António Vidigal, Daniel Bessa, Gonçalo Quadros, José Joaquim Oliveira e Peter Villax sobre a inovação em Portugal

António Vidigal, Daniel Bessa, Gonçalo Quadros, José Joaquim Oliveira e Peter Villax sobre a inovação em Portugal
8 minutos de leitura

Antes de ler o que pensam os gestores já referidos, e possa ser influenciado pelo que partilham, convido-o a pensar no que pensa você sobre o estado da inovação em Portugal, o que tem sido feito, o apoio que o Estado português tem dado e o que pensa que seria passível de ser executado e poderia fazer a diferença.

Já pensou? Pode tomar notas e depois partilhá-las com a comunidade no final da página. Podemos continuar? Então…

Sob o mote da apresentação do Painel de Opinião do Barómetro de Inovação da COTEC, reuniram-se esta semana António Vidigal, Diretor da EDP Inovação, Gonçalo Quadros, CEO da Critical Software, José Joaquim Oliveira, Presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal, e Peter Villax, Vice-Presidente da Hovione, que se juntaram a Daniel Bessa, Diretor da COTEC Portugal para darem a sua visão sobre o estado e os desafios da inovação em Portugal.

  • Muitas visões, ideias e desafios foram partilhados pelos gestores, sendo estes unânimes em afirmar que Portugal não tem uma cultura que abrace o risco e que o falhar é mal visto, em vez de ser sinónimo de iniciativa, aprendizagem e persistência.

Gonçalo Quadros referiu que “é preciso arriscar mais, saber e estar disposto a perder e a investir mais”, acrescentando que “um aparte importante da inovação passa pela criação de massa crítica e isso exige algum desperdício”, pelo que “o que está em causa não é a necessidade de uma política de austeridade, mas que política, no que cortar”.

  • Outro ponto de vista comum veiculado foi o da necessidade de apostar num ensino de qualidade a todos os níveis, do básico ao superior.

Peter Villax referiu que “hoje é o conhecimento o fator mais importante para gerar rentabilidade” e que “para isso, precisamos de um ensino público de excelência”, acrescentando que “temos de criar toda uma população ativa de nível mundial” e que “isso é feito através do ensino”. António Vidigal acrescentou mesmo que “é preciso aproximar a universidade à indústria”, tendo partilhado que, neste sentido, a EDP vai avançar brevemente com doutoramentos de empresa.

Gonçalo Quadros vai mais longe nesta preocupação, referindo que “estamos no ensino a correr o risco de nivelar por baixo” e que se “chegou a um limite inimaginável”. Para este “não temos uma boa escola e deveríamos estar muito mais preocupados com isso do que estamos”. Este acrescentou que o que referiu “não significa investir mais, mas fazê-lo melhor e olhar caso a caso”.

Sobre a questão da educação, José Joaquim Oliveira realçou que “nos níveis superiores as universidades formam muito bem” e que “a existência de recursos humanos com qualificações necessárias para necessidades específicas das empresas é muito importante para a atração de empresas e de investimento estrangeiro”.

  • Sobre a necessidade de inovar todos foram peremptórios de que é um facto inegável.

Gonçalo Quadros referiu que “Portugal não tem alternativa. Tem uma economia débil e precisa de acrescentar valor”, pelo que “o ecossistema de inovação é absolutamente essencial”. Para que tal seja feito, entende ser necessário que tenhamos “conhecimento, capacidade de investimento, energia e aceitar o risco”. Vê vários perigos para que tal se torne realidade, nomeadamente: “tem-se cortado na capacidade de produzir ciência com o corte na educação; adia-se hoje o investimento; o espírito negativo e depressivo da sociedade” portuguesa. No entanto, acredita que se têm “dado grandes passos na maneira como se gere o capital de risco em Portugal”.

Já António Vidigal considera que “o país tem dado passos concretos no apoio à inovação” e que “um país como o nosso tem vantagem em apoiar grandes projetos de inovação”. Para o gestor, “na inovação é preciso fazer surf e não se pode perder nenhuma onda”, Acredita que “as redes sociais trazem imensas oportunidades”, sendo o “cloud computing uma delas”.

Peter Villax acredita que “temos uma economia a crescer timidamente, porque os gestores tiveram de se virar para outros mercados” e, na sua opinião, “os gestores existem para levar o mundo para melhor”.

  • Outra ideia partilhada por todos os gestores é a de que a inovação acontece apenas num processo a longo prazo. Peter Villax refere mesmo que “a inovação tem de ser alvo de políticas a muito longo prazo”.
  • Partilharam-se ainda algumas ideias e visões de caminho para um futuro de maior crescimento e inovação em Portugal, bem como alguns pontos de fragilidade a superar.

Daniel Bessa acredita que “só seremos capazes de ter uma continuidade de políticas se tivermos outro tipo de sociedade civil, e de acordo” entre as cores políticas. Este crê que “para ter um road map para o país é preciso muita discussão e definição de prioridades”, acreditando que “há pouco acordo entre os envolvidos”. Este acrescentou mesmo que “é necessário que os decisores políticos debatam entre si e se comprometam num consenso ou cada um fará e lutará pelo que lhes faz mais sentido a cada um, podendo ser todos caminhos contrários”. Para que tal seja possível, avança que “talvez o consenso na inovação possa partir do CNEI”. Daniel Bessa acredita que “as pessoas reagem muito negativamente à instabilidade das decisões”, dando o exemplo de que “ainda ontem se falava nos clusters da inovação e hoje saiu de cena”. Para ele, é fundamental “pormo-nos de acordo”.

Para Gonçalo Quadros, “as empresas portuguesas têm muita dificuldade em dar as mãos. O mesmo acontece relativamente às grandes empresas já instaladas lá fora, quando não dão a mão aos pequenos, o que a Espanha fez muito bem na América Latina”. Segundo crê, “somos um país pequeno e olhamos com desconfiança uns para os outros. Temos medo de expor o benefício que temos com medo que o possamos perder”, o que entende ser uma questão “cultural”. Para este, “necessitamos de massa crítica, de volume”, o que acredita que “é um grande problema na indústria”.

José Joaquim Oliveira acredita que “o papel do Estado deve ser o de produzir estímulos na economia para que a inovação aconteça, mas não mais que isso”. Segundo este, “onde temos falhado é na capacidade para atrair investimento estrangeiro significativo para o país”.

Peter Villax acredita que “é fundamental termos uma política de salários elevados, porque é ela que cria a necessidade no gestor de inovar. Sem ela este não precisa de inovar, bastam-lhe os salários baixos. Estes precisam de inovar para justificar os salários elevados.” Segundo este, “temos de ver quais as vantagens competitivas que temos enquanto portugueses e saber aproveitá-las”. Como diz, “acredito que, se conseguirmos criar condições de investimento e trabalho em Portugal, os talentos portugueses que estão lá fora irão regressar” e que “dentro do mal que é perder dezenas de milhares de licenciados para o estrangeiro, há coisas boas. Estes vão aprender uma cultura de risco que cá deixámos de ter”. Segundo este, “a nossa sociedade decidiu proteger em vez de desafiar”.

Peter Villax acredita que “temos de fazer com que as grandes empresas também tenham patentes”, o que acredita que “passa pela administração”. Segundo este, “a sociedade tem de exigir mais dos gestores, que são uma peça fundamental para sair da crise”.