Justiça, Educação, Defesa, Saúde....Pessoalmente deixava pouca coisa de fora, mas isso é porque não sou político...
Não há nada mais irritante (e que se traduz na prática por desperdício de dinheiros públicos e privados) do que cada vez que muda o governo todas as políticas do governo anterior sejam postas em causa.
Tenho Esperança porque vejo que as novas gerações conseguem ser muito mais realistas do que as que as precederam. São melhor formadas, têm mais informação e abertura de espírito, sólidas bases para, a prazo, termos uma verdadeira meritocracia no nosso país.

PL: Sendo líder a nível internacional e com uma vasta experiência, que medidas acredita serem fundamentais tomar para inverter a situação?

LPC: Acho que o país necessita de uma verdeira Gestão Estratégica, com definição clara de prioridades atuais e futuras. Medidas que podem parecer interessantes no curto prazo podem revelar-se catastróficas no médio prazo.

Exemplos de medidas concretas:

1) Redução dos principais custos de produção, a começar pela Energia. Para um investidor é irrelevante se a Energia que consome for produzida por centrais eólicas, hídricas, ou gás. O que importa é o custo dessa energia. 3 Coisas a fazer: Parar de subsidiar energias alternativas, reduzir os impostos incluídos na fatura elétrica ou de combustível, e apostar na exploração do gás de xisto.

2) Por muito que se diga o contrário, Portugal é um pequeno país periférico e sê-lo-á sempre. Isto implica que todos os aspetos Logísticos são cruciais para manter Portugal no mapa da Europa e o mais possível nas rotas comerciais transcontinentais. Proposta hiper-simples: Não vender a TAP! Por mais “garantias” que um qualquer comprador possa dar de manter Lisboa (e o Porto) como centro estratégico. Já hoje é muito complicado assegurar ligações a partir de Lisboa para qualquer destino não Europeu (neste caso sei bem do que falo) e isso afasta-nos de centros de decisão e reduz a possibilidade que centros de competência se instalem em Portugal. Outras propostas: TGV de mercadorias e passageiros para Madrid a partir de Lisboa obviamente; Portos com tarifas atrativas; aceleração da colaboração com o Porto de Singapura que opera Sines…; Rede 4G em todo o país!

3) Se realmente o Estado quer apoiar as empresas portuguesas, devia começar por pagar a totalidade da sua dívida aos fornecedores (muitas vezes prometido mas nunca realizado) com juros! Crédito à exportação (incluindo necessidades de Fundo de Maneio) para PMEs e start-ups fácil e barato por parte do banco do Estado com base em análises simples do potencial de criação de valor.


Paulo Rosado, CEO e fundador da OutSystems

Paulo-Rosado-PLPL: Portugal – quais considera serem os grandes desafios para os próximos tempos?

Paulo Rosado (PR): Temos graves problemas estruturais, principalmente com o nosso sistema político, mas talvez o maior desafio seja o de mentalidades. Temos de deixar de pensar que quem cria empresas e contrata pessoas é um “capitalista” e pertence ao “patronato”. Quando vejo discursos inflamados nos media sobre estes temas, não consigo perceber de onde vêm estas pessoas e que experiência de vida têm. Num país onde não há emprego, onde não queremos carregar os impostos das pessoas contratando mais para um Estado que ainda tem gorduras, quem afinal cria emprego senão as empresas? Precisamos de proteger quem cria empresas e tem a coragem de arrancar por si, de fazer pela vida, de ajudar a criar emprego sem depender de subsídios do Estado.

PL: Enquanto líder, qual a estratégia a curto prazo que definiria para a “empresa” Portugal? Quais os pontos fracos a trabalhar/eliminar?

PR: Não é fácil. E o trabalho feito por este Governo é espantosamente meritório, com todas as dificuldades que tem tido para o colocar em prática. Infelizmente, as minhas ideias de choque são muito difíceis de implementar na atual conjuntura e a começar no Estado. Para desenvolver a economia, simplificaria drasticamente: 

A lei de trabalho – de modo a que se possa despedir quem é incompetente e mau e contratar pessoas com mais de 40 anos sem medo de se cometer um erro.

O processo de falência.

A aprovação de licenças para empreender. Implementaria um processo que obrigasse todas as empresas a pagar a 30 dias aos seus fornecedores, dando hipóteses às boas empresas de sobreviverem e obrigando as más a falirem. E trabalharia muito na comunicação com os portugueses e em dar o exemplo.

As pessoas estão completamente desiludidas com os dirigentes e com razão. É difícil pedir sacrifícios quando as elites se portam tão mal impunemente.